"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Em posse misto Homem-de-Estado / Cat-Walk-For-Men; pela segunda vez em 15 dias. À atenção de Pacheco Pereira, de onde menos se espera são aquelas que doem mais.
«Na ópera, qual é a sua voz?
Sou barítono.
Que papéis desempenha um barítono?
Depende das peças. Tanto pode ser o vilão… Normalmente não é o galã.
Esse é, geralmente, o tenor. O barítono é o marido traído.
Sim, mas há outros papéis para barítonos: o amigo fiel, o monarca sereno, o adversário terrível.»
Se há coisa que me chateia é ver jornalistas meterem-se em trabalhos para os quais não foram talhados; ou dos quais não sabem a ponta de um corno. E nem sequer se preocuparem em fazer o trabalho bem feito. Lembraram-se e prontes! (com “e” ponto de exclamação). É o caso de uma tal de Mariana Cabral que se mete a falar de Sexo Robótico hoje na Pública.
Como é possível alguém fazer um trabalho sobre “sexo robótico” e nem sequer referir o filme Cherry 2000 de Steve De Jarnatt com Melanie Gtiffith, David Andrews e Ben Johnson? Fala do Blade Runner, um filme de culto e tal. Prontes! Estão a ver como sou uma gaja culta?
E antes tinha passado pelas Fucking Machines mas com medo (?) ou com vergonha (?) ou por censura da redacção não deixa link. E até conhece o Fuckzilla e o Goat Milker e o Drilldo (uma questão de gosto ou preferência?). Mas há muitos mais que a menina não refere. Faz o blogue o Serviço Público: Todas as máquinasaqui(clicar nas imagens) e os trailers com mulheres de carne e osso aqui.
Eu também gostei muito da entrevista a Maria José Morgado e a Saldanha Sanches na Pública de domingo.
Principalmente desta parte: «S. S. – Mas éramos estalinistas. Com alguma crítica, mas aceitávamos o Estaline».
Como é que é aceitar e ser crítico ao mesmo tempo, do personagem em questão? Aceitavam o bigode e o chapéu, mas criticavam os mortos, os perseguidos, os famélicos e os milhões de migrantes forçados. Dois em um.
E dest’outra também: «M. J. M. – (…) A China, depois do Deng Xiaoping, também já não é socialismo (…)». Depois?!? Pressupõe que “antes do” fosse. Temos assim Mao, o carniceiro-mor dos comunismos, ao pé do qual o Estaline era um aprendiz, a passar pelos intervalos da chuva, convenientemente branqueado com a ajuda da menina Anabela Mota Ribeiro que conduz a entrevista.
Fosse um ex-PCP, e levava com o Estaline, o Lenine e o Yagoda, mais a fome na Ucrânia e o Gulag, e ainda a Hungria e a Checoslováquia e o Afeganistão, até ao fim da entrevista. Nunca mais se livrava da cruz. Nunca percebi estas cumplicidades jornalísticas para com os ex-maoistas. E são mais que as mães. E enxameiam de alto a baixo os dois partidos do Bloco Central. E ocupam funções governativas. E encaixaram-se em todas as grandes empresas deste país. Talvez seja por isso mesmo. Mais vale cair em graça que ser engraçado.
Camarada Saldanha; camarada Maria José: cantam bem mas não me alegram. Dito de outra forma: vão dar música a outro, que essa já eu ouço desde pequenino.
Adenda: A parte final da entrevista. «S. S. - Acho que nas pinturas há alguma sensualidade, e num casal tem de haver sensualidade. Mas pinta mal - como toda a gente sabe!». Cá para mim já esteve mais parecida com o Robert Smith…