"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A dita esquerda, envergonhada e subserviente à agenda da direita, quase 50 anos passados ressabiada com o dia 25 de Abril de 1974, não tanto pela perda de privilégios mas mais pela democratização da cousa pública, pelo acesso da "ralé" ao poder de decisão e pela total falta do respeitinho, que era muito bonito, prefere sublinhar o Otelo dos GDUP's, do "poder popular" e das FP's da metralhadora, e deixar cair o homem que pôs fim a quase 50 anos de fascismo, quase tantos quantos os que levamos de democracia, sem sequer 1 - um - 1 minuto de luto nacional declarar pela morte de um dos actores que devolveu a liberdade ao povo português. Num tempo em que os fascistas se assumem com orgulho devíamos todos meditar uns minutos sobre isto, principalmente o PS que se encontra por ora na administração do Estado.
Declaração de princípios: subscrevo na íntegra o manifesto e acho que a dupla Fernando Medina - Manuel Salgado a longo prazo vai ser mais perniciosa para a cidade que a de má memória Krus Abecasis - Tomás Taveira.
Otelo "foi" à Islândia ver a revolução e veio cheio de vontade de meter os Pê Pê Dês e os Cê Dê Ésses, e a grande maioria dos Pê Ésses, agora no Pavilhão Atlântico. E rápido, enquanto ainda é propriedade do Estado. Não lhe disseram foi que os filhos do povo já não vão para a tropa, porque a isso não são obrigados, e que Che Guevara é marca de tabaco e que ¡Ya basta! é editora de música.
Comités populares, de bairro, de fábrica, de lares da terceira idade, de esquina e de café. Do infantário. O que Otelo nos diz é que a crise que o país atravessa proporciona o aparecimento de todo o tipo de loucos salvadores da Pátria.
O tempo de Otelo já passou - praise the Lord! -, mas, como cantava Fausto na Madrugada dos Trapeiros, “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”, e convém não baixar a guarda:
Em Setúbal, nos idos da campanha para as presidenciais de 1976, durante uma noite alguém andou, de pincel na mão, entretido a fechar o E em O e a colocar um apóstrofo à frente do T nas pichagens “Otelo à Presidência” e “Vota Otelo”. Era verdade.
Durante as Presidenciais de 1976 e no tempo em que o pincel tomava conta de tudo o que era parede limpa, de uma noite para o dia Setúbal apareceu pinchada com OTELO por tudo o que era sítio. Na noite seguinte, mais propriamente da noite seguinte para o dia depois, alguém andou pela cidade a colocar um apóstrofo ente o O e o T e a fechar o E em O. Resultado: O’ TOLO.
Parece que vai por aí grande excitação “à direita” por causa da promoção do tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho a coronel. Que o homem é um terrorista-bombista e o coiso e tal costumeiro por aquelas bandas.
A mesma direita que achou absolutamente natural que o actual Presidente da República atribuísse por “serviços excepcionais e relevantes prestados ao País”, previstos no Decreto-Lei 404/82, pensão vitalícia a Abílio Pires e Óscar Cardoso, inspectores adjuntos da PIDE, ao mesmo tempo que recusa uma pensão à viúva de Salgueiro Maia, outro dos operacionais do 25 de Abril.