"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Jorge Roque da Cunha, ex deputado do PSD, presidente no Sindicato dos Médicos, e Ana Rita Cavaco, ex-conselheira nacional de Pedro Passos Coelho, comissária política do PSD na Ordem dos Enfermeiros, nas televisões preocupados com a fuga de profissionais qualificados do Serviço Nacional de Saúde para o estrangeiro, saídos da "zona de conforto", atraídos pelos altos salários que não há no país onde "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer". Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
"Já viu a nova novela da SIC? Em Nazaré, que estreou esta semana, a actriz Liliana Santos é Cláudia, Enfermeira num centro de dia. Na vida real, Liliana reconhece o papel dos Enfermeiros: "Essa dedicação, essa preocupação, essa isenção de horários, porque quem está doente não tem hora para sentir dor". Descubra quem é a Enfermeira da vida de Liliana e não perca Nazaré, todas as noites na SIC, a primeira novela com uma Enfermeira em papel de destaque.". Por e-mail a todos os enfermeiros e no sítio da Ordem.
Feitas as contas, e com o "IVA à taxa legal", os enfermeiros desembolsaram 44 500 mil euros, sem crowdfunding. Quarenta e quatro mil e quinhentos euros por uma enfermeira protagonista de uma telenovela. Depois se houver auditoria à Ordem é a politização da justiça pelo Governo socialista.
"A Ordem dos Enfermeiros (OE) adiantou entretanto que apoia esta greve". Ou, como nos disseram durante 4 anos Pedro Passos Coelho, Luís Montenegro, Teresa Leal Coelho, Duarte Marques, Hugo Soares, Duarte Pacheco e que me perdoem os que ficaram esquecidos, o PSD, o partido que sem respeito por ninguém se entretêm a convocar greves, por interpostas pessoas nos sindicatos [médicos] e nas ordens profissionais, alcandoradas em organizações sindicais, causando prejuízos imensos ao país e à economia e contratempos aos cidadãos cumpridores, que não vivem debaixo do guarda-chuva do Estado e que não se revêm nestas "malabarices" político-partidárias.
Um dos grandes triunfos da direita radical, por via do controlo dos meios de comunicação social e da subserviência à sua agenda ideológica, é toda a gente, onde quer que seja, identificar automaticamente Mário Nogueira com o PCP, e Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, aparecer sempre como uma virgem impoluta e imune à política e aos partidos políticos.
E a comissária política do PSD na Ordem dos Enfermeiros vem mais uma vez à televisão, sem que em rodapé apareça "Conselheira Nacional do PSD", dizer que formamos enfermeiros para exportar, no Portugal onde Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, mandou os enfermeiros emigrar e até fazia gáudio com o sucesso que eram as delegações do NHS em Lisboa, no Ritz, para levarem aviões cheios deles para Inglaterra. Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
Vejamos a diferença de tratamento quando um dirigente sindical, um elemento de uma comissão de trabalhadores, até mesmo um dirigente de uma qualquer colectividade anónima, aparece no foco mediático, a reivindicar, qualquer coisa, por mais banal que seja. A dissecação da sua vida feita pela comunicação social, mesmo para além das funções que temporariamente o projectaram para as rádios e televisões, até inevitável e invariavelmente chegarmos todos ao PCP. É militante do PCP. Se não é militante é pelo menos simpatizante com o cartão de militante escondido na gaveta da mesa de cabeceira. Um irresponsável. Um agitador. Um desestabilizador. Um destruidor de riqueza. Pior que isso, é comunista. Comuna. É pior que ter lepra. Tudo o resto ficou para trás, já não interessa nada, da justeza e legitimidade da reivindicação. Faz tudo parte de um plano. Uma conjura. É comuna. Ponto final.
Vejamos a diferença de tratamento para uma militante do PSD, do Conselho Nacional do PSD, não é uma qualquer borra-botas. E foi eleita nas listas de Passos Coelho. É a bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Só. Ponto final.
Correia de Campos, Ministro da Saúde decidiu avançar com a colocação de relógios de ponto nos hospitais. A ideia ao contrário do que tem sido ventilado não é controlar os horários dos médicos, mas disciplinar os serviços hospitalares.
Até aqui nada de novo. A grande maioria, senão mesmo todas as empresas do sector privado, trabalham nessa base.
Mas os médicos, essa casta superior da sociedade, torce o nariz e, para começar, 19 directores de serviço do Hospital Pedro Hispano de Matosinhos, ameaçam com a demissão caso a medida seja implementada.
De que têm então medo os médicos? Para quem trabalha, é responsável e chega a horas, a medida em nada vai afectar, ou vai?
A este propósito, Pedro Nunes, Bastonário da Ordem:
“Este sistema não vai acrescentar nada ao bom funcionamento dos hospitais. Acabam por ser brinquedos inúteis. Os médicos são contratados não à hora mas para desempenharem um trabalho”.
E não só os médicos. Excluindo os “biscateiros”, toda a gente que trabalha e pica o ponto é paga ao mês. Quanto ao nada acrescentar ao bom funcionamento dos hospitais, duvido. Talvez a partir de agora, quem tem uma consulta marcada para as 8 horas da manhã passe efectivamente a tê-la à hora marcada e não uma ou duas horas depois, como é tradição.
E talvez assim, deixemos definitivamente de ouvir falar em horas extraordinárias que não são pagas. O médico passa a chegar a horas e, por consequência, a sair a horas também. Não tem de ficar uma, duas, ou mais horas no hospital, em serviço extraordinário, para compensar as que não trabalhou, por atraso seu e de mais ninguém.
Teresa Marçal da Ordem dos Enfermeiros:
“A Ordem não tem nada contra este tipo de sistemas”
Mas; o infalível mas,
“O que pretendemos é que os aparelhos sejam flexíveis, para que um profissional não tenha de interromper a meio o seu trabalho para ter de marcar a hora de saída”.
Os aparelhos devem ser flexíveis o suficiente para permitir ao profissional, quando for o caso, dar um salto ao consultório ou à clínica privada, ganhar uns cobres extra (que a vida está má para todos) e, depois voltar e acabar o que tinha começado.