"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quantos deputados da maioria PSD/ CDS "nasceram", ou vieram, ou fizeram o tirocínio depois da formação na jota, ou estão num escritório de advogados? Perguntado de outra maneira, quantos não? "Promiscuidade" é termo da exclusividade do casamento católico e da moral e dos bons costumes matrimoniais cristãos.
O corpo de intervenção da PSP que, na greve geral de Novembro de 2012, suportou, para lá do limite do insuportável, a chuva de pedras frente à Assembleia da República, dito de outra forma, permitiu que a "intifada" começasse e tomasse proporções inimagináveis quando a podia ter "morto" logo à nascença, é o mesmo corpo de intervenção da PSP que enquadra os manifestantes, à moda de Aljubarrota, e os encaminha para um ponto onde, inevitavelmente, o trânsito da auto-estrada seria cortado.
Coisas que não batem certo. Ou se calhar até batem:
O Governo Cavaco Silva/ Passos Coelho/ Paulo Portas já percebeu que não é pelo lado das centrais sindicais [CGTP/ UGT], pelos trabalhadores, sindicalizados ou não, enquadrados em manifestações e eventos organizados pelos sindicatos, que a coisa vai descambar. E também não é pelo lado dos anarkas, anti-sistema, okupas, anti-globalização, outsiders, uma miríade sem apoios ou estruturas de apoio, sem hierarquias institucionalizadas, sem relações de organização entre si [vários grupos]. Fazem mais barulho, mais estrago e ganham mais visibilidade mediática, mas não é por aí. São os idiotas úteis ao Governo PSD/ CDS-PP. Para mostrar serviço, como exemplo e como pressão psicológica sobre os outros, para ganhar a batalha da opinião pública, de pantufas em casa no sofá, ciosa da tranquilidade e da ordem pública.
Ninguém inventa nada de novo.
[Na imagem o Corpo de Fuzileiros da Marinha ocupa a sede nacional da PIDE/DGS, Rua António Maria Cardoso, Lisboa, 26 de Abril de 1974, Alfredo Cunha]
A (re)eleição de Marinho Pinto para bastonário da Ordem dos Advogados é a prova de que nem sempre a opinião pública opina aquilo que convém à opinião privada.
Cenas dos próximos capítulos: os grandes escritórios de advogados, dos pareceres por medida e das avenças milionárias com a administração pública, pagas alegremente com o dinheiro do contribuinte a bem da Nação, vão começar a exigir um numerus clausus apertadíssimo, com médias de Medicina para entrar em Direito e votação para a Ordempor “anos de sócio”, como nos clubes de futebol.
Ainda sou do tempo em que quem não tinha média para entrar em mais lado nenhum ia para Direito, e quem não tinha média para entrar em Direito ia para… Direito numa universidade privada. Do que é que se queixam?
Ouvir ontem no Prós & Contras o ex-bastonário Rogério Alves tratar os colegas “o meu querido” para aqui, “o meu querido” para acoli, e depois a “família dos advogados” para acolá e mais do “respeito pela família dos advogados”, deixou-me com um travo um bocado pró siciliano.
Espírito de família que logo depois se iria revelar na vaia recebida por Marinho Pinto por ter retirado o Tratamento Preferencial aos senhores causídicos. Nos transportes públicos, nos lugares da frente reservados a grávidas, deficientes e idosos, deviam também poder sentar-se os advogados. Com prioridade sobre todos os outros.
Como as notícias continuam a chegar cá um dia depois, já toda a gente se esqueceu das palavras de Marinho Pinto e, “convenientemente”, ficamos sempre com a sensação de que estas coisas só acontecem lá fora. Principalmente em Itália, a terra dos mafiosos…
Curiosa esta associação italiano / mafioso no imaginário popular. Parece uma casa sem espelhos; Hollywood a mais e portugalidade a menos.
(Imagem via Instituto Nazionale per la Grafiac, Roma – Itália)
Toda a universidade que se preze, principalmente as privadas que floresceram como cogumelos nos pinhais de Alcácer do Sal, tem o seu cursito de Direito. Tudo o que é candidato a universitário, e que não teve cabimento pela média das notas na universidade do Estado, vai “tirar” Direito numa privada. Fale-se com alguém na casa dos 30 anos, ou dos trinta para cima, que resolveu voltar à escola, e Direito é o curso escolhido. Carvalho da Silva deve ser a excepção. Resultado: estamos em vias de nos transformar de um Estado de Direito, num Estado de formados em Direito.
É à luz deste fenómeno – dos formados em Direito – que deve ser vista a aparentemente “boa-ideia” da Ordem dos Advogados, em colocar um dos seus, 24 horas por dia nas esquadras. Sempre são mais cerca de 2600 novos postos de trabalho.
Leia-se o que vem hoje no SMS, aquela secção do Diário de Notícias em que os leitores enviam mensagens por telemóvel. Assinada por José Augusto Simões de Oeiras:
«Além de um advogado em cada esquadra, vamos colocar um licenciado em Finanças em cada repartição de Finanças, para defesa dos contribuintes. Desta forma ajudaremos a acabar com o desemprego de jovens licenciados sem saída profissional. À custa do contribuinte, claro.»