"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O Governo da Câmara ou a Câmara do Governo [isto sim, uma linha circular], que quer tirar os carros da baixa de Lisboa, para aumentar a qualidade de vida aos turistas e ao alojamento local, na baixa da cidade do comércio indiano e paquistanês de souvenirs, porque ninguém lá mora, ninguém tem posses para lá morar, cada vez menos gente lá trabalha, ninguém lá vai, e até fogem disso por causa das confusões e do gamanço, oficial e à paisana, é o mesmo Governo da Câmara ou a Câmara do Governo que, depois de ter feito uma verdadeira reforma estrutural com a redução do preço dos passes sociais, quer continuar a meter carros em Lisboa e para isso inventa um erro chamado "linha circular" ao invés de prolongar o metro até Loures, que é onde vive gente de carne e osso que inunda a capital todos os dias, alguns "corridos" da cidade para a periferia pela especulação imobiliária, numa medida desgarrada, só ao gosto da Câmara do Governo, e ignorando todas as outras câmaras da área metropolitana, sem planeamento, sem se sentar à mesa, sem discutir a rede de transportes públicos e urbanos como um todo.
Não há dinheiro para nada, nem para a saúde, nem para a educação, nem para pensões e reformas, nem para aumentar apoios sociais, nem para diminuir a idade da reforma, nem para o investimento público.
"Instituição pode receber uma verba superior ao previsto no OE 2020" mas devemos todos ficar muito contentes e até aplaudir de pé já "que permite concluir limpeza do banco abaixo do valor máximo de 3,89 mil milhões acordado e muito antes do prazo final". Inimagináveis milhões de euros do contribuinte depois ainda poupámos dinheiro. Viva!
Um dos méritos dos anos de chumbo da troika foi as pessoas terem aprendido a fazer contas, a dar valor às contas certas e a interiorizarem que o dinheiro não estica nem nasce debaixo dos sapatos, a célebre alegoria da manta que tapa a cabeça enquanto destapa os pés e vice-versa. E depois temos a direita e a direita radical no Parlamento, no debate do Orçamento do Estado a prometer baixar impostos, para as pessoas e para as empresas, e a aumentar o investimento público.
Quem tem, ou já teve, filhos pequenos, como sói dizer-se, sabe o que é pagar pelos anos de creche e infantário com se de propinas de universidade privada se tratasse. Isso ou em casa dos avós ou à solta na rua. E quem tenciona ter filhos também o sabe. E se calhar ajuda. A não os ter. E a grande "reforma estrutural" que falta fazer, depois da dos passes sociais, é o acesso gratuito a creches e infantários, isto sim um verdadeiro incentivo à natalidade, nada daquelas acções manhosas de propaganda, como os cheques-para-isto e os cheques-para-aquilo ou os abatimentos em sede de IRS.
Onde é que pára o PS de esquerda que levou os anos da troika, que foram os anos do "poucochinho" Tó Zé Seguro, um quase cúmplice, a gritar que a austeridade estava a matar a Europa e a aprofundar o fosso, não só entre o norte e o sul, mas entre os mais ricos e os mais pobres dentro de cada país, enquanto fomentava o racismo e a xenofobia e era a responsável pelo ressurgimento dos fascismos no continente depois da II Guerra?
"Orçamento do Estado só deverá prever um aumento de um por cento para a Administração Interna. Cabrita exige 5% para fazer face às reivindicações sindicais e esvaziar o Movimento Zero."