"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Por sua proposta, enquanto integrante da primeira Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Setúbal como vereadora da Cultura no pós revolução de Abril, o feriado municipal deixou de ser assinalado a 25 de Julho, dia de Santiago, para ser celebrado a 15 de Setembro, dia do nascimento de Manuel Maria Barbosa du Bocage, filho da cidade. Só por isto já tinha valido a pena.
O deputado do CDS / PP, António Pires de Lima, aquele que diz gostar de Sérgio Godinho, e que afirma taxativamente ser a esquerda o maior inimigo da liberdade em Portugal, decidiu exercer um direito que lhe é muito caro, o de mudar e decidir.
E vai daí, decidiu e mudou-se, do Parlamento para Presidência da Unicer.
Aparentemente nada de anormal nesta decisão, não fosse o ardil encontrado para a mudança. António Pires de Lima invocou motivos politico-partidários para suspender o mandato, no que recebeu o apoio da direcção do grupo parlamentar a que pertence.
Se os motivos invocados tivessem sido profissionais, e que na realidade são, a Comissão Parlamentar de Ética não o teria autorizado.
Eis um exemplo esclarecedor de ética e da moral, do paladino da defesa da liberdade de escolha entre o público e o privado…
E continua a ser normal em Portugal, esta promiscuidade politica / negócios.
O deputado pode sempre dar um saltinho ao privado para equilibrar a conta bancária. A empresa pode sempre deitar mão do seu deputado caso alguma lei para o sector esteja na forja. Os partidos têm sempre assegurado o grosso dos financiamentos.
Enquanto um vai tratar da vidinha, no outro extremo do Parlamento, o PCP decidiu suspender o mandato da deputada Odete Santos por 50 dias. Ao contrário do que o PC diz, não foi a deputada que o decidiu; no PC não há espaço para essas veleidades.
O motivo invocado, é permitir ao economista Eugénio Rosa participar nos debates do Orçamento de Estado para 2007.
Isto é um exemplo sintomático de como são constituídas as listas de deputados do PC.
Ao invés de serem colocados em posição elegível os mais capazes, consoante as áreas de especialidade, os lugares são ocupados pelos mais ortodoxos e fiéis à linha dura.
Agora fica definitivamente explicado o “desaparecimento” do economista Octávio Teixeira da bancada parlamentar.
O PC ao abdicar de um reputado especialista em economia, com enorme prestígio no parlamento, e respeitado por todos os partidos de todo o espectro político parlamentar, vê-se em palpos de aranha para discutir um Orçamento de Estado.
È por estas, e outras como estas, que o Parlamento e a imagem do deputado estão cada vez mais desacreditadas na opinião publica.