"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Das obras faraónicas que nunca ninguém viu sair do papel que nunca ninguém viu e com benefícios só para alguns que toda a gente viu, da formação de um técnico camarário por m2 para aeródromo e heliporto na zona centro do país, do preço que foi pago por todos nós, do 'socialismo' que eles gostaram.
No partido com maior circulação de elites dirigentes entre cargos ministeriais e conselhos de gerência e/ ou administração de empresas privadas; no partido de maior circulação de militantes entre a administração do Estado e/ ou empresas públicas e o sector privado; no partido onde o líder, e o seu inner circle, cresceram e engordaram em empresas privadas abrigadas no guarda-sol do Estado e dos fundos comunitários; no partido da promiscuidade entre o Estado e o sector privado, abrimos muito a boca de espanto e fazemos uma grande cara de caso, porque vivíamos todos no mundo da Lua e não percebemos que o ataque cerrado às parcerias público-privadas era manobra de diversão do departamento de agit-prop do partido, concertado com uma comunicação social capturada e acéfala, e mostramos muito receio, fundado receio, por o Governo, que tem em cada gabinete ministerial uma foto emoldurada de Margareth Thatcher, voltar a apostar nas PPP.
Podia ser "custos dispararam na construção da estrada xis", "custos disparam na construção da barragem ípsilon", "custos disparam na construção do hospital não sei onde, e que vai ser gerido pelo privado tal", "custos dispararam na construção de um bairro de habitação social em cascos de rolha", e por aí. Sempre na ordem dos 40 e muitos por cento para cima e em benefício da meia dúzia de sempre.
Desculpem que mal pergunte…mas onde é que está notícia? A não ser que se acrescente um paragrafo final: E os imbecis, que somos, aceitam desde há 35 anos tudo isto com normalidade democrática [o democrático associado a normalidade compõe e fica bonito] e de boca calada.
Sempre aqui defendi o TGV, o aeroporto em Alcochete e a 3.ª travessia do Tejo, mas há um tempo para tudo e, definitivamente, este tempo de ruptura financeira não é tempo para tudo, é tempo para nada. Como diz o povo, “não há dinheiro não há palhaço”. E é um dado mais ou menos aceite (mais para mais do que mais para menos) por toda a gente de bom senso. Com excepção do PS de José Sócrates, e de José Sócrates himself, que tem um medo terrível de não ficar para a história, de não haver um Louis-Michel van Loo que lhe pinte o retrato.
Até aqui tudo bem. O problema reside na ganância do lucro e na ausência de regulação e fiscalização pelas entidades competentes, que é como quem diz o Estado. Trocando por miúdos: as grandes construtoras ganham a adjudicação da obra que depois é executada com recurso a empreitadas, desdobradas em subempreitadas e em subsubempreitdas, e que para serem minimamente rentáveis recorrem a mão de obra estrangeira, por mais barata que a nacional, sem contratos de trabalho, com cargas horárias desumanas, sem regalias sociais, e maior parte das vezes imigração ilegal. E este modus operandi teve um “pai”.
O manifesto “das bruxas”, mais do que ser assinado pelos lugares-cativos-do-regime é essencialmente elaborado por personagens da área da Economia, Finanças e sistema bancário. O manifesto dos "outsiders" é elaborado e assinado por gente de áreas tão diversas e díspares como o são a Economia, Sociologia, Universidade, ensino, História, Psicologia, Sociologia, Engenharia e Geografia.
São duas concepções radicalmente oposta da sociedade. No manifesto dos "outsiders" a sociedade numa perspectiva multidisciplinar, uma visão muito mais abrangente e integrada. Nas “bruxas” o capital continua a comandar comanda a vida.
Ainda faz sentido falar em Esquerda e Direita.
(Imagem de Dorothea Lange via_Museum of Contemporary Photography, Columbia College, Chicago)
Saiu-lhe da boca para fora com a “nobre” intenção de entalar Santana Lopes na corrida a Lisboa, sem sequer lhe passar pela cabeça que, ao usar exactamente o mesmo argumento que o PSD de Dona Manuela usa contra o TGV: quem vai pagar são as gerações futuras, estava era a tramar o camarada e líder do partido e primeiro-ministro, José Sócrates.
“Um bocado triste” é o denominado n.º 2 do PS falar “da boca para fora” sem pensar nas consequências que daí poderão advir. Municiar o “inimigo” é o que é.
(Na imagem Harold Lloyd at Hollywood via Bettman/ Corbis)
Desculpem lá a ingenuidade, mas estes 28 crânios não são aqueles que defendem que a recuperação da economia nacional e a competitividade das empresas portuguesas passa por congelar ou até reduzir salários (que não os próprios)?
Estes 28 crânios não desempenharam quase todos eles funções governativas nos últimos 35 anos; não estiveram quase todos eles à frente do sistema - com toda a carga pejorativa que o termo “sistema” carrega - bancário português; estes 28 crânios não são todos eles responsáveis pelo desgraçado estado em nos encontramos?
Muito mais grave ainda, estes 28 crânios enquanto responsáveis e/ou titulares de cargos, nunca fizeram a ponta de um corno para evitar termos desembocado num beco quase sem saída. Antes pelo contrário, trataram da vidinha e atenderam aos lóbis amigos e amigos do “sistema”.
E é de tratar da vidinha que isto trata.
Isto é para levar a sério? É. Na medida de que isto é um mau sinal para o futuro de José Sócrates e do Governo PS. Na medida em que quando estas "bruxas" do regime, que têm o dom de adivinhar para que lado vão soprar os ventos, se começam a demarcar quer dizer exactamente que já se estão a posicionar para o que aí vem.
Lá diz o povo que quando o barco começa a afundar os primeiros a fugir são os 28, perdão, são os ratos. Verdade verdadinha! E Verdade verdadinha é que está nas mãos do povo tirar “a razão” às bruxas.
Adenda: uma resposta que nunca iremos ter é, se os resultados das europeias tivessem sido diferentes este “manifesto” teria visto a luz do dia?
Resolve nada. A quota até podia ser “zero imigrantes” que ia dar no mesmo.
O problema resolve-se atacando as máfias.
A máfia da imigração ilegal.
A máfia dos empreiteiros e subempreiteiros e sub-subempreiteiros que se auto-denominam de “empresários” e que pagam 100 - quando pagam! - e deviam pagar 200, sem contratos, sem descontos, sem segurança social.
E isto não tem nada a ver com racismo e xenofobia e o raio que os parta. Tem a ver com humanidade e legalidade.
Talvez agora consigam perceber o que Manuela Ferreira Leite quis dizer. A xenofobia e o racismo existem, são reais, mas também têm as costas largas. E a senhora não diz só barbaridades.
(Imagem via Archivo Fotografico Fondo Giovanni Bortolotti)
Mas a crise que lhes bate à porta é a mesma crise que começa também a bater à nossa. E não vai ser como no poema “batem, batem, levemente…”, aqui vai bater com pancadas fortes, dadas com os punhos cerrados. E também está tudo a contar com o ovo no cu da galinha, que para o caso é o cu do Estado, mais a enxurrada de obras públicas que se avizinha. Ele é auto-estradas, pontes, barragens e aeroporto. Tudo boas intenções, e não estou a ser irónico. E atrás das obras públicas vêm as majors da construção civil, que por sua vez se desdobram em empreitadas e sub-empreitadas e sub-sub-empreitadas, numa estratégia de maximização de lucros e minimização de encargos. É a famosa ganância referida por Obama no discurso inaugural e que fez as delícias de alguns - eu incluído - cá deste lado do Atlântico. E no fim desta cadeia toda, mesmo mesmo cá em baixo, estão os desgraçados que lutam pela vidinha. Pela sua e pela da sua família; na maioria dos casos. Arduamente. Uma enxurrada de imigrantes ilegais, que são os que encaixam na perfeição na estratégia de lucro rápido dos tais ganancioso, e que vai aparecer por aí, oriunda dos mais variados cantos do planeta, dalguns que nem lembra ao Diabo. E vêm ganhar o dobro ou o triplo do que ganham no país de origem porque se assim não fosse não valia a pena ser imigrante. Mas vêm também ganhar pela metade do que ganha um trabalhador português. E nós como não somos melhores que eles, os bifes – antes pelo contrário –, só que não o admitimos é publicamente, nem sequer entre a família, nem sequer nas sondagens (que são à porta fechada); mas como em situações de crise e emergência social o falso pudor costuma ir às urtigas, também mais tarde ou mais cedo – assim comecem as obras – vamos andar na rua a reclamar contra os brasileiros e os cabo-verdianos e os ucranianos e os romenos e sei lá quem mais. E depois vamos ver que afinal a Dona Manuela não era xenófoba. E que se calhar isto vai ficar para a história como a única coisa acertada que disse no seu desgraçado consulado.
E o que vai valendo – por enquanto – é que por aqui ninguém passa cartucho àquele sujeito com aspecto de marroquino e com o cérebro um pouco mais pequeno que o do Homer Simpson e que diz que é contra os imigrantes e pela supremacia branca.