In Memoriam
Eu era criança e vi, com estes olhos que a terra há-de comer, como dizem as velhas, o Eduardo Nascimento na televisão ganhar o Festival da Canção a cantar O Vento Mudou, e aprendi a letra mesmo antes de saber ler e escrever, com a simplicidade com que as letras simples são aprendidas, numa altura em que nas papelarias se vendiam papéis impressos com as letras das canções. E uns dias depois, nas conversas que ouvia na rua com os ouvidos de criança, soube que o Eduardo Nascimento, que eu tinha visto na televisão a cantar e depois a falar e na foto do jornal que o pai comprava todos os dias, era preto. O Eduardo Nascimento era preto. E esse longínquo dia de 1967 foi o dia em que o vento mudou para mim.