"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Naomi Klein em No Logo - O Poder das Marcas [em português] já havia demonstrado como os sucessivos cortes orçamentais pela agenda liberal e neo-liberal das administrações norte-americanas obrigaram as universidades a recorrer a subsídios e financiamentos de empresas privadas para sobreviver e, como a consequência da entrada das marcas globais no campus universitário, a adulteração dos currículos e dos cursos, direccionados e orientados consoante a vontade e exigência do pagador, a empresa ou a marca que os subsidia. Como disse uma vez a dona Manuela Ferreira Leite "quem paga é quem manada". Agora, e fazendo honra ao escrito por Marx em 1852 no Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, assistimos à repetição da história em farsa, com os cortes orçamentais, na Europa a austeridade, a obrigarem os municípios aceitar o contributo das empresas privadas por forma a conseguirem manter as estradas minimamente aceitáveis e circuláveis.
Explicado às criancinhas e a outros analfabetos, com um mural do MRPP do "dia 26 de Novembro de 1975".
A transição dos fiéis escudeiros de Mao, o maior genocída da história da humanidade [ao pé dele Pol Pot era um menino escuteiro], para a democracia, directamente, "sem passar pela casa de partida" e sem que na consciência lhes pese a cúmplicidade, sempre prontos a adjectivar todos os que pensam de modo diferente de "socialistas", "estalinistas" [oh ironia!] e, crime grave, de "keynesianos"; os actores políticos em lugares chave da governação, departamentos de Estado e instituições públicas, empresas públicas e empresas privadas, o que realmente importa reter está aqui tudo condensado.
A verdadeira homenagem a fazer no dia 25 de Novembro não é a homenagem a Ramalho Eanes e a Jaime 'Busca! Busca! Ataca! Ataca!' Neves, não. A homenagem a fazer no dia 25 de Novembro é a Arnaldo Matos, o grande educador do neo-liberalismo. Já merecia medalha ou comenda no Dia da Raça.
Um cidadão anónimo, entrevistado pela SIC à porta da AIG na Avenida da Liberdade em Lisboa, após ter feito o resgate das suas poupanças:
«Não quis arriscar, mas vou informar-me se o Estado cobre este género de fundos»
Ora aqui está o espírito neo-liberal em todo o seu esplendor!
Os “burros” descontam para a Segurança Social e se quiserem uma consulta levantam o rabinho cedo da cama e vão para a bicha; se necessitarem duma intervenção cirúrgica vão para a lista de espera que pode levar anos; e andam “ó tio! ó tio!” com a corda na garganta porque não sabem se alguma vez vão usufruir duma reforma, apesar de descontarem uma vida inteira.
Os “espertos” têm seguros de saúde privados e são atendidos e tratados na hora, Planos Poupança Reforma, e se der para o torto, o «Estado cobre». Com o dinheiro que não se sabe se chega para pagar as reformas dos “burros”.
«(…) Por decisão do Governo francês da Frente Popular, presidido pelo escritor, judeu e socialista Léon Blum, foi reconhecido aos trabalhadores, em 1936, um novo direito: o de terem, cada ano, 12 dias de férias pagas.
(…)
Se fosse hoje e um Governo instituísse as primeiras férias pagas, logo viriam todos os economistas do mundo mostrar as suas contas, com cuja exactidão nos quereriam provar que a economia, a concorrência internacional (reduzir direitos para competir com países que não os têm) e as empresas não aguentariam o esforço de pagar 12 dias de férias aos seus trabalhadores. Nesses anos distantes, também os patrões se lhes opuseram, mas o poder político não se deixou confiscar pelo poder económico. E, actualmente como é? Um outro determinismo, agora neo-liberal, substitui o velho e simétrico determinismo marxista. Ao contrário do que quer parecer, este novo determinismo económico é, na sua essência, contrário à liberdade. É um fatalismo que domina a política e paralisa a democracia, anulando as alternativas. Esse determinismo, que também se vê como um finalismo e um historicismo, sobre cuja matéria era preciso aparecer a denúncia de um outro Karl Poper, representa uma regressão e uma hostilidade à tradição da liberdade. (…)»
José Manuel dos Santos “A sombra” no caderno Única do Expresso