"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Aqueles que perdem uma noite numa fila à porta de um centro comercial na ganância ânsia de comprar um bilhete para um concerto dos U2 a acontecer daqui por um ano, são exactamente os mesmos que esgotam o mega pic-nic com Tony Carreira no Parque da Bela Vista. Por muito que lhes custe admitir.
- Os cardumes de famílias que passam as tardes de fim-de-semana enfiados nas lojas da cadeia Fábio Lucci em animada desarrumação dos expositores;
- Os magotes de gente que esgotam estádios para assistir a espectáculos do Toni Carreira;
- Os casais que passam os serões colados à televisão a ver as telenovelas da TVI, depois de terem roído as unhas até ao sabugo, presos ao telejornal da RTP1 com os intermináveis relatos de Sandra Felgueiras sobre o caso Madie;
- As bases do PSD que deram a vitória a Luís Filipe Menezes nas directas?
O blogue recebeu convite para a inauguração, amanhã dia 21, da Feira de Sant’iago . Mas não vai. E, vai ponderar seriamente, se este ano visitará sequer o certame. Por duas ordens de razões, não obrigatoriamente por esta ordem:
- É no mínimo ridículo, para não lhe chamar outra coisa, que uma feira subordinada ao tema “Setúbal de Zeca Afonso” e que pretende homenagear um dos maiores vultos da cultura popular portuguesa, tenha como principais atrações musicais dois cantores pimba: Toy e Michael Carreira.
- É de muito mau-gosto e de uma pobreza de ideias de bradar aos céus, uma feira com 400 anos (q-u-a-t-r-o-c-e-n-t-o-s !), que devia ser uma mostra da cultura, do comércio e da indústria de Setúbal – uma montra da cidade -, seja composta por meia-dúzia de carroceis e por mais dúzia e meia de barracas a vender quinquilharia e loiça a esmo.