"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Já tínhamos uma Bíblia da anti-globalização selvagem, pelo capitalismo das marcas e das corporações. Agora temos um Papa anti-globalização selvagem, contra o Governo global das multinacionais. E um Papa com uma Bíblia na mão é outra loiça.
Uma das maiores patranhas que nos têm impingido ultimamente é a de que a globalização serviu para retirar da pobreza milhões de pessoas por esse mundo fora, e, nomeadamente na Índia e na China, entre outros países asiáticos. Nada mais falso.
Em primeiro lugar a globalização serviu para abrir novos mercados ao Mercado e para que as multinacionais e as marcas duplicassem, triplicassem, quadruplicassem, quintuplicassem as mais valias.
Em segundo lugar para que surgisse uma classe de quadros superiores nativos, clones feitos à imagem e semelhança do molde original ocidental.
Em terceiro lugar para que os pobres dos países globalizados subissem de escalão e ficassem ao nível dos pobres nos países ocidentais.
(O que se segue só hoje está on-line, porque fiquei à espera da disponibilização do link no sítio do costume. Não aconteceu)
“Os irresponsáveis transferiram os empregos que a maioria de nós já não queria para outras partes do mundo, onde foi possível manter os baixos preços do que nos apetece comprar.”
O negrito é meu, as palavras são de Rui Ramos na sua crónica de ontem no Público, onde aborda a recente turbulência nos mercados financeiros e bolsistas e a suposta auto-correcção dos mercados.
Mais que uma despudorada manipulação da verdade, isto é o maior insulto que já me foi dado a ler, aos milhares de trabalhadores dos sectores têxtil, confecções, calçado, sector automóvel, cablagens, e um graaande etc. que nos últimos anos, quase diariamente aparecem nos telejornais e fazem as primeiras páginas da imprensa escrita a pedirem por tudo e por mais alguma coisa que a empresa fique. Que lhes continue a assegurar o miserável único meio de subsistência; onde por vezes (a maioria) uma família inteira depende do mesmo empregador.
Os irresponsáveis transferiram os empregos que a maioria de nós queria para outras partes do mundo, onde foi possível manter os baixos preços e aumentar as margens de lucro, porque, infelizmente, há quem tenha salários de miséria ainda mais miseráveis que os nossos.
Continua a ser o mercado a auto-corrigir-se, para o lado do bolso do accionista, mas ainda assim uma correcção; n’est pas monsieurRui Ramos? Naomi Klein explica em No Logo, e duvido que não tenha lido.
(Fica mal a um historiador vestir a pele de Goebbels)