"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Na convocatória para a cercadura ao Parlamento, a páginas tantas, o taberneiro diz "dia 4 às 15 horas" enquanto faz com a mão direita o gesto três dedos e um zero que, em linguagem gestual, todos já vimos no canto do ecrã a tradução, significa "dia 4 às 15 horas" e não o símbolo White Power dos supremacistas brancos e, por coincidência e só por coincidência, também o símbolo do Movimento Zero nas polícias, aqueles senhores e senhoras que nos grupos WhatsApp, Telegram e contas fechadas no Facebook se dedicam a insultar imigrantes e gente de outras cores, para, mais rápidos que a própria sombra, os ditos zeros responderem ao apelo do chefe e gritado presente. Nas televisões, rádios, jornais, que andaram com o senhor ao colo e o engordaram, ninguém deu por nada, mesmo depois de elevados à categoria "Inimigos do Povo". Espectáculo!
Escudado num nariz de palhaço, pergunta um polícia na manif de Faro a quem lhe devia fazer as perguntas, o repórter da SIC Notícias: "se o senhor tivesse um filho deixava-o ir para a PSP por 789 €?". Vinte e um de Janeiro do Ano da Graça de 2020, o dia em que ficámos todos a saber que para ir para a PSP é preciso autorização dos pais.
Onde é que pára o PS de esquerda que levou os anos da troika, que foram os anos do "poucochinho" Tó Zé Seguro, um quase cúmplice, a gritar que a austeridade estava a matar a Europa e a aprofundar o fosso, não só entre o norte e o sul, mas entre os mais ricos e os mais pobres dentro de cada país, enquanto fomentava o racismo e a xenofobia e era a responsável pelo ressurgimento dos fascismos no continente depois da II Guerra?
"Orçamento do Estado só deverá prever um aumento de um por cento para a Administração Interna. Cabrita exige 5% para fazer face às reivindicações sindicais e esvaziar o Movimento Zero."
O movimento que se define como espontâneo, inorgânico, independente de partidos políticos e sindicatos, sem direcção conhecida ou membros filiados identificados, dos que se queixam de nem com gratificados o dinheiro lhes chegar até ao final do mês para pagar as contas e ainda comprar fardas e material de trabalho, aparece uma manif com centenas de t-shirts produzidas e com logo criado e desenhado por profissional, a empunhar faixas todas xpto com dizeres e palavras de ordem impressos "à la partido político", coisa barata ou como se houvesse um poço de petróleo debaixo de uma qualquer esquadra de polícia, enquanto desfila a fazer o símbolo da nova extrema-direita 'amaricana', o polegar em circulo com o indicador, em P de "Power", e a libertar o médio, anelar e mínimo num W de "White", White Power, prontamente adoptado pelos neo-fascistas europeus. Para o que é que serve o Serviço de Informações de Segurança?
Enquanto Telmo Correia descia a escadaria de S. Bento para falar com os manifestantes debaixo de uma assobiadela e de uma vaia monumental, nos Passos Perdidos André Ventura falava para a imprensa com uma t-shirt do Movimento Zero vestida antes de fazer o mesmo trajecto, minutos antes feito pelo deputado do CDS, aplaudido pelos manifestantes e aos gritos de "Ventura! Ventura!", para um mini-comício sobre insegurança e autoridade do Estado a pretexto das perguntas dos jornalistas.