"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A direita sonsa, que pensa em privado o que o taberneiro diz em público e em voz alta, depois do fiasco que foi a manif "em defesa da polícia", percebendo que não pode... err... que não deve defender o indefensável, o faroeste, porque lhe cai a máscara da "respeitabilidade", aproveita-se agora do motorista da Carris para desviar o foco do racismo endémico nas polícias, quando a verdade é que o motorista da Carris, que parece tanto preocupar a direita sonsa, podia ele próprio ter sido abatido pela polícia, à noite, a caminho de casa depois de largar o serviço. Ou é preto ou é brasileiro, é suspeito à partida e é suspeito à chegada. Se não fez qualquer coisa é porque ia fazer outra coisa ainda pior. É dano colateral duas vezes, a primeira como vítima inocente dos motins, a segunda como vítima inocente no aproveitamento político daqueles que contra todas as evidências constroem narrativas a negar a génese dos motins e onde as vítimas são culpadas de serem vítimas.
E o "elogio" do dia foi para a Polícia de Segurança Pública pela boca de Isaltino Morais, presidente da câmara ao lado: "Estou aqui porque também podia ter acontecido no meu concelho". Não é defeito, é feitio. É como o brandy Constantino, "a fama que vem de longe".
[Na imagem a sensibilidade ilustrativa da PSP nas 'redes' iam os actos de vandalismo em alta]
Carlos Moedas a confirmar a suspeita que paira na cabeça das pessoas desde o dia em que sem saber ler nem escrever lhe caiu a câmara de Lisboa no colo. Não faz a porra da ideia do que é governar uma cidade, não tem a mínima sensibilidade para os problemas dos cidadãos. Desconhece completamente os bairros que para além da da zona onde mora e onde vive o seu círculo de amigos. Não sonha nem quer saber o que é sair de casa às 5 da manhã para fazer os trabalhos que os outros não querem fazer, limpar a merda que os outros fazem, e regressar a casa já o telejornal está no ar. Não sabe nem procura saber o que é ser criado à solta no bairro, o dia todo na rua, o gang como única relação de parentalidade. Tudo se resolve à cacetada, com repressão, quando é precisamente essa cacetada e essa repressão que geram os motins e a revolta.
A verdade é que há muito mais bandidos e criminosos por m2 na Linha Sintra/ Cascais, Quinta da Marinha, com mais prejuízo para o Estado e maior dano para o país, que nos bairros do Zambujal, Cova da Moura, ou Bela Vista. Não são é encostados à parede no meio da rua pela brigadas de intervenção rápida.
A masked protester throws a stone amid clashes with police during a march in tribute to Nahel, in the Paris suburb of Nanterre, France, June 28. Reuters/ Sarah Meyssonnier
Quando o imbecil ordena uma carga policial para limpar um protesto pacífico a decorrer na rua que depois atravessou para posar no átrio da igreja de Bíblia na mão, ele que mais que já várias vezes deixou escapar que gostaria de fazer mais que dois mandatos na Casa Branca, já consideraram a hipótese de com este acto querer passar a ideia de que é presidente por direito divino, à imagem das monarquias europeias até à Revolução Francesa?
"Woe to you, oh, earth and sea For the devil sends the beast with wrath Because he knows the time is short Let him who hath understanding reckon The number of the beast for it is a human number Its number is six hundred and sixty six