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Moçambique, Maputo, Avenida dos Acordos de Lusaka
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Moçambique, Maputo, Avenida dos Acordos de Lusaka
Moçambique: Manifestantes cortam acesso à principal fronteira com a África do Sul
A protester reacts near a burning barricade during a "national shutdown" against the election outcome, at Luis Cabral township in Maputo, Mozambique, November 7. Reuters/ Siphiwe Sibeko
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Em 1973 o Expresso referia-se aos movimentos de libertação das colónias como "terroristas"; em 2021 a televisão do militante n.º 1 - SIC Notícias, refere os terroristas islâmicos no norte de Moçambique como "insurgentes".
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Este fim-de-semana foi assim.
Mozambique ~ Bob Dylan
[7" vinyl]
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, frantic [em inglês soa melhor] numa das suas omnipresenças, à saída do edifício da Reitoria da Universidade do Porto para os jornalistas, que lhe apetece partir já para Moçambique mas que não o pode fazer sem ser convidado pelo homólogo moçambicano. O Presidente está doente e ninguém tem coragem de lhe dizer.
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No intervalo do telejornal da catástrofe bíblica que castigou Moçambique passaram anúncios às barritas de chocolate, a pensos higiénicos, indetectáveis com calças justas, a camisas de Vénus de prazer interminável, para ele e para ela, ao carro do ano, a um programa de televisão onde "o prazer não é um luxo", patrocinado por umas massas e esparguetes. A alegria do capitalismo é vivermos em paz a chafurdar na merda dos outros.
[Imagem de autor desconhecido]
Há umas imagens, terríveis, a passar nas televisões onde é possível ver uma equipa de salvamento a resgatar duas mulheres, uma mais velha e outra mais nova, possivelmente mãe e filha, refugiadas mesmo no alto da copa de uma árvore e ainda assim com água pelos joelhos, com três alguidares e meia dúzia de trapos encharcados, possivelmente aquilo a que chamam roupas, possivelmente os únicos bens que conseguiram salvar. As imagens não têm som mas pelo gesticular dá para perceber que a equipa de resgate lhes diz que só vão elas, nada de alguidares nem de trapos, e elas, pela expressão na cara, pela reacção de defesa e pelos movimentos de posse, incrédulas e relutantes em deixar para trás aquilo que lhes resta. Uma merda que qualquer um de nós compra por 50 cêntimos ou 1 € no chinês na esquina da rua e que deitamos no ecoponto por dá cá aquela palha... Miséria.
[Na imagem a população de uma localidade refugiada na bancada de um campo de futebol]
Um exercício simples de fazer: imaginar esta inócua, incolor e indolor, notícia no Avante!, podia ter saído no Público ou no Diário de Notícias, sobre as manobras militares lideradas pelos Estados Unidos em Moçambique ao largo de uma "província onde aldeias remotas estão desde há um ano a ser atacadas por grupos armados que já provocaram 140 mortos", um exercício que "ensaia o combate à pirataria e ao «tráfico ilícito de drogas, de produtos da flora e fauna bravia e de seres humanos»", região onde as "petrolíferas norte-americanas (Andarko e Exxon Mobil) lideram investimentos em curso para extrair gás natural dentro de quatro a cinco anos, a partir dos maiores depósitos submarinos do mundo", se o poder não fosse exercido por um "partido irmão", a prosápia e o desfilar de chavões sobre o imperialismo e o neo-colonialismo e "os assaltantes de gasolineiras do mundo", com os piratas que operam entre as costas de Cabo Delgado e da Somália promovidos a frente de libertação nacional e heróis anti-imperialistas.
[Fidel Castro e Samora Machel na imagem]
A liberalização do eucalipto levada a cabo pelo CDS, pelas mãos de Assunção Cristas em parceira com Pires de Lima, não foi suficiente [7 posts para recapitular, aqui]. Nunca seria suficiente porque a voragem depredadora dos recursos naturais comuns não tem limites. E limites tem o território nacional, que já não é do Minho a Timor. Limites tem o território nacional mesmo valendo tudo, por cima de toda a folha, persistente ou caduca. Mas é mais forte do que ele e lá teve de mandar umas bocas para se armar ao pingarelho. Não foi para Moçambique porque nos territórios ultramarinos encontra a dimensão territorial que lhe falta na Metrópole. Não. Não foi para Moçambique porque, malgrado a desvalorização do factor trabalho levada a cabo pelo Governo que não tem um modelo de baixos salários para o país, nos territórios ultramarinos a mão-de-obre continua a ser muito mais barata e por consequência a mais-valia muito maior. Não foi para Moçambique porque, malgrado a revisão do Código do Trabalho, levada a cabo pelo Governo PSD/ CDS com o aval da UGT, as leis laborais nos territórios ultramarinos são praticamente inexistentes assim como inexistente é o movimento sindical. Não foi para Moçambique porque "existe uma grande apetência por celulose na Índia e noutros mercados asiáticos", mesmo ali ao lado, diminuindo com isto os custos com os transportes. Não. Foi para Moçambique porque foi empurrado para fora de Portugal pelas preocupações ambientalistas e de ordenamento do território. Deixou de investir em Portugal se bem que nunca ninguém tenha feito o deve e o haver das promessas de investimento, do investimento efectivamente concretizado, dos postos de trabalho, directos ou indirectos, criados, comparativamente com as mais-valias arrecadadas, isenções fiscais incluídas.
Palavras para quê? É um industrial português e só usa parlapiet manhoso.
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Um dia depois das palavras da presidente do FMI, Cristine Lagarde, em Maputo "Para que a riqueza seja bem distribuída, há que fortalecer o quadro legal e a governação ligados à gestão dos recursos naturais, bem como a transparência, que gera um maior controlo e responsabilidade" o Governo faz exactamente o contrário e, depois do saque aos salários e pensões, continua em modo "para o infinito e mais além do que o FMI" e legaliza o saque ao meio ambiente e ao património natural comum, enfraquecendo o quadro legal e a governação ligados à gestão dos recursos naturais e fomenta a opacidade como forma de fugir ao controlo e responsabilidade
O Governo que, enquanto jura a pés juntos e com o ar mais sério do mundo, não ter um modelo chinês de baixos salários para o país enquanto os vai baixando, seja pelo aumento da carga fiscal, seja pelo aumento do horário de trabalho, seja pela eliminação de dias de descanso, seja pela baixa do valor a pagar pela hora de trabalho e pela hora de trabalho extra, seja pela caducidade das contratações colectivas, vem agora colocar os recursos naturais e ambientais do país a saque "de Lei", por cima de toda a folha, tal e qual o modelo chinês, dos baixos salários, que o Governo não quer para o país. É fartar vilanagem.
«Governo quer legalizar explorações em conflito com normas de ordenamento
[Imagem de Lauren Carly Shaw]