"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Luís Montenegro, primeiro-ministro sem saber ler nem escrever, que até há coisa de um ano o único contributo para a cousa pública tinha sido desempenhar o papel de "ponto" de Passos Coelho e, como o profissional que fica dentro de uma caixa na boca do palco e dá as dicas aos actores quando se esquecem das falas, profissionalmente dava as dicas pré-acordadas com o primeiro-ministro para este poder discorrer longamente quão boa e maravilhosa era a sua governação, ao invés da oposição que o confrontava com questões incómodas, continua na boca de palco, escondido no guião pré-estabelecido, captado pela lente do fotojornalista da Agência Lusa Manuel de Almeida. Está politicamente morto e ninguém no partido tem coragem de lhe dizer.
Presidente de clube, sob vigilância da UEFA e com as receitas futuras hipotecadas, proibido pelo antecessor de estar presente no seu funeral, faz comunicado a acusar os rivais de não marcarem presença no funeral onde não pode ir, nem de sequer enviarem uma nota de condolências pela morte de quem os considerava inimigos e não adversários, e que passou todo o consulado a instigar o ódio e a fomentar a divisão.
Chefe de partido pejado de malfeitores - de ladrões de igreja a ladrões de malas, passando por acusações de pedofilia, ódio racial, tentativa de homicídio, falsificação de identidade, violência doméstica, e um longo et caetera, aproveita suspeita sobre idoneidade do primeiro-ministro para avançar com moção de censura ao Governo no Parlamento.
Podem parecer coisas diferentes mas são a mesma coisa.
1. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, uma Autoridade Florestal Nacional, há muito reivindicada pelos agentes do sector, com uma estratégia assente nas fileiras florestais, na gestão florestal e na defesa da floresta. Acabou com ela, reduziu as suas estruturas e eliminou a defesa da floresta das preocupações governamentais;
2. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, um Código Florestal aprovado pela Assembleia da República carecendo, unicamente, de regulamentação. Se não concordava com esse instrumento legislativo podia ter promovido a sua revisão, mas não, acabou com ele e as florestas voltaram à legislação de 1903, sim, 1903;
3. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, 608 Planos de Utilização dos Baldios, 241 mil hectares. O que fez? Nem mais um plano, nem mais uma aprovação ou qualquer hectare, e em troca iniciou a privatização dos baldios;
4. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, um processo de combate às pragas e doenças, em especial na fileira do pinho. O que fez? Nada. Em 2015 esta fileira era a que mais preocupação apresentava no que se refere aos incêndios florestais e à rendabilidade da floresta;
5. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, um sentido para o Fundo Florestal Permanente que deixava de ser um saco azul do ministério para assumir opções em cinco áreas prioritárias — sensibilização, prevenção, planeamento e gestão, sustentabilidade e investigação. O que aconteceu? Ninguém passou a saber para onde ia a verba e a quem era entregue;
6. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, uma estrutura jurídica de acompanhamento da gestão florestal que impedia a selvajaria das novas plantações e obrigava à responsabilidade pessoal dos projectistas. O que aconteceu? Revogou esse regime.
7. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, uma obrigação de anúncio público e controle da licitação de material lenhoso. O que aconteceu? O ICNF deixou de cumprir as boas regras de gestão;
8. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, o primeiro interprofissional do universo das florestas — o da cortiça. O que aconteceu? Abandonou-o à sua sorte;
9. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, um regime de apoio às organizações de produtores florestais e às organizações da caça. O que aconteceu? O apoio público deixou de ser conhecido e passou a ser à peça;
10. O governo do PSD/CDS encontrou o Plano Estratégico de Reestruturação e Modernização das Industrias de Primeira Transformação de Madeira. Tal plano tinha como objectivo preparar um programa, para os fundos europeus a partir de 2014, que recuperasse a fileira do pinho. O que aconteceu? Ninguém ouviu mais falar do programa nem este se revelou nos fundos europeus pós-2014;
11. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, o território coberto com Planos Municipais e Planos Distritais de Defesa da Floresta com gabinetes técnicos organizados e planos operacionais. O que aconteceu? Nunca mais houve a coordenação nacional do planeamento e da execução;
12. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, um programa que criava a “Rede de Salvaguarda do Território Florestal”. Só em 2008 e 2009 foram abrangidos 38 concelhos de seis distritos numa área total de 800 mil hectares. Em 2013 onde estava o programa? Tinha desaparecido;
13. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, mais de 278 mil hectares de área integrada em 36 Zonas de Intervenção Florestal. O que aconteceu? No final de 2015 a área verdadeiramente integrada em ZIF’s era menor;
14. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, um Dispositivo Integrado de Prevenção Estrutural (DIPE) que integrava uma Unidade de Coordenação e Planeamento, um Grupo de Analistas e Utilizadores de Fogo, um Grupo de Gestores de Fogo Técnico, o Corpo Nacional de Agentes Florestais e a Estrutura Nacional de Sapadores Florestais. O que fez? Acabou com este dispositivo;
15. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, uma estrutura de 2085 pessoas com responsabilidade na defesa da floresta contra agentes bióticos e abióticos. O que aconteceu? Reduziu a metade e desmobilizou os técnicos com melhor formação;
16. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, 263 equipas de sapadores florestais. A meta determinada anteriormente eram 260 e em 2005 só existiam 166 equipas. O que aconteceu? A renovação do equipamento foi insignificante;
17. A prof. Assunção Cristas encontrou, em 2011, 11 mil km de caminhos florestais beneficiados. O que deixou? Menos de 10%;
18. O governo do PSD/CDS encontrou, em 2011, 630 pontos de água beneficiados. O que deixou em 2015? Menos de metade em bom estado e os restantes a carecerem de intervenção urgente;
19. A prof. Assunção Cristas entrou no governo, em 2011, com uma área ardida de 73.298 hectares. Em 2013 atingiu os 152.690. Nada fez, ficou à espera dos anos seguintes e até rezava pela ajuda divina;
20. O governo do PSD/CDS acabou com os Governos Civis, elementos fundamentais da estruturação de protecção civil e segurança. Deixou o país sem coordenação supramunicipal. E é o que se tem visto...
O CDS de Assunção Cristas, ministra da Liberalização do Eucalipto, do saque à Reserva Agrícola e Ecológica e do Desordenamento do Território; o CDS de Pires de Lima, ministro do Todo o Poder às Celuloses; o CDS vai apresentar uma moção de censura ao Governo "pela falha grave de cumprir a função mais básica do Estado" nos incêndios de Verão e Outono. Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
Cavaco Silva vai arrastando [e atrasando] e, como já tinha todos os cenários estudados, não precisa ouvir o líder do maior partido da oposição e portador de uma solução de Governo. Nem sequer o líder de nenhum partido com assento parlamentar, quanto mais! Primeiro recebe os sindicatos dos patrões, antes de ir em viagem de finalistas à Madeira, que isto foi só a queda de um Governo nada de premente e urgente como o Estatuto dos Açores, por exemplo. Entretanto, o Governo pafioso, demitido, com o patriotismo-filho-da-puta-1640 de Paulo Portas à cabeça, mais os Saraivas industriais e os Casqueiros de Rio Maior, vão badalando e gritando a plenos pulmões até que a voz lhes doa e que o alarme e o alarde seja suficiente para despertar curiosidade nos mercados, enquanto Passos Coelho, o primeiro-ministro que já não é, levanta poeira, muita poeira, e insiste na eleição para primeiro-ministro que não há e, aconselhado por Relvas e Dias Loureiro, tira da manga uma revisão constitucional por medida, que a de Paulo Teixeira Pinto continua escondida na gaveta e a do Observador ainda está em processo de inseminação. E tudo isto tem de ser forte e feio porque daqui a nada há eleições em Espanha e os exemplos educam. E as coisas acabam por seguir o seu curso natural. Tudo está bem quando acaba bem.
Tal como em 2011 a direita prefere sacrificar, mais uma vez, o país e o povo, forçar um resgate, o segundo em quatro anos, que lhe permita terminar o desmantelamento do Estado a ver um Governo maioria de esquerda.