||| A verdadeira face
Os avós deram ao povo ignaro, primeiro a 3.ª e depois a 4.ª classe, facultativa, porque o mito da ruralidade não queria grandes escrituras nem grandes leituras, mulheres no fogão, depois da chegada dos campos a 50% da jorna dos homens para trabalho igual, e além disso o orçamento era curto e os braços das crianças rendiam mais nos campos do que nos bancos das escolas de ardósia nos joelhos.
Os pais deram, a contragosto, os cursos industriais, forçados pelos Alfredos da Silva das indústrias a necessitar de quadros técnicos e especializados, e que não se compadeciam com mãos calejadas e cabeças duras pela ignorância, importadas dos campos para as periferias das cidades, no glorioso Portugal do condicionamento industrial.
Depois veio a revolução e a democracia e a alfabetização e a democratização e massificação da educação, e os filhos dos técnicos das indústrias dos Alfredos da Silva, e netos do homem rural, analfabeto e ileterato da 3.ª classe, ficaram doutores e engenheiros e advogados e médicos e o Diabo a quatro, e começaram a ler e a pensar pela sua própria cabeça e a preocupar-se e a ter opinião [heresia!] e há que pôr as coisas no seu devido lugar. "Manda quem pode, obedece quem deve". Ani Maamim!