"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Por um misto de inépcia, preguiça e ignorância dos jornalistas da praça, continuam sem contraditório as doses maciças de propaganda pelo ministro Pedro Marques e os 20 mil empregos directos e indirectos com o novo aeroporto no Montijo, quando uma busca rápida no Google com "direct and indirect employment Heathrow airport" [repetir subsituindo Heathrow por Charles De Gaulle ou por Rhein-Main Flughafen] mostra, por comparação com as dimensões de cada um e o movimento de passageiros e aviões o empolamento das previsões.
Nos idos dos PIN - Projectos de Potencial Interesse Nacional, o saque à Reserva Ecológica Nacional e à Reserva Agrícola, o saque ao património nacional comum trazia sempre às costas a justificação dos postos de trabalho criados. Qualquer hotelzeco com mais de 3 estrelas, campo de golfe ou resort de luxo, construído onde anteriormente era proibido montar uma tenda de campismo selvagem, vinha sempre com milhares de postos de trabalho, directos ou indirectos, no horizonte. Nunca ninguém se lembrou de os confirmar, dez e mais anos que são passados, o impacto nas economias locais, a criação de riqueza para as populações.
Ontem ouvimos todos Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, anunciar perante uma sala cheia de gente, e ainda mais as televisões e as rádios, a criação de 20 - vinte - 20 mil postos de trabalho com as low cost no Montijo, sem que ninguém na sala esboçasse sequer um sorriso e sem que a comunicação social fizesse perguntas. Vinte mil por uma "pista de skate" na margem sul comparativamente com os mais de 70 mil de Heathrow, um dos maiores aeroportos da Europa e do mundo. Só faltou juntar o indicador e o polegar e proclamar Let's Make Distrito de Setúbal Great Again.