"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pedro Mota Soares, mais ponto menos vírgula, "a senhora deputada está equivocada. Em Portugal não há só dois sectores, o sector público e o sector privado. São três. Também há o sector da economia social, formado pelas IPSS e Misericórdias, que não se dedica ao lucro", é o novo "em Portugal há três estados – o Povo, o Clero e a Nobreza", sendo que o terceiro e maior estado – o povo, constituído pela classe média, funcionários públicos, assalariados vários, pequenos e micro empresários, trabalhadores rurais e trabalhadores a recibo verde, além de um grande contingente de desempregados, marginalizados e sem-abrigo, paga com o dinheiro dos seus impostos para que o clero e a nobreza tratem os excluídos e miseráveis pelas políticas implementadas pelo clero e pela nobreza em nome de uma maior qualidade de vida e de justiça social para o terceiro estado. Houve revoluções que começaram assim.
Uma vez que anda toda a gente preocupada, desde o senhor Aníbal Silva ["O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?"] até ao senhor José da Esquina, com a baixa, e com a baixa da taxa de natalidade em Portugal, a imeeeeensa maioria não foi certamente devido a um aumento do agregado familiar mas antes à diminuição de rendimento disponível - salário consideravelmente mais baixo ou desemprego.
Mais medalhas no peito do governo PSD/ CDS-PP, ou quando não receber abono de família é um bom indicador e uma boa notícia para as famílias.
Enquanto a maralha fala dos suspeitos do costume do Rendimento Social de Inserção, e que são cada vez mais a cada dia que passa, não fala do Rendimento Máximo Garantido pelos mesmos de sempre, cada vez mais os mesmos, e não pensa que não há empregos nem a ganhar o salário mínimo nacional mas há trabalho, com fartura, a troco de esmola. A escravatura nunca havia de ter sido abolida, essa é que é essa.
Naquele jeito peculiar de bajular o poder político, seja qual for o partido no Governo, seja qual seja a sua ideologia, o Diário de Notícias lá continua hoje na sua função de rêmora do ministro da Solidariedade e Segurança Social.
A pergunta aqui deixada ontem a Pedro Mota Soares vale também para João Marcelino: excelentíssimo senhor director, punha o excelentíssimo senhor seu pai, ou a excelentíssima senhora sua mãe, num lar destes, num lar com estas condições?
Tudo ficava muito mais claro se perguntassem ao excelentíssimo senhor ministro, não se o senhor, quando atingisse uma provecta idade, ia para um lar destes, um lar nestas condições [mesmo jurando "pelas alminhas" ou "eu seja ceguinho"], não. Mas se o excelentíssimo senhor ministro punha o excelentíssimo senhor seu pai, ou a excelentíssima senhora sua mãe, num lar destes, num lar com estas condições. A resposta seria reveladora da natureza humana.
Aumentam-se as taxas e os impostos, confisca-se uma parte do salário, liberalizam-se os despedimentos, reduz-se a protecção no desemprego, destrói-se a economia e, por consequência, aumenta o exército de desempregados, que não é de todo indesejado pois vai servir como forma de pressão sobre os que têm emprego, mas que é necessário alimentar para manter a ordem e a paz pública.
E nada disto é novo, e tudo isto já foi inventado. Por volta do ano 70 a. C., era a plebs frumentaria, o exército de 40 000 desempregados do Império Romano que recebia pão gratuitamente do Estado. E veio sempre a aumentar [em 275 d. C. eram já 300 000] até à destruição do Império para a qual deram o seu contributo.
O problema é que a Direita tecnocrata que governa a Europa não estudou História, uma disciplina menor, estudou Economia e mal, só vê números à frente dos olhos, e no imediato.