"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Entrar numa discussão sobre de que lado deve estar a fronteira em Olivença é fazer cumprir a função do CDS no Governo, haver um palerma que diz umas merdas para desviar atenções daquilo que realmente interessa, a governação do país.
Nos idos do fascismo estava fundeada entre os rios Sado e Tejo uma fragata da Marinha - D. Fernando e Glória, onde eram enfiados os órfãos e outros gandins menores avulso, apanhados nas ruas na mendigagem e pequenos delitos, a maioria dos quais para matar a fome. "Para aprenderem a ser homens". "Os meninos da fragata". Cresci a ouvir a avó Ilda dizer "portas-te mal, vais para a fragata", e já não havia fragata nesse tempo. Nos 50 anos do 25 de Abril esta ideia recuperada pelo partido que mais fascistas acolheu no pós revolução - CDS, e sublinhada pelo partido que herdou a estrutura da União Nacional e que mais quadros e militantes de base dá ao Chega, um pormenor que diz muito da "evolução" da direita, alegadamente democrática.
Numa operação que chegou a bom termo sem fugas de informação para a primeira página do sítio do costume nem com jornalistas na porta dos investigados à espera da chegada da Judiciária, o ministro da Defesa optou por dar conta das diligências em curso à ONU, ignorando a hierarquia, deixando na total ignorância o Comandante Supremo das Forças Armadas, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que aparece todos os dias a todas as horas em todos os telejornais, mais vezes que o pivot que o apresenta, a dar opinião, a insinuar, a deixar recados, a falar sobre tudo e ainda mais aquilo de que ninguém se lembra. As coisas são o que são.
Desmascarada a matrafisga do CSI Tropa Macaca pela Polícia Judiciária civil logo os heróis feijão verde vieram invocar o "interesse nacional" como algo que os tinha movido a pactuar com um ladrão amigo para, de seguida, todos os comentadeiros de serviço ás televisões se apressarem a dizer em uníssono "o interesse nacional? what the fuck?! então o interesse nacional não é definido pelo poder político democrático eleito?" e, rapidamente, mais rápido que a própria sombra, o Major Zero responder ao guião: "mas o ministro sabia". A seguir as televisões do militante n.o 1, SIC e SIC Notícias, antecipam a primeira página do jornal do militante n.º 1, o Expresso, esta semana mais cedo na rua por causa do feriado e mesmo a jeito de ser comentada por toda a gente nos directos do 5 de Outubro, primeira página que há-de ser repetida pelas televisões da militante n.o 1 durante todo o fim-de-semana e até meio da segunda-feira, como se de uma verdade universal se tratasse. Estava escrito como se ia escrever a narrativa e como o Trumpismo vai fazendo o seu caminho por aqui.
Um gajo e uma gaja que não tenham onde cair mortos vão para ministros, de qualquer coisa, não interessa o quê desde que seja ministro. Ministro porque sim. Não há outra maneira de dizer isto.
42 anos depois do dia 25 de Abril de 1974 continua a haver em Portugal quem não perceba que nas democracias os militares obedecem ao poder político e que ambos cumprem uma Constituição, elaborada, escrita e aprovada pelos representantes do povo, eleitos em eleições livres e democráticas e, se preciso for e por ordem do poder democrático eleito, os militares saem para a rua em defesa da ordem constitucional vigente.
Há na Radar, passe a publicidade, uma rubrica da autoria do guitarrista dos Xutos & Pontapés, de seu nome "Zé Pedro Rock n’ Roll", e que trata disso mesmo, do rock ‘n' roll, dos excessos, das bandas e do folclore à volta, tudo muito superficialmente porque os 5 minutos antes do sinal horário são curtos.
Não tem nada a ver, apesar do Zé Pedro, mas é rock n' roll: reuniões com quem está, reuniões com quem não está, reuniões com quem não devia estar, reuniões porque sim, Grupo BES, escritórios de advogados, soundcheck ao vivo, groupies, roadies, sex & drugs & rock & roll. Também muito superficialmente, porque um mandato de Governo é curto antes das eleições.
Miguel Relvas [+ Pedro Passos Coelho + Tecnoforma + fundos comunitários = Ministério Público] + programa Foral + concurso feito por medida + Agostinho Branquinho [+ José Pedro Aguiar-Branco + escritório de advogados + cheiro a esturro] = Governo de Portugal.
É a única interpretação possível, governamentalizar as Forças Armadas, "homem prevenido vale por dois" e "quem vai para o mar avia-se em terra", vox pop também. Foi assim na Grécia num passado recente, não, a troika e o receio pelas medidas de austeridade implementadas não tiveram nada a ver com isto, foi renovação das cúpulas e tal. Foi assim num passado recente na Turquia do islamofascista, o nosso islamofascista, Erdogan, com receio do exército de Ataturk, e uma conspiração inventada e mesmo por medida. Isto só assim de repente.
À parte os generais "pára-quedistas" que vão começar a pousar com a mesma cadência que pousam assessores, técnicos e especialistas, nos ministérios e gabinetes, "quem não é bom soldado, não será bom capitão", idem vox pop, isto tem um senão com peso histórico. É que os generais nem sonhavam e o 25 de Abril foi feito pelos capitães, está bem que milicianos, mas o que é um cidadão que escolhe a carreira militar, não por vocação mas por falta de emprego na vida civil, senão um miliciano? "O bom soldado, tira-o do arado", ibidem. E tem uma lacuna grave, ao não prever que o grosso da tropa, os soldados, os cabos, os furriéis, os aspirantes e os alferes, seja por nomeação ministerial, e deixar a "conspiração" e o "golpismo" aí em cada esquina. Além de ser injusto para os que ainda se quedam desempregados na jota e nos poucos blogues Passistas activos.
E depois "nem todos os que vão à guerra são soldados". O povo sabe muito.