"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Desmascarada a matrafisga do CSI Tropa Macaca pela Polícia Judiciária civil logo os heróis feijão verde vieram invocar o "interesse nacional" como algo que os tinha movido a pactuar com um ladrão amigo para, de seguida, todos os comentadeiros de serviço ás televisões se apressarem a dizer em uníssono "o interesse nacional? what the fuck?! então o interesse nacional não é definido pelo poder político democrático eleito?" e, rapidamente, mais rápido que a própria sombra, o Major Zero responder ao guião: "mas o ministro sabia". A seguir as televisões do militante n.o 1, SIC e SIC Notícias, antecipam a primeira página do jornal do militante n.º 1, o Expresso, esta semana mais cedo na rua por causa do feriado e mesmo a jeito de ser comentada por toda a gente nos directos do 5 de Outubro, primeira página que há-de ser repetida pelas televisões da militante n.o 1 durante todo o fim-de-semana e até meio da segunda-feira, como se de uma verdade universal se tratasse. Estava escrito como se ia escrever a narrativa e como o Trumpismo vai fazendo o seu caminho por aqui.
Um gajo e uma gaja que não tenham onde cair mortos vão para ministros, de qualquer coisa, não interessa o quê desde que seja ministro. Ministro porque sim. Não há outra maneira de dizer isto.
42 anos depois do dia 25 de Abril de 1974 continua a haver em Portugal quem não perceba que nas democracias os militares obedecem ao poder político e que ambos cumprem uma Constituição, elaborada, escrita e aprovada pelos representantes do povo, eleitos em eleições livres e democráticas e, se preciso for e por ordem do poder democrático eleito, os militares saem para a rua em defesa da ordem constitucional vigente.
Há na Radar, passe a publicidade, uma rubrica da autoria do guitarrista dos Xutos & Pontapés, de seu nome "Zé Pedro Rock n’ Roll", e que trata disso mesmo, do rock ‘n' roll, dos excessos, das bandas e do folclore à volta, tudo muito superficialmente porque os 5 minutos antes do sinal horário são curtos.
Não tem nada a ver, apesar do Zé Pedro, mas é rock n' roll: reuniões com quem está, reuniões com quem não está, reuniões com quem não devia estar, reuniões porque sim, Grupo BES, escritórios de advogados, soundcheck ao vivo, groupies, roadies, sex & drugs & rock & roll. Também muito superficialmente, porque um mandato de Governo é curto antes das eleições.
Miguel Relvas [+ Pedro Passos Coelho + Tecnoforma + fundos comunitários = Ministério Público] + programa Foral + concurso feito por medida + Agostinho Branquinho [+ José Pedro Aguiar-Branco + escritório de advogados + cheiro a esturro] = Governo de Portugal.
É a única interpretação possível, governamentalizar as Forças Armadas, "homem prevenido vale por dois" e "quem vai para o mar avia-se em terra", vox pop também. Foi assim na Grécia num passado recente, não, a troika e o receio pelas medidas de austeridade implementadas não tiveram nada a ver com isto, foi renovação das cúpulas e tal. Foi assim num passado recente na Turquia do islamofascista, o nosso islamofascista, Erdogan, com receio do exército de Ataturk, e uma conspiração inventada e mesmo por medida. Isto só assim de repente.
À parte os generais "pára-quedistas" que vão começar a pousar com a mesma cadência que pousam assessores, técnicos e especialistas, nos ministérios e gabinetes, "quem não é bom soldado, não será bom capitão", idem vox pop, isto tem um senão com peso histórico. É que os generais nem sonhavam e o 25 de Abril foi feito pelos capitães, está bem que milicianos, mas o que é um cidadão que escolhe a carreira militar, não por vocação mas por falta de emprego na vida civil, senão um miliciano? "O bom soldado, tira-o do arado", ibidem. E tem uma lacuna grave, ao não prever que o grosso da tropa, os soldados, os cabos, os furriéis, os aspirantes e os alferes, seja por nomeação ministerial, e deixar a "conspiração" e o "golpismo" aí em cada esquina. Além de ser injusto para os que ainda se quedam desempregados na jota e nos poucos blogues Passistas activos.
E depois "nem todos os que vão à guerra são soldados". O povo sabe muito.
Também Estaline, atacado pela paranóia da conspiração, nomeou os seus comissários políticos [Iezhov, Malenkov, Molotov, entre outros] para vigiarem de perto os generais [com especial atenção para Zhukov] durante o cerco a Estalingrado e na denominada Grande Guerra Patriótica, até à tomada do Reichstag em Maio de 1945, chegando mesmo, nalguns casos, a opinião táctica e estratégica dos comissários políticos nomeados a sobrepor-se e a prevalecer sobre a dos generais, com repercussões directas no terreno ao nível de recuos da frente de batalha e de baixas na ordem dos milhares que poderiam ter sido evitadas. É dos livros.
[Legenda do cartaz "Peace to the nations! Peace will be preserved and fortified if the nations will take the matter of peacekeeping into their own hands and will insist on it to the end"]
Juro que ouvi ontem o ministro da Defesa José Pedro Aguiar-Branco, no Prós e Contras no canal 1 da RTP, com a mesma convicção com que defendia as 5 – cinco – 5 linhas de TGV de Manuela Ferreira Leite, acusar Luís Fazenda do Bloco de Esquerda de ser co-responsável pela construção de uma linha de TGV que levou o país à ruína. Isto depois de, no mesmo dia e no Parlamento, as Parcerias Público Privadas terem passado, num click e por artes mágicas, a ser boas para os cofres do Estado e negativas para os privados. É obra.
Como grita a palavra de ordem nas manifs, "está na hora, está na hora do Governo ir embora".