"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Obviamente que a sapiência de Cavaco Silva, O Avisador, não tem nada a ver com isto, com eleições legislativas desde o início do Verão até quase ao Natal:
Portugal não é a Grécia, país onde o partido Nova Democracia, no poder, maquilhou as contas do Estado para esconder o prejuízo do BPN, o banco da Nova Democracia, e fazer malabarices com o défice.
A gente até acreditava que o Governo não está escondido atrás do arbusto Banco de Portugal na trapalhada BES/ Novo Banco caso um juiz decretasse a proibição do primeiro-ministro, do vice-primeiro-ministro, da ministra das Finanças e restantes ministros e membros do Governo de contactarem Carlos Costa, governador do banco central. E mesmo assim...
Ontem a culpa tinha sido do e-mail, mal redigido ou não redigido conforme as normas, que é como quem diz do desgraçado que o escreveu e que agora não tem como provar quem o ditou. Hoje foi por lapso que a resolução não constou no comunicado, emitido no final de um Conselho de Ministros que decorreu sem a presença do primeiro-ministro, da ministra das Finanças e com o vice-primeiro-ministro a sair da sala antes da aprovação da medida.
«Se queremos viver num mundo globalizado, sem fronteiras, em que queremos dar uma oportunidade aos nossos jovens, temos de encarar de uma forma mais relativizada aquilo que é o fenómeno da movimentação dos jovens à procura de oportunidades por esse mundo fundo”.
“É também preciso percebermos que se os jovens hoje têm dificuldades particulares pelo facto de terem dificuldade no acesso ao emprego, de termos um desemprego jovem demasiado alto, é também verdade que os jovens de hoje têm mais oportunidades do que os jovens de antigamente”, [...].
[*] Pedro Passos oelho, depois de Alexandre Mestre - secretário de Estado do Desporto e da Juventude, depois de Miguel Relvas - ministro-adjunto dos Assuntos Parlamentares, e depois dele próprio.
Primeiro aplica-se o memorando, para além do que a troika exigia, e depois vão-se adaptando as metas e os objectivos, inexequíveis, de modo a que a realidade encaixe na teoria e que a credibilidade, do devedor e do credor, saia reforçada, assim como a confiança mútua, para maquilhador, maquilhador e meio.
Da outra parte tratam os outros. Depois de anos e anos de agit-prop de patranhas impingidas, que os contribuintes alemães estavam a pagar o grego way of life e o dolce far niente nas ilhas do Mediterrâneo, como é que se vai explicar a alguém que até há sete décadas acreditava piamente que o vizinho do lado, o colega de trabalho ou de escola, o amigo, o familiar, antes um semelhante, depois só porque professava uma religião diferente era um piolho, um inumano que merecia ser esmagado e exterminado, que afinal não paga salário mínimo nenhum ao cidadão grego e que os gregos têm direito a ter direitos, entre eles um salário mínimo condigno?
Vamos lá brincar às palavras, é Portugal, com o memorando ajustado de 3 em e meses para caber dentro da realidade, a prova de que os memorandos de entendimento funcionam ou é a Grécia, primus inter pares na aplicação dos memorandos, a prova de que não funcionam?
Como é no Expresso, que deixou cair o ridículo que era na era da net e da bloga e do tuita e do feiçe "Há 40 anos a fazer opinião" para o "Liberdade para pensar" como justificação para os ridículos Henriques diários, ninguém se indigna nem o problema da ética e da deontologia e dos segredos e das vidas privadas se coloca, nem há promiscuidade entre jornalistas e não sei quem, e até é absolutamente normal que um email entre dois ministros venha escarrapachado na edição online do jornal.
Ainda sou do tempo em que o Vasco Campilho, de megafone nas unhas, organizava manifs contra a asfixia democrática frente à Assembleia da República, com direito a manifesto e blog e tudo, Agora, asfixiadoassoberbado em trabalho, não há tempo para nada e a reacção aproveita para atacar as conquistas de Abril por todos os flancos.
“Tu não sabes quem eu sou. Metes a minha mulher ao barulho e podes ter a certeza que vais parar ao hospital.”
“Agora fiquei preocupado… estás avisado se metes a minha mulher ao barulho nesta história… vais parar a um hospital.”
Olhando para o nível de destruição no Estado e na administração pública, no Estado social, na saúde e na educação, na economia e nas empresas, nas famílias e na sociedade, provocado por 5 anos de Governo Pedro Passos Coelho/ Paulo Portas ou, se preferirem, PSD/ CDS-PP, 10 anos parece-me curto, excessivamente curto. Mas enganar-se nas contas, falhar metas e previsões, também é imagem de marca deste Governo.
O Sol¹ publica hoje excertos da gravação de uma reunião do conselho superior da família Espírito Santo. A peça arranca assim: «O aumento de capital do BES decorria e aparentemente tudo corria bem. Mas a holding do grupo estava em falência técnica há muito — mais de seis mil milhões de passivo — e os investidores queriam ser reembolsados. A família tenta tudo para arranjar capital.»
Durante a reunião, os presentes tomam conhecimento de que a Procuradoria-Geral da República do Luxemburgo tinha acabado de anunciar que três sociedades do Grupo Espírito Santo com sede no grão-ducado estavam sob investigação. A reacção de Ricardo Salgado dá uma ideia do ambiente que se gerou na sala: «Isto agora vai piar mais fino, temos aqui um problema sério. Pode ser dramático para o BES. Vai ser muito difícil segurar o grupo nestas circunstâncias».
Impunha-se uma actuação mais célere. André Mosqueira do Amaral defende a necessidade de uma linha de crédito extraordinária, que só poderia vir de um auxílio público. Sugere para tanto que uma comitiva do clã faça «um pedido de ajuda às autoridades», numa «narrativa de humildade».
Mas a situação de emergência obriga a saltar formalidades. Decide-se que Ricardo Salgado telefone ao governador do Banco de Portugal para que este convença a Caixa Geral de Depósitos a abrir os cordões à bolsa. Carlos Costa não aceita apoiar a iniciativa, com justificação de que era preciso evitar o contágio do sistema financeiro.
É então que José Manuel Espírito Santo sugere baterem a outra porta: «O Moedas, o Moedas! Eu punha já o Moedas a funcionar». Salgado liga-lhe no mesmo minuto: «Carlos, está bom?» Pressuroso, o então secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro pôs-se mesmo a funcionar: diz a Salgado que não só se predispõe a falar com o presidente da CGD como vai tentar pô-lo em contacto com o ministro da Justiça do Luxemburgo, de quem é «amicíssimo». O telefonema acaba com Ricardo Salgado a agradecer ao Moedinhas: «Obrigado, Carlos, um abraço».
Acontece que a ordem de trabalhos da reunião do conselho superior da família Espírito Santo continha um outro ponto explosivo: a sucessão de Ricardo Salgado. Na abertura dos trabalhos, o então presidente do BES leu uma carta que havia enviado, a 31 de Março, ao governador do Banco de Portugal. Nessa carta, que, segundo o Sol, estava escrita «num tom claro de chantagem», alertava-se para «os riscos sistémicos» que o banco e a banca portuguesa enfrentariam se a família fosse afastada da governação do BES antes do aumento de capital — que só terminaria a 9 de Junho.
Foi então que Ricardo Salgado fez questão de recordar aos presentes que «tem acesso a uma rede de contactos políticos conceituados». «Essa carta li depois ao presidente da República, ao primeiro-ministro, à ministra das Finanças e ao José Manuel Durão Barroso».
A reunião do conselho superior da família Espírito Santo decorreu no dia 2 de Junho de 2014.
À luz deste relato da reunião, como é que o Presidente da República, o alegado primeiro-ministro, a ministra das Finanças, «o José Manuel Durão Barroso», «o Moedas» e o governador do Banco de Portugal puderam depois continuar a sustentar que o BES estava sólido? E como é que Cavaco Silva pôde afirmar e reafirmar que apenas teve acesso a informação através de Passos Coelho?