"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Hoje assinalamos o Dia da Grávida. O Governo reafirma o seu compromisso em garantir que todas as grávidas têm cuidados assegurados e avançou com medidas como a Linha SNS Grávida. Tem como objectivo o atendimento direto, ao encaminhá-las para a urgência de obstetrícia mais próxima.
No tempo do PS, e não foi há tanto tempo quanto isso, era "o caos nos hospitais", "a destruição do Serviço Nacional de Saúde", pior que o Deus me livre, agora, na normalidade adquirida e na tranquilidade nas televisões, a responsabilidade de tudo o que era pelouro do Governo passou a ser responsabilidade dos administradores hospitalares. Os agora "inimigos do povo" continuam a representar o papel de idiotas úteis que lhes foi atribuído. Pobres criaturas.
Rui Rio "quer financiar hospitais públicos em função de resultados". Rui Rio quer aplicar ao Serviço Nacional de Saúde a mesma receita que os liberais do "menos Estado" e da "liberdade de escolha" aplicaram à educação, meter os hospitais a escolher os doentes que recebem, deixar de fora os mais problemáticos e aqueles onde a idade e a esperança de vida sejam um factor determinante nos resultados a apresentar, "martelanço" de resultados para atingir a ambicionada verba meta do financiamento público. Rui Rio quer hospitais de primeira e de segunda para portugueses de primeira e de segunda. Rui Rio desconhece a máxima "com a saúde não se brinca" e quer mudar o nome ao ministério, da Saúde para da Trafulhice.
O que a história nos diz, o que a história nos ensinou é que terminada a legislatura e/ ou a comissão de serviço nos respectivos ministérios, ministros e secretários de Estado, com mais ou menos período de nojo, transitam para as seguradoras e para os bancos para os quais legislaram enquanto servidores da cousa pública.
E porque há-de o dinheiro do contribuinte, por interposta pessoa o Ministério da Saúde, pagar a um heterónimo da Igreja Católica, com a inócua e incolor denominação de Instituições Particulares de Solidariedade Social, para fazer aquilo que o Estado, que já paga às IPSS, e não é assim tão pouco quanto isso, por via das transferências do orçamento do Estado, não faz?
Dito de outra maneira, porque é que um médico faz numa IPSS, pago pelo dinheiro do contribuinte, por interposta pessoa o Ministério da Saúde, aquilo que não faz no Serviço Nacional de Saúde, pago pelos mesmos suspeitos do costume e sem intermediários?
Porque é que o ministro da Saúde, por interposta pessoa o Ministério da saúde, se demite das suas competências?
O dinheiro do contribuinte, por interposta pessoa a escola pública, forma os melhores médicos da Europa, que as universidades privadas são muito bonitas mas é em matéria de papel e caneta, e mesmo assim com os resultados que são conhecidos, que isso de investir em ciência está quieto pois requer muito conhecimento, responsabilidade e... investimento. Fica para o Estado portanto, que o privado é para dar lucro. Médicos que depois vão para a emigração, ganhar no serviço nacional de saúde inglês ou alemão o que o Serviço Nacional de Saúde português lhes nega, ou para o hospital privado pátrio, pagos com o dinheiro... do Estado, dinheiro que não há para o hospital público porque as empresas de colocação avulsa de médicos e enfermeiros ganham outro tanto e porque aquele que já foi um dos melhores serviços nacionais de saúde do mundo é para desmantelar por duas ordens de razões: fanatismo e cegueira ideológica .
A nós ninguém perguntou se queríamos ver o Serviço Nacional de Saúde esvaziado de competências e valências, transferidas para a medicina privada e suportadas pelo Estado que é um eufemismo que a direita usa quando quer esconder a denominação "dinheiro do contribuinte" quando não lhe agrada a conversa, em nome de uma poupança que não há, pois não?
E não só somos bons, muito bons, como também somos a verdadeira terra das oportunidades, a terra do leite e do mel, como dizem os amaricanos nos filmes. Um país para novos [de acabadinhos de chegar ao mercado, subentenda-se], criar empresas de véspera para no dia seguinte começar a facturar, contra os interesses dos instalados na praça. Venha de lá o investimento estrangeiro. Somos bons, muito, bons, somos fantabulásticos, e até damos dó-tôres à Goldman coise:
Chefe de gabinete do MAI demite-se após ajuste directo a empresa sua
«Além de Rita Abreu Lima, a POP Saúde tem como sócio Miguel Soares Oliveira, ex-presidente do conselho directivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), e foi criada poucos dias antes do ajuste directo da ARS LVT. Soares de Oliveira é marido de Rita Abreu Lima e gerente da sociedade.»
Ou continuar a fumar e a beber e assim contribuir para que o Estado siga arrecadando milhões em impostos e, na melhor das hipóteses, morrer cedo, libertando com esse acto a segurança social de mais pensionistas e reformados e o Serviço Nacional de Saúde de velhos que insistem em ficar doentes, com doenças que costumam dar nos velhos, esses inúteis que cada vez morrem mais tarde, ou continuar a fumar, a beber e a não ter cuidado nenhum com a alimentação e, se conseguir chegar a velho, ou quando cair na doença e tiver de recorrer aos serviços de um hospital público ou de um posto de saúde, não ser atendido pelo médico nem pelos enfermeiros porque há já muito que havia sido avisado para os riscos que corria e, se ficou doente, não foi por falta de informação, porque a fatia do Orçamento do Estado para a Saúde é para tratar os obedientes e os bem comportados, e para pagar aos hospitais e clínicas privadas que gerem a saúde pública.
Resumindo: num futuro mais ou menos próximo, o Serviço Nacional de Saúde gerido por companhias de seguros, bancos ou empresas privadas de saúde, vai recusar tratamento a utentes/ beneficiários com determinadas doenças, à imagem do que já acontece neste momento com os seguros de saúde privados.
Já nem indo pela estupidez e pelo desperdício que é monotorizar a rede, e as redes sociais, para perseguir e punir os cidadãos, no geral, e os próprios funcionários, no particular, ao invés da atitude inteligente que seria usar a monotorização da[s] rede[s] para, primeiro, corrigir erros e deficiências dos serviços e ir de encontro aos anseios e necessidades das populações com vista à prestação de um melhor serviço, e para, segundo, usar a rede como ferramenta de trabalho para melhor perceber a relação empregador-empregado e melhor proceder à optimização de desempenhos, com reflexos imediatos nos índices de produtividade, é a estupidez de não se aprender nada com o que a história nos conta e nos ensina, e não compreender que nunca em tempo algum, algum governo ou regime conseguiu suprimir a opinião crítica, e que, mais tarde ou mais cedo, o dique rebenta e a enxurrada que se lhe segue tem efeitos devastadores, como o demonstrou, por exemplo, o caudal de excessos nos dois anos seguintes à revolução de 25 de Abril de 1974 após 48 anos de ditadura.
Bem podem questionar o ministro da tutela, este ou outro qualquer, com outra qualquer tutela, que a resposta vai ser sempre a mesma, no mesmo jo go do empurra. O Governo das empresas e das marcas defende as empresas e as marcas contra os perigosos e subversivos cidadãos que o elegeram. E o exemplo parte do próprio Governo. A Direita no poder.
c) O utente vai ser mais bem servido? É duvidoso e remete-nos para as alíneas anteriores; a que preço para o Estado, para o contribuinte, para o utente?
Qual é a ideia então por detrás da ideia, e depois do "êxito" que foram os Hospitais SA e EPE? Desmontar e repartir o Estado Social pela elite dos amigos-patrões da esfera político-partidária dos dois partidos que compõem a coligação, mais Santas Casas e casas santas dos grupos de saúde privados.
Podemos partir da ideia base que o que é privado é só de alguns e o que é público é de toda a comunidade?
A seguir vai ser o para quê gastar dinheiro em doentes terminais ou em paneleiros e drogados arrumadores de carros, assim como assim vão morrer. O terreno da ignorância e do ódio higienista da populaça à diferença e às minorias está devidamente fertilizado, é só, a coberto da poupança e da racionalização do dinheiro do contribuinte, largar a semente do populismo à terra. Que morram para aí como cães que alguma Isabel Jonet do medicamento há-de aparecer para os acudir.