"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Fosse numa empresa, privada, e era despedido sem apelo nem agravo nem indemnização ou, em última instância, ficava a trabalhar, com uma parte do salário cativada mensalmente pela entidade empregadora, até que todos os lesados fossem ressarcidos dos prejuízos e depois era despedido sem apelo nem agravo nem indemnização. Como é no Estado, que os liberais de pacotilha querem gerir e administrar com se de uma empresa, privada, se tratasse, não só não é despedido como o Governo que integra ainda nomeia uma comissão para estudar como é que o dinheiro dos contribuintes vai ser usado para pagar aos contribuintes a incompetência, a falta de rigor e de profissionalismo e a cegueira ideológica de um ministro. Como se já não bastasse o prejuízo causado aos alunos e às famílias. É prejuízo vezes dois
Desde os idos do PREC que as aulas não começavam depois do dia 15 de Outubro, as que começavam. Desde os idos do PREC e da chegada dos ‘retornados’ que não tínhamos aulas dadas profs que não eram profs mas que eram profs porque tinham perdido toda a documentação na pressa de fugir para a ‘metrópole’. Foi na altura em que os futuros ex ministros Nunos Cratos andavam por aí a sanear, contra a burguesia, o fascismo e o social-fascismo.
E como não há dinheiro para nada vão pôr o dinheiro do suspeito do costume, o contribuinte, a pagar a ligeireza e a incompetência de um maoísta investido em ministro, a brincar com a vida das famílias, dos alunos e dos professores, ao 'grande salto em frente' na Educação, e onde culpa não é do ministro nem do Governo mas da "administração escolar" e do Estado.
Um mancebo do Minho ia assentar praça no Algarve ou um mancebo alentejano que ia fazer a recruta à Beira Litoral. Ambos acabavam a combater em Angola, que era nossa, ou na Guiné, que seria sempre portuguesa. Desenraizar para desmoralizar, dividir e reinar.
Só surpreende quem desconhece o modus operandi de um genuíno maoísta, de apagador na mão, a limpar o passado, a pôr e dispôr, a brincar com a vida das pessoas e das famílias, a construir o homem novo.
Desde que pareça que mexe, mesmo que não sirva para absolutamente nada, e se alguém ganhar muito dinheiro, com isso com pouco investimento, tanto melhor :
Assim como as escolhas têm liberdade de escolha para leccionar ou não a disciplina de Inglês, também as famílias têm a liberdade para escolher se os filhos usam ou não os novos manuais escolares, se bem que na grande maioria dos casos esta liberdade esteja directamente relacionada com a "liberdade" económica dos pais, que teimaram em viver acima das suas possibilidades, como é por todos sabido. A seguir as escolas vão ter liberdade de escolha para decidir se querem ou não ensinar Matemática ou Língua Portuguesa ou Educação Física ou outra qualquer disciplina, e as famílias vão ter liberdade para escolher se querem que os filhos andem na escola ou a coser sapatos à mão numa fábrica em S. João da Madeira. Quem disse que o Estado tem de garantir a todos os cidadãos a igualdade de oportunidades? Ah, essa coisa da Constituição. Reveja-se, para que o Estado tenha liberdade de escolha para decidir se garante ou não aos cidadãos a igualdade de oportunidades, e a que cidadãos.
A 48 horas de uma greve geral convocada pelas duas centrais sindicais [CGTP e UGT], o melhor, e mais bem conseguido, manifesto de apelo à greve saiu do gabinete do ministro Nuno Crato: quando há justeza nas reivindicações vale sempre a pena lutar, sem medo, por aquilo que se acredita. Dignidade no trabalho.
E uma ardósia para fazer contas e um caderno de duas linhas para aperfeiçoar a caligrafia, depois de cantada A Portuguesa sob o olhar severo do senhor Presidente do Conselho na moldura na parede.
Agora que foram confirmadas, ao nível das condições de trabalho, as ilegalidades em colégios do grupo GPS, falta a coragem política, que este Governo não tem porque vai contra o seu "código genético", para avançar com uma auditoria à "fixação" na obtenção de resultados para os primeiros lugares nos rankings das escolas.
O previsível resultado da "análise detalhada" é avançado, logo à partida, pelo analisador ainda antes de efectuada a "análise detalhada" – os exames são mais difíceis, a exigência é maior, a qualidade, no resultado final, aumentou. Para o ano estamos no top of the pops da OCDE. Pois.
Surpresa seria, será, que o resultado da "análise detalhada" refira que o desemprego aumentou, os salários dos que ainda têm emprego baixaram drasticamente, o IVA nos bens essenciais e nos serviços aumentou colossalmente, o preço dos transportes públicos disparou, os manuais escolares são mais caros que uma renda de casa, e que as famílias têm de fazer opções e primeiro está a barriga.
Estão de volta os pés descalços, o filho do rico estuda e pensa, o filho do pobre trabalha e obedece. Nada de novo, portanto.
Enquanto se continua, alegremente, para o infinito e mais além do que o memorando assinado com a troika, no que respeita ao ensino privado, o eduquês sem mestre, passado do papel para a prática, ataca em todas as frentes e destrói a escola pública.
O dinheiro dos impostos não chega para tudo, é preciso segurar o ensino privado, e a troika quer é saber dos números finais, não da matemática que foi feita para os atingir.
O povo sabe ler, contar, dizer quem foi o primeiro rei de Portugal e, talvez, as linhas do caminho-de-ferro de Angola, diplomacia económica oblige.
A elite dirige e governa. Com o voto do povo.
Podia voltar a telescola. Paga com o dinheiro dos contribuintes na factura da EDP.
É o que se pode ler no memorando de entendimento. O Governo continua um Governo coerente, vai mais além da troika e tira, do dinheiro dos nossos impostos, ao ensino público para dar ao ensino privado.