"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
De uma coisa ninguém pode acusar o CDS, que é a de não ter um modelo de "desenvolvimento" económico para o país. Ou quando Pires 'soldado disciplinado' de Lima, pelo S. Martinho de 2013, anunciou no Parlamento investimentos na ordem dos 150 milhões de euros, 120 milhões pela Portucel e 26 milhões pela AMS Goma Camps, pensavam que os castanheiros iam ficar en su sitio, a dar castanhas para acompanhar a água-pé, e que os eucaliptos vinham por mar, importados em porões de navios, ou que, pelo contrário, se iria liberalizar a plantação do eucalipto e assistir à eucaliptização do país, do Minho ao Algarve?
O ambiente, a biodiversidade e o ordenamento do território têm de ficar para depois que a prioridade é fomentar a desertificação do terrirtório e desertificação humana e aumentar a mais-valia aos accionistas é tirar o país da crise e criar emprego. Os incêndios ficam por conta do Orçamento do Estado que por sua vez fica por conta do bolso do contribuinte.
Adenda: Há dados relativos ao emprego criado pelo investimento de 150 milhões de euros por parte das empresas de celulose? Há dados sobre qual a percentagem da riqueza criada por esse investimento de 150 milhões de euros que foi aplicada novamente na economia e sobre qual a percentagem que foi distribuída pelos accionistas?
O respeito com que o Governo do inculcar a culpa e do moralismo do "viver acima das nossas possibilidades" trata o dinheiro do contribuinte e a inteligência dos cidadãos.
Como se partidos da maioria e Governo não fossem uma e a mesma coisa, como se o Governo não fosse uma emanação do espírito reinante na maioria, como se houvesse pensamento próprio dentro das bancadas da maioria que não o de seguidismo amorfo e o do sim-sim acéfalo, como se na hora das votações se assistisse a tomadas de posição por motivos de "objecção de consciência" ou a rebeldias motivadas por consciência social e/ ou política, como se estas coisas não fossem todas previamente combinadas e acertadas antes de passarem para a opinião pública, como se estas coisas não tivessem sempre todas origem numa "fonte próxima" ou num "envolvido no dossier".
No mesmíssimo dia em que o Governo avança com a «proposta de redução das indemnizações para 12 dias por cada ano de trabalho», o BCP, banco intervencionado pelo Estado, «ofereceu aos trabalhadores que aceitarem sair 1,7 vencimentos por cada ano de trabalho», ao mesmo tempo que, com o aval do Governo dos "12 dias", reencaminha para uma Segurança Social, "descapitalizada" e sem dinheiro para nada, nas palavras do próprio Governo, a cortar a eito, na duração e no valor, em tudo o que é subsídio e comparticipação, 600 rescisões amigáveis, directamente para o subsídio de desemprego. Este Governo não tem pena de 600 futuros desempregados, este Governo é amigo dos bancos. Mas isso já toda a gente sabe. Ou pelo menos devia saber, passado que é um ano e meio.
Gostava que me explicassem como é que mais meio-dia de trabalho se reflecte na criação de mais 2 000 postos de trabalho. A sério que gostava, partindo do princípio que o objectivo da gestão privada passa pela maximização de proveitos conjugada com a minimização de custos, e que estas coisas passavam inevitavelmente por um reajustamento de horários e folgas. Há muita gente a ter folga “forçada” ao domingo à tarde.
E depois é tão bom ir gastar solas dos sapatos para o centro comercial a roubar espaço às moscas, e na meia hora que falta para o hiper fechar aquela gentinha que entra para desarrumar a loja sair uma ou duas horas depois, e o empregado aguarda e não bufa e nem recebe horas extras por isso. Não tem família, vida própria, nem tem de ir às compras ao domingo.
Recebemos como herança quase mil anos de história e um património arquitectónico riquíssimo. Por incúria nalguns casos, por falta de amor à Pátria – expressão maldita - noutros, e por falta de dinheiro – comum a todos – o património corria (corre) o risco de se perder. Mas um contrato que inteligentemente conciliou recuperação do património histórico com turismo e criação de riqueza, e que na grande maioria dos casos permitiu que a herança recebida não se perdesse irremediavelmente, é segredo de Estado.
E depois ficam todos muito incomodados quando em campanha eleitoral resolvem descer à terra e nos mercados e nas feiras levam na cara com comentários do cidadão anónimo que “vocês são todos iguais” e “querem é tacho” e “só vão para lá pra se encher”.
E é preciso lutar contra a abstenção; dizem. E alguns iluminados concluem que passa por tornar o voto obrigatório.
O problema é que nós não queremos os jovens a trabalhar aos 16 anos, assim como a serem pais aos 16 anos, ou a consumir álcool aos 16 anos ou a conduzir aos 16 anos. Se o argumento “pode trabalhar” serve para desbloquear o “pode votar”, então serve para tudo. É o caminho mais fácil. Já que que não se consegue impedir que trabalhem dá-se-lhes o direito de voto. Numa coisa tem razão: há adultos que não sabem.