"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Desde António Ferro que andamos nisto, um responsável governamental nomeado para a Cultura e, atrás de si [dele], o correspondente cortejo de artistas subsidiários, mais ou menos oficiais do regime, consoante o colorido dos governos da ocasião, na proporção exacta aos ódios de estimação e desprezados, em stand by até que novos ventos soprem nas urnas, mais aqueles que têm o dom de adivinhar quando é que o vento vai começar a mudar e a arte para parecer que são eles quem sopra o vento para determinada direcção.
Depois de 4 anos de amiguismo e de fidelidades partidárias nas nomeações de "técnicos", "especialistas", senhores doutores, e senhores professores doutores e outros pantomineiros, onde a competência não era tida nem achada para os cargos a ocupar e as funções a desempenhar, alguém que não puxa da pistola de cada vez que ouve falar em cultura.
E não é pela passagem de secretaria de Estado a ministério mas tão simplesmente por João Soares ter como vantagem em relação aos seus antecessores nestes quatro anos o não puxar da pistola quando ouve falar em cultura.
«Eu não gosto de choramingões, e há trinta anos que vejo gajos a choramingar e a traírem-se uns aos outros, a andar de punho cerrado e por trás a lamber o cu ao ministro ou ao secretário de Estado. Por isso, sabes o que te digo, eu caguei. Podes mesmo escrever, eu caguei para isso, cago para a política cultural.»
Meanwhile as vozes incómodas dos artistas, os mesmos de sempre, nos sítios do costume, só grandes músicas e a melhor música de todas as estações (e apeadeiros), mais as Deolindas manhosas à procura do “venha a nós o vosso reino” (os bilhetes para a Sombra são mais caros que para o Sol, é por isso que as corridas nocturnas são mais democráticas) ficam macias. Granulação acima de 2000, só para tirar o brilho. Não se morde a quem nos dá de comer, um velho ditado salazarento. A esquerda sempre teve um jeito especial para tratar destes assuntos da kultura.
Pão e circo. Equação perfeita. Não se dera o caso de ir faltando o pão.