"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O porco na chafurda: "Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc.".
Quando era por demais evidente que o porco na chafurda ia falar, por esta ordem, no MRPP, em Paulo Pedroso e José Sócrates, o bonzo dos paineleiros-comentadeiros das televisões - Miguel Sousa Tavares, diz que Ana Gomes foi previsível ao falar em Luís Filipe Vieira. Somos [são] tão inteligentes e perspicazes.
No dia seguinte nenhuma televisão se lembrou de convidar o Marega para dizer o que lhe ia na alma. Nem uma. A TVI, que se prepara para ser comprada pela Cofina, a do Correio da Manha [sem til], jornal e televisão, que promovem o Ventura e o Chaga [não é gralha] nas primeiras páginas, nos telejornais e nos programas do pontapé-na-bola, convidou o Ventas para uma peixarada de gritaria onde, em contínuo e em crescendo, gritou mais alto que Miguel Sousa Tavares, a quem coube o papel de idiota útil para o aprendiz de feiticeiro passar a sua mensagem racista e xenófoba. "Não sou racista, tanto aperto a mão a um branco como o pescoço a um preto, ou a um cigano".
Miguel Sousa Tavares não só desmonta um pantomineiro em directo com uma só pergunta como obriga o pantomineiro a fazer jus ao epíteto de pantomimeiro quando, ao ver-se encurralado, apanhado com as calças nas mãos, como soi dizer-se, e sabendo do gosto do entrevistador pela caça, tenta introduzir o tema na conversa, como elemento de distracção que lhe dê tempo para respirar, recuperar o controlo e direccionar a entrevista para onde mais lhe convém. E este Circo Santana, com televisões em prime time, já dura pelo menos desde 1976.
É justo, é justíssimo. O senhor Silva e a Procuradoria que avancem com o processo que é mais uma para juntar ao rol das condenações do Estado português no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Siga o circo!
"Estava o peixinho, veio o gato… e comeu-o! Mas veio o cão e o gato teve de se esconder!"
[Imagem de autor desconhecido, o título e o epílogo roubados aqui]
Miguel Sousa Tavares escreve esta semana no Expresso sobre o óbvio, e que é exactamente sobre aquilo que muita gente vem desde sempre a escrever - este blog incluído, na blogocoisa, coisa que ele abomina. Tanto melhor, como é mais lido, chega a mais gente, pode ser que assim entre nalgumas cabecinhas benevolentes, secretário-geral do PS incluído, mais o seu "o Governo errou" e "o Governo não cumpriu". Mas esqueceu-se Miguel Sousa Tavares de nomear o "sujeito", de chamar os bois pelos nomes na parte do "rever a legislação laboral". É que a legislação laboral, depois de revista, foi assinada, repito foi assinada, em sede de concertação social. Até percebo que a ideia agora seja malhar no Governo com força, "vassourada!" e "andor!", mas a culpa não pode morrer solteira, ou pode?
«[…] primeiro, rever a legislação laboral, para tornar os despedimentos fáceis e baratos; por essa via, criar um batalhão de desempregados que pressionem o mercado de trabalho, fazendo baixar os custos salariais; assim, potenciar os lucros de algumas empresas de mão-de-obra intensiva; e, assim, garantir o sucesso do “ajustamento” da nossa economia, “so help them God”.»
«(…) o Estado português é como um chefe de família que passa o dia na taberna e no casino e depois rouba o ordenado à mulher e aos filhos para se sustentar!»
Ou dito de outra maneira: Somos todos «politicamente tolos»?
Escreve Miguel Sousa Tavares hoje no Expresso:
«Se não pode impedir o crescimento do desemprego, se não quis e não quer enfrentar o poder do grande capital, resta ao socialista Sócrates rapar no caldeirão da demagogia: eutanásia, casamento de homossexuais, Robin Hood fiscal, Regionalização. Eu penso que José Sócrates está a ver mal as coisas: os portugueses têm muitos defeitos, mas nunca foram politicamente tolos».
Pois eu penso que Miguel Sousa Tavares está a ver mal as coisas. E está a embarcar no discurso da Direita que é contra o denominado “casamento homossexual”, com o papão de que Sócrates está a ocupar o espaço vital da também denominada “extrema-esquerda” como forma de compensar possíveis perdas de votos a bombordo.
Alguém no seu perfeito juízo acha que um católico praticante vai deixar de ir à missa ou deixar de votar no PS por causa dos casamentos homossexuais?
Alguém no seu perfeito juízo acha que um eleitor do Bloco de Esquerda vai deixar de votar no Bloco e passar a votar no PS só por causa dos casamentos homossexuais?
Somos (são) todos estúpidos?
Apesar de eu nem por um segundo hesitar em colocar no grupo dos «politicamente tolos» José Sócrates logo seguido de Miguel Sousa Tavares por considerarem essa probabilidade.
Ou há uma inversão radical de azimutes, ou muito me engano mas ontem foi dado o tiro de partida do processo que vai acabar na derrota eleitoral do PS e de António Costa em Lisboa. Com adversários assim, Santana Lopes nem precisa de “andar por aí”. Basta-lhe ficar sentado e calado.
(E parece que Miguel Sousa Tavares foi apupado e insultado e teve de sair com escolta policial por causa dos piquetes espontâneos convocados por sms pelo PCP de cada vez que há uma reunião do PS ou do Governo. O quê?!.. O Sousa Tavares não é do PS?!.. Nem do Governo?!.. Ah!)