"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O doutor Relvas veio a público pelo Público dizer que o doutor Montenegro se devia deixar de paneleirices e aliar-se ao partido da taberna caso fique em segundo lugar nas legislativas, coisa aliás que já acontece nos Açores e até há pouco acontecia na Madeira, até o partido da taberna ter dado um murro no balcão e entornado a bebida toda. Diz o doutor Relvas que o partido da taberna não é de extrema-direita coisíssima nenhum, são é um bando de oportunistas, essa é que é essa, e que o doutor Montenegro deve apanhar a boleia e ser oportunista também. E de oportunidades deve perceber o doutor Montenegro, a atender à enxurrada de notícias com casas, casinos e avenças, dia sim dia sim, é tudo uma questão de deixar cair a máscara do "sentido de Estado" que ainda há muito para desmatar dentro do Estado. Nada como a frontalidade e os pratos limpos de alguém como o doutor Relvas, com estudos e créditos em matérias de oportunidades. A oportunidade e os oportunistas, tudo a bem dos negócios e da Nação.
Miguel Relvas, que em 2008 achava que o país ficava a ganhar com opção Alcochete, até porque a ideia era dele, "em 2007 fui eu, primeiros!", é o Miguel Relvas que em 2023 insinua sobre a identidade dos proprietários dos terrenos [a partir do minuto 10:45]. Miguel Relvas sabe perfeitamente quem são os proprietários dos terrenos e, pela pergunta, quem não sabe fica automaticamente a saber que são de alguém que não é da área do PSD. A chico-espertice de levar isto para outro nível, onde o impacto ambiental, económico, e até político, "margem sul jamais", não interessam nada para o debate, reduzido que fica a interesses privados, mais-valias, clientelas e amiguismos politicos, e subsequentes financiamentos partidários. Miguel Relvas foi estudar mas regressou igual ao Miguel Relvas antes do canudo, sem a puta da vergonha na cara, promovido a senador e a fazer o que melhor sabe, mexer na merda com uns pauzinhos e lançar lama no debate.
Miguel Relvas, da velha liderança do ar pesado e bafiento, sai a terreiro logo no day after a pedir nova liderança e ar fresco para o partido. Podia ser um piada do Imprensa Falsa mas não é. Isto foi de manhã, que à hora do jantar, Miguel Morgado, do mesma agremiação de Miguel Relvas, do circo de sombras por detrás de Passos Coelho, apareceu na televisão do militante n.º 1 aka SIC Notícias a pedir ar fresco e nova liderança para o partido, que ele vai fazer a parte que lhe compete, não sabe nem deixa de saber se é candidato, vai apresentar uma moção e coise, ele que até já meteu mãos à obra e inventou o "cinco para as sete" que só não congrega a direita toda porque o André Ventura se recusou a participar e isso é lá com ele. Não foi ele, Miguel Morgado, quem espantou o fascista Ventura, foi o fascista Ventura que não quis nada com ele. Temos [têm] pena. O André Ventura, esse mesmo, que à noitinha no Prós e Contras na televisão pública teve exactamente o mesmo discurso que o senhor novel deputado eleito pelo Iniciativa Liberal, corrupção, compadrio, sector privado, blah-blah-blah, direito de escolher a escola, saúde privada para todos e que quando Mariana Mortágua falou em "fraude liberal", do Estado a pagar a privados, provocou a mesma reacção nos três, que o João Almeida do CDS também lá estava. E novidades?
As primeiras páginas dos jornais no dia a seguir ao Público ter feito manchete com a fraude no valor de 6.747.462 € [seis milhões setecentos e quarenta e sete mil quatrocentos e sessenta e dois euros] com fundos comunitários, era Miguel Relvas secretário de Estado da Administração Local no Governo de Durão Barroso e Pedro Passos Coelho administrador da Tecnoforma, a empresa beneficiária dos fundos.
O princípio subjacente é o mesmo que leva a que Portugal seja sistematicamente condenado em última instância pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, contra todas as decisões e interpretações dos sucessivos tribunais nacionais, em casos de, por exemplo, liberdade de expressão. Somos todos a favor mas "o respeitinho é muito bonito", com a agravante de, neste caso concreto, o senhor ter passado quatro anos de uma legislatura a proclamar a necessidade de disciplinar, moralizar, fiscalizar a atribuição de fundos comunitários, prontamente badalado aos quatro ventos pelos apóstolos nas "redes sociais".
O criador e a criatura, sentados à mesma mesa, matam despedem a criação:
O ex-dirigente do PSD Miguel Relvas apontou hoje Luís Montenegro como "um dos rostos do futuro do PSD", e aconselhou o partido a "virar a página" e ultrapassar o facto de "ter ganho as eleições e estar na oposição".
Miguel Relvas, o tal, vai ser banqueiro por equivalência e, o pior, é que Miguel Relvas não vai fazer pior do que os banqueiros, banqueiros mesmo, por dinastia ou por imposição divina, até na parte dos apoios dados pelo dinheiro dos contribuintes. Social-democracia, sempre!
Está aqui tudo, a imagem [a foto é óptima] e o slogan "Relvas defende nova coligação com o CDS-PP". É só esperar que algum partido da oposição agarre a ideia e faça cartazes para as legislativas de 2015.
É incrível como esta gentinha vive no seu mundinho da realidade paralela sem ter a mínima noção da imagem na opinião pública e da imagem na opinião pública agravada pela próximidade de eleições.