"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O sucesso eleitoral do partido da taberna deveu-se ao taberneiro ter trazido para a agenda um tema que ninguém se atrevia a mencionar no debate público e político: a corrupção.
Trazido o tema para o debate público e político rapidamente começou a ser fazer o jogo do taberneiro e andar a toque de caixa da agenda do partido da taberna falar em corrupção.
Um arguido por corrupção ganha as eleições numa região autónoma, a roçar a maioria absoluta e castigando eleitoralmente o partido da taberna, porque as pessoas já estão fartas de ouvir falar em corrupção e não querem saber disso para nada.
- Luís Montenegro & Miguel Albuquerque, dois desgraçados que não têm onde cair mortos, dois medíocres que não sabem fazer mais nada que governar a vidinha à sombra da política;
- Rui Rio matou e enterrou o CDS, Luís Montenegro desenterrou o ressuscitou. E isto explica a ternura de dois matarruanos - Nuno Melo & Paulo Núncio, e de um pateta com gravatas de marca - João Almeida, para com o alegado primeiro-ministro.
Recorrendo ao léxico marcelista, o Presidente aceita nas ilhas adjacentes da Madeira, com o seu partido, aquilo que não aceitou na metrópole com o PS, sendo que o camarada madeirense Albuquerque é arguido, e com um rol de suspeitas em cima, ao passo que Costa ainda não sabe sequer do que é investigado um ror de meses passados.
Alguma vez iremos saber o que aconteceu no palácio de Belém no dia 7 de Novembro de 2023 entre as dez e meia da manhã, hora da saída de António Costa, e o meio-dia e vinte, hora da saída de Lucília Gago, 50 minutos depois de ter entrado para falar com Marcelo antes do famoso parágrafo vir a público?
Maló de Abreu foi pedir asilo político ao partido da taberna e no dia a seguir veio a saber-se que andou ano e meio a cantar a canção do Quim Barreiros, que é como quem diz a "mamar nos peitos da cabritinha", que é como quem diz a alambazar-se com 75 mil euros do dinheiro do contribuinte e a enganar o cidadão eleitor e a dar mau nome à democracia e à política. Mas foi preciso mudar de sítio porque até aí ninguém no seu partido sabia de nada ou sequer desconfiava.
Liliana Reis, a doutora independente, tão independente tão independente tão independente que desde sempre alinha com o PSD em tudo e mais um par de botas, é designada cabeça de lista da AD por Castelo Branco, o tal partido aberto à "sociedade civil" e coise, e no dia a seguir à nomeação é alvo de uma denúncia por plágio na tese de doutoramento. O aparelho partidário tem destas coisas, não gosta de ser ultrapassado pela tal da "sociedade civil" a que tem de se abrir, nem as estruturas gostam de ser subalternizadas pelo centralismo da capital, mesmo quando o centralismo da capital é constituído por quem veio da província.
Miguel Albuquerque, o do "Não vale a pena ter ilusões. Reformar o Estado é despedir", foi apanhado numa teia de negócios com suspeitas de atentado contra o Estado de direito, prevaricação, recebimento indevido de vantagem, corrupção, participação económica em negócio, abuso de poder e de tráfico de influências, uma bela lista de mercearia. Depois de ter exigido a demissão de António Costa, que não era acusado nem arguido em coisa nenhuma na Operação Influencer, diz agora que não sai porque é inocente e nunca roubou nem pediu nada a ninguém.
Os timings da justiça a criarem um problema ao chefe no cont'nente a um mês das eleições, o chefe do "Luís Montenegro: 1 - António Costa: 0" no rescaldo eleitoral, e o chefe a criar um problema a si próprio ao não tirar a confiança política ao camarada ilhéu já que, segundo ele, “as diferenças são mais do que muitas” entre o Costa, que não tinha nada a ver com nada, e o Albuquerque que até ver tem tudo a ver com tudo.
O mesmo timing que caiu na comunicação social em cima de António Costa no dia da abertura do congresso do PS a dar conta de que era alvo de investigação por prevaricação, dois meses depois da Operação Influencer, dois meses sem ser ouvido pela justiça.
As bruxas, umas mais manhosas, outras mais astutas, e ainda outras com mais estudos, gostam do balcão da taberna, como pode ser comprovado semana após semana nas sondagens e estudos de opinião.
Que pela primeira vez uma linha vermelha foi traçada pelo PSD, com o Chega não conta para soluções de governação, papagueiam até à exaustão os comentadeiros e analistas de serviço nas televisões a propósito da chico-espertice elaborada por Miguel Albuquerque para fugir à questão. Vamos todos fazer de conta que a seguir a "com o Chega não" não havia uma vírgula e continuava "porque é um partido centralista, contra a autonomia". A linha vermelha não foi traçada por o Chega ser albergue de fascistas e nazis, um partido genuinamente anti-democrático a coleccionar deliberações atrás de deliberações do Tribunal Constitucional a invalidarem tudo o que é decidido em congressos e assembleias. Uma linha vermelha foi traçada mas no sentido de estar comida pela traça.
A Fundação Social Democrata da Madeira, que escapou a sanha persecutória do governo da direita radical a fritar toucinho, que é como quem diz a derreter as gorduras do Estado, que é como quem diz a exterminar as fundações, o alfa e o ómega da despesismo socialista do Estado, uma fundação boa, portanto, deve, portanto, 6 milhões e meio de euros ao Banif, que Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque esconderam atrás de Carlos Costa, o apêndice que o governo da direita radical tem no Banco de Portugal, para não inviabilizar a saída limpa que só não o foi por culpa do Costa - o Banif escondido, mais os prejuízos da fundação Mário Soares, que recebeu contribuições do Sócras, por interposta pessoa o patrão, de quem o Costa foi ministro e até foi visitar à prisão quando esteve preso.
Razão tem Miguel Albuquerque, liberal e reformista do Estado e social-democrata [sempre!] da Madeira, escudeiro de Pedro Passos Coelho, que não são amigos de Alberto João Jardim que se foi sentar ao lado de Paulo Rangel naquele congresso dos "3 cães a um osso", quando diz que "em Portugal só quem vai preso é a arraia miúda".
Se calhar é por ser Agosto e o povo estar todo a banhos mas passaram despercebidas, não nas televisões do pensamento único mas nas redes sociais [gloup], as declarações do delfim de Pedro Passos Coelho nas ilhas adjacentes sobre a "renegociação" das Parcerias Público-Privadas, papagueadas pelo ministro da Economia, António 'soldado disciplinado' Pires de Lima e repetidas ad nauseam pelo querido líder Paulo Portas, em tandem com aquele-que-nunca-fala-verdade, candidato à renovação do mandato de primeiro-ministro,
que nos confirmam que não houve renegociação das PPP's coisíssima nenhuma, simplesmente o Estado vai deixar de fazer o que até então era responsabilidade contratual do privado e que os pneus, suspensões, direcção e chaparia diversa, vítimas das crateras e do mau estado do alcatrão, ficam por conta do cidadão-condutor-contribuinte.
Numa busca rápida pelo Google encontramos éne provérbios com o termo 'mentira'.
Sendo o Governo Regional da Madeira o maior empregador das ilhas, directamente via serviços e administração pública, ou indirectamente por via de concessões várias e das obras públicas adjudicadas a empresas "do regime", e estando o PSD, e as vitórias eleitorais do PSD, dependentes da rede clientelar assente nesta relação promíscua, como é que Miguel Albuquerque vai implementar a sua reforma do Estado sem “exterminar” o partido que dirige?
Da última vez que tinha ouvido falar em "chapelada" eleitoral tinha sido na casa do avô Zé, à roda da mesa de jantar, era eu um puto e o pai contava quando uns fulanos da Legião Portuguesa apareceram no quartel com uns boletins de voto que eles, depois de "aconselhados" pelo comandante da companhia, na parada em formatura, depositaram numa caixa. Não, o pai não esteve na tropa na ilhas adjacentes da Madeira e Porto Santo, esteve no Regimento de Infantaria de Évora.
Passou despercebida na generalidade da comunicação social, e na blogocoisa, a declaração de derrota de Alberto João Jardim, desvalorizando e atribuindo a expressiva votação em Miguel Albuquerque, nas directas para o PSD-Madeira, a um hipotético descontentamento devido aos acessos ao porte se encontrarem vedados a quem nunca deu o corpo ao manifesto pelo partido nas ilhas:
Pode ser que sim pode ser que não, certo é que tudo isto acontece num altura de crise, recessão, depressão e austeridade, com o país e a Região Autónoma sobre resgate financeiro, e que estamos a falar de um universo de 3859 militantes do partido, 1644 deles, a fazer fé nas declarações de Jardim, homeless partidários, excluídos do pote da promiscuidade entre Governo regional e empresas propriedade, ou com ligações a membros do Governo e à elite dirigente do PSD-Madeira, para uma população total de 267.785 de habitantes. Cada um que tire as suas conclusões sobre a autonomia regional desde 17 de Março de 1978.
[A imagem é de uma instalação de Ron Terada e um conselho aos hipotéticos 1644 homeless partidários, partidários de Miguel Albuquerque]