"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Acordaram todos, jornais e televisões, com o filme onde Gaza aparece transformada em destino turístico, com Musk na praia a atirar notas ao ar, Trump de molho na piscina ao lado de Netanyahu, estátuas do Agent Orange, uma criança com um balão com o cabeçudo e tudo, nativas a sacudir o umbigo. Uma merda que já circula pelo Insta e pelo Whats há mais de um mês. E gerou-se logo uma onda de indignação nas redes fazendo, jus à velha máxima "uma indignação por dia não sabe o bem que lhe fazia". E amanhã já não se fala mais nisso, prontes, que atrás da indignações vêm indignações outras indignações hão-de vir, já cantava o Bordalo que era Fausto. E porque é que acordaram todos, os jornais, as televisões, e os redistas [inventei agora] - aqueles que vivem nas redes, sobressaltados com aquela treta? Porque o Agent Orange a publicou na sua conta Insta, e a comunicação social, que se calhar já tinha dado por aquilo e não lhe tinha passado cartucho, como agora foi [re]publicada por quem foi, pegou e fez manchetes, e os redistas revoltaram-se do fundo do seu ser. Circulo fechado. É falso que os media andem com o populismo ao colo e lhe dêem gás, é falso que os redistas lhe dêem corpo e projecção. É falso que andem todos por aqui a fazer figura de ursos.
As urgências encerradas, com as de obstetrícia com sirenes e tinóni nos telejornais, passaram a urgências com contingências. Aberturas de telejornais com directos intermináveis nem vê-las.
Dos 200 mil alunos sem aulas no início deste ano lectivo contra os 73 mil em igual período no ano lectivo anterior ninguém ouviu falar nas televisões, não mexeu com os presidentes vitalícios das associações de pais, nem com o comissário Nogueira dos stores.
A gasolina e o gasóleo que eram para baixar mas que afinal subiram porque o Governo lhe aplicou mais uma taxa em cima não motivaram reportagens nem directos das bombas do costume, aquela na 2.ª Circular e aquela outra na rotunda de Moscavide.
A carga fiscal que era "asfixia fiscal" agora é "contribuição para o excedente orçamental".
O taberneiro uma vez acusou os jornalistas de "inimigos do povo" por apresentarem uma reportagem tal e qual ela havia sido filmada, sem filtros de redacção, quando os alegados jornalistas, na pele de "inimigos do povo", afinal só se limitam a omitir e maquilhar.
São aqueles lugares onde "não vive" ninguém. E os que por lá (sobre)vivem são assim a modos que mosquitos; estão lá para incomodar os turistas. O que é que se há-de fazer? Não há férias perfeitas…
Todos os anos a história se repete. Dos milhões de pessoas que vêm a suas vidas miseráveis ficarem ainda mais miseráveis por força da intempérie, nos jornais uma linha, daquelas sem virgula; nas televisões a tradicional imagem da enxurrada, mais umas vacas arrastadas, de pescoço de fora d’água, um cão em cima dum telhado. Desconfio até que seja sempre a mesma imagem. Este ano vou gravar para conferir com a do próximo ano.
Mas os turistas! Ah, coitadinhos dos milhares de turistas protegidos no hotel de 5 estrelas à prova de bala! E se forem portugueses então! (Já não bastavam os “mosquitos”…)
A utilização pelo Pentágono, desde o ano de 2003, de “analistas militares” com o objectivo gerar nos media uma cobertura positiva da luta antiterrorista.
“The Pentagon has cultivated “military analysts” in a campaign to generate favorable news coverage of the Bush administration’s wartime performance.”
“David Barstow, an investigative reporter for The Times, examines primary source documents detailing the Pentagon’s response to criticism of then-Secretary of Defense Donald H. Rumsfeld by a group of prominent retired generals.”