"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando era já dado adquirido que a exigência e o rigor de Nuno Crato tinham estado por detrás de "O Grande Salto Em Frente" na disciplina de Matemática entre os anos de 2011 e 2015 e que o laxismo dos "sabotadores contra-revolucionários, inimigos do Povo" a soldo da Fenprof tinha sido a causa da queda a pique a Ciências no mesmo período temporal, um trambolhão da 19.ª para a 32.ª posição, descobrimos que estávamos todos enganados e que afinal, também por mérito de Nuno Crato, "na ciência, os alunos portugueses tiveram desempenhos acima de países como Noruega, EUA, Austria, França, Suécia, Espanha, Rep Checa, Itália", explicou o Álvaro, doutor, e ficamos todos mais descansados.
A exigência e o rigor de Nuno Crato estiveram por detrás de "O Grande Salto Em Frente" na disciplina de Matemática entre os anos de 2011 e 2015 mas a exigência e o rigor de Nuno Crato não tiveram a mesma sorte na disciplina de Ciências no mesmo período temporal quiçá por causa do laxismo dos "sabotadores contra-revolucionários, inimigos do Povo" a soldo da Fenprof. A argumentação da direita radical é uma faca de dois legumes, para não dizer ridícula.
“É um programa para matemáticos, criado de um ponto de vista do ensino superior e que representa um retrocesso até aos anos 50, a uma abordagem extremamente formalista e teórica, que se distancia da aplicação da Matemática ao dia-a-dia”
Assim como as escolhas têm liberdade de escolha para leccionar ou não a disciplina de Inglês, também as famílias têm a liberdade para escolher se os filhos usam ou não os novos manuais escolares, se bem que na grande maioria dos casos esta liberdade esteja directamente relacionada com a "liberdade" económica dos pais, que teimaram em viver acima das suas possibilidades, como é por todos sabido. A seguir as escolas vão ter liberdade de escolha para decidir se querem ou não ensinar Matemática ou Língua Portuguesa ou Educação Física ou outra qualquer disciplina, e as famílias vão ter liberdade para escolher se querem que os filhos andem na escola ou a coser sapatos à mão numa fábrica em S. João da Madeira. Quem disse que o Estado tem de garantir a todos os cidadãos a igualdade de oportunidades? Ah, essa coisa da Constituição. Reveja-se, para que o Estado tenha liberdade de escolha para decidir se garante ou não aos cidadãos a igualdade de oportunidades, e a que cidadãos.