"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O senhor deputado que se viu envolvido num caso de «burla qualificada e falsificação de documentos» e que por acaso ironia do destino é o representante do PS numa comissão parlamentar – sublinho parlamentar – para a corrupção, é um apologista da máxima salazarista do “o respeitinho é muito bonito”; um tiranete em potência e, quiçá, membro do clube daqueles que colocam “doutor” antes da assinatura.
Definitivamente este grupo parlamentar do PS foi escolhido a dedo. Cada escavadela cada minhoca:
Eu também gostei muito da entrevista a Maria José Morgado e a Saldanha Sanches na Pública de domingo.
Principalmente desta parte: «S. S. – Mas éramos estalinistas. Com alguma crítica, mas aceitávamos o Estaline».
Como é que é aceitar e ser crítico ao mesmo tempo, do personagem em questão? Aceitavam o bigode e o chapéu, mas criticavam os mortos, os perseguidos, os famélicos e os milhões de migrantes forçados. Dois em um.
E dest’outra também: «M. J. M. – (…) A China, depois do Deng Xiaoping, também já não é socialismo (…)». Depois?!? Pressupõe que “antes do” fosse. Temos assim Mao, o carniceiro-mor dos comunismos, ao pé do qual o Estaline era um aprendiz, a passar pelos intervalos da chuva, convenientemente branqueado com a ajuda da menina Anabela Mota Ribeiro que conduz a entrevista.
Fosse um ex-PCP, e levava com o Estaline, o Lenine e o Yagoda, mais a fome na Ucrânia e o Gulag, e ainda a Hungria e a Checoslováquia e o Afeganistão, até ao fim da entrevista. Nunca mais se livrava da cruz. Nunca percebi estas cumplicidades jornalísticas para com os ex-maoistas. E são mais que as mães. E enxameiam de alto a baixo os dois partidos do Bloco Central. E ocupam funções governativas. E encaixaram-se em todas as grandes empresas deste país. Talvez seja por isso mesmo. Mais vale cair em graça que ser engraçado.
Camarada Saldanha; camarada Maria José: cantam bem mas não me alegram. Dito de outra forma: vão dar música a outro, que essa já eu ouço desde pequenino.
Adenda: A parte final da entrevista. «S. S. - Acho que nas pinturas há alguma sensualidade, e num casal tem de haver sensualidade. Mas pinta mal - como toda a gente sabe!». Cá para mim já esteve mais parecida com o Robert Smith…
Com a nomeação de Maria José Morgado para coordenadora do processo “Apito Dourado”, com o estatuto de “super procuradora”, Pinto Monteiro, Procurador-geral da República entra “a matar”.
Pelo competência profissional da magistrada, pelos meios colocados ao seu dispor (não consta que no pacote esteja incluído um passe social…) e, acima de tudo pelo prestigio que Maria José Morgado desfruta na opinião publica.
E é precisamente aqui, nas duas categorias de opinião que reside a chave do problema; o busílis da questão.
As expectativas na opinião pública são grandes, nomeadamente que as 81 certidões retiradas ao processo não sigam o caminho há muito anunciado; certidões de óbito.
Se na opinião pública as expectativas são grandes, na “opinião privada” serão enormes. Escudada na alegada inconstitucionalidade do diploma que pune a corrupção desportiva, a “opinião privada” deve ter ficado no mínimo gelada com as declarações ontem proferidas por Maria José Morgado; o diploma fez jurisprudência quando foi usado no caso que julgou e puniu o árbitro José Guímaro.
(Ninguém se tinha lembrado disto, ou não convinha lembrar? O cartoonista Quino, “pai” da Mafalda, tinha uma máxima: “A opinião publica só opina o que convém à opinião privada”; seria o caso?).
À “opinião privada” resta-lhe uma tábua de salvação – a alegada ilegalidade das escutas telefónicas; mas aqui, a fuga para a frente é de tal modo desesperada que se perdeu totalmente a noção do ridículo. Não se desmente o conteúdo das escutas e, com ilegalidade ou sem ela, há já muito que a “opinião privada” está formalmente condenada pela opinião pública.
Maria José Morgado já defendeu publicamente que Carolina Salgado merece protecção legal por pretender colaborar com a justiça.
Ora desde a publicação do livro “Eu, Carolina” que a “opinião privada” tudo tem feito para a desacreditar, “alternadeira”, “zanga de casal”, “má literatura”, são alguns dos adjectivos usados; a mesma estratégia usada com as escutas telefónicas, quando o que conta é, o que Carolina conta.
A este propósito, Fernanda Câncio na sua crónica de hoje no Diário de Noticias, coloca o dedo na ferida, “È que Carolina é uma ex-alternadeira, não uma intelectual com cachet.”
O tratamento dado pela “opinião privada”, para consumo na opinião publica, é assim de uma desigualdade gritante em relação a outras publicações, tão ou mais medíocres do ponto de vista literário e do interesse publico, como o são os livros de Manuel Maria Carrilho e Pedro Santana Lopes, cada qual com direito a tempo de antena e, entrevista antes, durante e depois dos telejornais.