"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando não tens nada para dizer mas tens de o fazer porque é mais forte que tu, não é defeito é feitio, tem gosto o burro em ouvir o seu zurro, mas ao dizeres tens de o dizer de forma embrulhada e a jogar com as palavras para que pareças muito sensato, e acima de tudo pietas para a gravitas do núcleo duro da tua base política de apoio, que pensa em privado o que os radicais que não podem ser vítimas de anti-radicalismo ousam dizer em público, e que até tem órgãos de comunicação social, e acesso ao prime time da televisão, para o dizer menos embrulhado que tu, com argumentos de revisionistas doutorados em História e de filósofos estruturantes do pensamento . Mais valia estares calado.
Faz hoje precisamente três anos que Portugal se sagrou campeão da Europa em futebol com uma equipa de pretos, ciganos e brasileiros, estranhos à "entidade civilizacional e cultural milenária que dá pelo nome de Cristandade", não herdeiros dos "Direitos Universais do Homem decretados pela Grande Revolução Francesa de 1789", e isto, como diz o povo, é do caralho!
Pessoas que apontam o ódio contra a liberdade nascido do fanatismo igualitário inspirado por Rousseau e materializado na mãe de todos os males do mundo moderno - a Revolução Francesa, também nos explicam que antes da dita cuja Revolução Francesa e antes do maldito-seja-o-seu-nome Rousseau tudo corria às mil-maravilhas na Europa, em geral, e em França, no particular; liberdade, igualdade e fraternidade, justiça social, educação e qualidade de vida, carga fiscal justa, tratamento digno para todos os súbditos [cidadãos é modernice revolucionária e adjectivo que se quer substantivo, logo subversivo], a normalidade a que os revolucionários vieram pôr termo, os revolucionários nascidos do nada, de geração espontânea, sem causas, só com efeitos e acima de tudo obstáculo epistemológico à evolução na continuidade.