"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando José Sócrates aparecia nas aberturas dos telejornais, depois de mais um PIN atentatório do património ecológico e ambiental comum, em tendas montadas no "local do crime" por empresas organizadoras de eventos a anunciar "um dia histórico" para o país e para a região, com um investimento de não sei quantos milhões de euros, gerador de mais não sei quantos milhares de empregos, directos e indirectos, nunca posteriormente confirmados pela comunicação social pé de microfone, e Manuela Ferreira Leite ousou argumentar que tal criação de emprego era na Moldávia, no Brasil ou em Cabo Verde, levou com a esquerda [quase] toda em cima, sem ver o que estava à frente de todos no dia-a-dia e sem raciocinar e perceber que esta reacção emotiva às palavras da então líder do PSD mais não era que assinar por baixo um dos princípios base do capitalismo neo-liberal: a desregulação total e a total ausência de direitos e garantias em nome do objectivo lucro máximo-despesa mínima e bem-estar de uma minoria.
Agora que temos em Odemira, Almograve, no Perímetro de Rega do Mira, e um pouco por todo o país, do Alqueva ao nordeste transmontano, a criação de emprego no Nepal, Paquistão e Sri Lanka, se calhar a esquerda "cão de Pavolov" já fazia um acto de contrição.
O país onde um projecto PIN [Potencial Interesse Nacional] com não-sei-quantas-centenas de camas e mais não-sei-quantos-buracos de golfe nasce numa área protegida ou de reserva onde antes era proibido montar uma tenda de campismo selvagem;
o país onde um fábrica de celuloses leva dezenas de ano a fio a despejar impunemente num rio águas residuais sem tratamento, contra advertências escritas da tutela e coimas simbólicas aplicadas pelos tribunais;
o país onde os cidadãos são ciclicamente convocados a pagar os desmandos dos bancos e dos banqueiros da excelência da gestão privada;
o país onde os deputados e ministros circulam entre o público e o privado, negociando com as empresas enquanto governantes o que vão administrar no privado depois de largarem os cargos para os quais foram eleitos ou nomeados pelo partido saído vencedor de eleições livres e democráticas;
o país onde as auto-estradas são concessionadas a privados ficando o Estado com o ónus da manutenção e da compensação por o tráfego não atingir os números calculados numa projecção irrealista entre as portagens cobradas e os veículos que não circulam;
o país onde o Estado financia com o dinheiro dos contribuintes um Estado paralelo denominado de IPSS e "economia social" numa duplicação de funções;
Gente de esquerda que se esqueceu de Manuela Ferreira Leite ministra da Educação. Gente de esquerda que se esqueceu de Manuela Ferreira Leite ministra das Finanças. Gente de esquerda que se esqueceu de Manuela Ferreira Leite líder do PSD.
Gente de esquerda com fraca memória.
Gente de esquerda que não se dá ao respeito. Gente de esquerda com falta de respeito por si própria.
Já paravam com isto, do Manuela Ferreira Leite disse. Ou vale tudo, na base do inimigo do meu inimigo meu amigo é?
Gente de esquerda que já esqueceu de que Manuela Ferreira Leite vota no PSD porque não é o nome do líder que vem no boletim de voto. Pedro Santana Lopes, outro que tal, não se deve ter esquecido disso.
«Ligaram-me do marketing a dizer , "eh pah, temos aqui uma ideia que é a tua cara", e eu, "fuuu, pah, que maravilha, se é a minha cara agora é que vai tudo aderir ao bloco central", e eles, "nãooo, só tens de dizer que Portugal vai fazer o póoos Cavaco", e eu, "póoos Cavaco, o que é isso?", e eles, "é o Cavaco que dura 5 anos apóoos o Cavaco", e eu, "pfuuu, tão bom "»
«No programa Bloco Central deste sábado, Pedro Adão e Silva lança o nome de Manuela Ferreira Leite como potencial candidata à Presidência da República, argumentando que o próximo ciclo político, os próximos anos, «vão exigir uma enorme cultura de compromisso», e que com o PS no governo «não há vantagem nenhuma em ter em Belém o mesmo espaço político que está representado em S. Bento».
No partido com maior circulação de elites dirigentes entre cargos ministeriais e conselhos de gerência e/ ou administração de empresas privadas; no partido de maior circulação de militantes entre a administração do Estado e/ ou empresas públicas e o sector privado; no partido onde o líder, e o seu inner circle, cresceram e engordaram em empresas privadas abrigadas no guarda-sol do Estado e dos fundos comunitários; no partido da promiscuidade entre o Estado e o sector privado, abrimos muito a boca de espanto e fazemos uma grande cara de caso, porque vivíamos todos no mundo da Lua e não percebemos que o ataque cerrado às parcerias público-privadas era manobra de diversão do departamento de agit-prop do partido, concertado com uma comunicação social capturada e acéfala, e mostramos muito receio, fundado receio, por o Governo, que tem em cada gabinete ministerial uma foto emoldurada de Margareth Thatcher, voltar a apostar nas PPP.
Ver comentadeiros-opinadores, os que fizeram campanha por Manuel Ferreira Leite – a salvadora-mor da pátria, por Pedro Passos Coelho a atacar Manuela Ferreira Leite – a suprema-irresponsável da nação. Who the fuck is Manuela Ferreira Leite?
Como se já não bastasse as pitonisas de Cavaco Silva que nos entram pela casa adentro logo no minuto seguinte às comunicações presidenciais a dizer-nos que a coisa nenhuma que o Presidente disse é afinal coisa de muita monta, nós é que somos lerdos, temos agora as pitonisas de Manuela Ferreira Leite que nos querem fazer crer que o que a senhora disse afinal não disse, ou que a senhora não disse o que na realidade disse. É o que ela quis dizer. É o sentido das palavras.
Amar o próximo, acudir aos pobres e os desvalidos, Pai-Nosso e Ave-Maria, fazer o sinal da cruz 3 vezes e tomar a hóstia. Caridade cristã. Esta gentinha está sempre na primeira fila da missa.
[Na imagem Santa Lourdes Vuitton por Francesco de Molfetta]
Os olhos que vêem. São os de José Sócrates que ficou na fotografia. São os de Pedro Passos Coelho que está por detrás da objectiva. Podia ter sido ele a tirar a foto. Não são os de Manuela Ferreira Leite. Não ousa sequer olhar, olhos nos olhos, o suserano na hora da saída do manso senhorial. São os de Cavaco Silva numa, e só numa direcção. Cada coisa a seu tempo, o seu tempo para cada coisa. Os olhos que vêem são os nossos. No dia de Portugal o sumário de mais de 30 anos da nossa história recente. Uma imagem vale um milhão de palavras. Missão cumprida.
O que é preocupante, do ponto de vista do cidadão anónimo, aquela faixa do eleitorado, flutuante, que oscila entre o PS e o PSD e que costuma decidir as eleições, não são as recusas, conhecidas até à data, para integrar as listas de deputados do PSD às eleições de 5 de Junho. Preocupante é os convites terem sido endereçados a tais personalidades. E diz muito. Sobre quem convida, sobre quem é convidado, e, sobretudo, sobre as expectativas para o que aí vai vir.
«(…) soaram vários alertas da direcção parlamentar e do partido para que se avançasse com muita calma nesta matéria por ser passível de “sobrar para todos”.
Em causa estão negócios como a compra de submarinos, dos helicópteros EH-101, dos blindados Pandur e a modernização dos caças F-16, ou seja, compras que se estendem ao longo de vários governos, entre eles o de Durão Barroso, que teve como ministro da Defesa o líder do CDS, Paulo Portas.»