"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Numa coisa o líder da UGT, Carlos Silva, tem razão: cedências atrás de cedências traduzidas em diminuições do salário real e do tempo de descanso, aumentos das mais-valias para os patrões e accionistas sem retorno para a economia real, perdas de direitos e garantias dos trabalhadores sempre em favor da rigidez patronal, é um sucesso… para os patrões.
Até à data o papel da UGT tem sido o de passar uma imagem de credibilidade e seriedade a decisões tomadas em sede de concertação social e de onde saem como se de negociações se tratassem, evitando com isso às organizações patronais a 'maçadoria' de negociarem entre si e entre si e o Governo.
A hastag #OGiganteAcordou [O Gigante Acordou] no Instagram, à hora em que publico este post, já leva qualquer coisa como 445 103 e fotos publicadas.
Uma boa base de trabalho para os sociólogos e para a sociologia política.
Adenda: Gastar 9 329 caracteres a escrever sobre "Os perigos do antipartidarismo" sem referir que a principal razão que levou a que milhões de pessoas saíssem para as ruas, dias seguidos, a gritar contra os partidos, se deve ao establishment e à praxis desses mesmos partidos, tendo recebido de volta a polícia, tal e qual ela era no tempo da ditadura militar, e que prendeu e torturou aqueles que agora ocupam a cadeira do poder, é obra! Ou então é-se pago ao metro de papel preenchido.
A da foto. Ou talvez "A Justificação". Isto é um problema dos velhos. Isto não é um problema dos velhos. Isto é um problema dos novos. Isto não é um problema dos novos. Isto é um problema de gerações. Isto não é um problema de gerações. "Os bons velhos tempos" e "no meu tempo". É que todos os tempos têm um tempo e bons velhos tempos. E estes tempos novos também têm guardiões da Democracia, dos velhos tempos, e o perigo dos novos tempos não serem balizados, enquadrados, organizados. Por quem, d[n]os velhos tempos, incendiou os novos tempos, sem perceber que "a sede de uma espera só se estanca na torrente", como na canção? E a "ingratidão" [que ainda não foi] usada como argumento, é uma questão de tempo. Argumento de quem, d[n]os velhos tempos, não percebeu nada e já perdeu o tempo do "sai da frente que já estamos fartos e já estamos noutro tempo".
Ou é preciso estar de muita má fé ou é preciso ser muuuuuito estúpido [e estou a ser educado] para não perceber que os protestos no Brasil não têm nada a ver com keynesianismo mas com a corrupção e a promiscuidade entre o público e o privado [que idolatra Hayek]; com os negócios milionários do sector privado à sombra do guarda-sol do Estado; com quem jurou servir o povo e defender a Constituição e usa o cargo para o qual foi eleito para daí tirar proveito e enriquecer do dia para a noite. Dito de outra maneira, têm a ver com keynesianismo na medida em que as pessoas nas ruas se manifestam contra a forma como o investimento público é feito, o país do futebol não quer investimento público em estádios de futebol, quer investimento público em saúde e educação. Quer keynesianismo sim, mas noutra direcção e transparente. Não há cão nem gato que não fale de Keynes, que é como quem diz, toda a merda fala de Keynes.
Nos tempos da Guerra-Fria volta e meia também aconteciam as manifs - convocadas pelos diversos Conselhos para a Paz e Cooperação -, pelo desarmamento, e onde se gritavam palavras de ordem contra o único imperialismo mau no planeta e arredores: o amaricano (com a). São os mesmos de agora. Alguns mais velhos, outros mais novos. O X Factor é que mudou. Ou nem tanto.
«Convocam-se todos os professores para estarem presentes à porta do Pavilhão, não para ‘atacar’ sua excelência, que os professores não são arruaceiros, mas sim para lhes dar mostras da nossa dignidade mas irredutibilidade»
Esperemos que isto não passe de uma brincadeira de mau gosto. Mas a acontecer, só vem dar razão ao que de há algum tempo a esta parte venho defendendo aqui nas páginas do blogue: o PC perdeu o controlo da situação. Pode convergir pontualmente com esta nova espécie de anarkas; pode tentar cavalgar a onda; pode tentar tirar dividendos; mas, no essencial, a “mãozinha” agit-prop não anda lá. Este não é o modus operandi do PC. Neste momento não é só no PS que se vive uma situação de Rewind até aos idos de 75. O PC está a passar pelo mesmo, quando à época, e em determinadas situações, era ultrapassado pela esquerda, pela direita e pelo centro, por tudo o que era grupelho político. A angustia de perder o controlo da situação E acreditem, este tipo de acontecimento de rua, dói muito mais ao PC que ao PS.
Mas a questão para mim interessante é: E se no dia do comício estiverem cá fora tantos ou mais do que os que estão lá dentro?
Declaração de interesses: com este post não se questionam a maior ou menor justeza das políticas do Governo; a maior ou menor razão das manifestações de protesto; quer pelos sindicatos, quer pelos outsiders.
Uma coisa é aquilo que José Sócrates pensa. Outra coisa completamente diferente é aquilo que ele, e todo o batalhão de spin doctors nos dizem, e nos querem fazer ver.
Numa primeira fase era “A Festa da Democracia”. Quando, na perspectiva do Governo, passou a ser “Festa” a mais, já a entrar na fase do “After Hours”, passaram a ser “os mesmos de sempre” – o PC e a CGTP; entenda-se.
Mas Sócrates sabe bem que não é bem assim, e a prova é o comício convocado pelo PS para o próximo dia 15 de Março. Uma fuga para a frente; responder com as mesmas armas do adversário. Outra vez a rua. Um Governo de maioria absoluta nas ruas!
Não sei se terá sido uma boa ideia. As comparações serão inevitáveis. Com a manif do PC de passado sábado. Com a manif dos profs no próximo dia 8. Se a ideia era um regresso ao dia 19 de Julho de 1975 – e nada me diz que não é! –, arrisco que seja um tiro, não pela culatra, mas no mínimo, de pólvora seca.
Os tempos são outros. Os pressupostos são outros. Já ninguém tem medo do perigo comunista. Na Fonte Luminosa de 75 o PS não esteve só; teve por companhia todo o espectro politico-partidário que se situava à direita do PC e que acorreu ao tocar a rebate de Mário Soares. Hoje, a famosa central de comunicação do Governo; os spin doctors de Sócrates, não conseguem travar a ideia que alastra, de que a Democracia e as Liberdades, e, principalmente o bem-estar e a qualidade de vida, estão em perigo. E aqui é que está a nuance em relação a 75.
A Fonte Luminosa reloaded? Não me parece…
Adenda: Para mim, mais importante que a contagem dos milhares dia 15 no Porto, será a identificação dos ilustres que vierem a marcar presença.
Aqueles que, assim que ocupam o poder se encarregam de recusar e de retirar às mulheres os seus mais elementares direitos e garantias; aqueles que, para quem as mulheres não são mais que um acessório necessário para a procriação; são aqueles que, organizam uma manifestação, e, sem um mínimo de pudor, colocam à cabeça do protesto as mulheres e as crianças. Que nome se dá a isto?
Como muito bem escreveTomas Vasques; e eu assino por baixo:
“Nestas manifestações, o caricato é que são ilegais à luz de um decreto-lei assinado por Vasco Gonçalves, ou seja, num tempo em que se queria ilegalizar as manifestações contra o governo e em que não haviam sms, email e blogues. Tanta conversa que por aí vai, mas ninguém no Parlamento, em tantos anos, atirou o dito decreto-lei para o lixo. Devem estar à espera de condenações de manifestantes em pena de prisão (os Tribunais aplicam as leis em vigor) para poderem gritar que a democracia se está a esvair.”
Agora a questão que se coloca é: e aquelas manifestações “espontâneas”, do beijinho e do aperto de mão, em que tudo é sorrisos e boa disposição, do manifestante ao governante; também são ilegais à luz do decreto-lei de Vasco Gonçalves; ou não? Onde é que anda a diligente e zelosa polícia nessas alturas?
Antes pelo contrário! Um possível acto de violência ou atentado viria sempre de dentro das hostes dos beijinhos e dos apertos de mão, sempre convenientemente presentes em todas as visitas oficiais, e que dão um jeitaço do catano para avalizar o sucesso das políticas governamentais e a sua aceitação pela populaça; com a vantagem de não estarem sujeitas a pedidos de autorização nem a licenciamentos pelos governos civis. Os exemplos são mais que muitos. Recorro só a dois ou três, para não maçar: o atentado a João Paulo II em Fátima, veio de uma manifestação de infiéis? O atentado que vitimou Anwar Sadat em 1981 foi cometido por um manifestante hostil? O assassinato de Olof Palme foi cometido a coberto de uma manifestação não autorizada? E o de Kennedy?
Por favor não insultem a inteligência dos portugueses… senão só nos resta partilhar da opinião dos sindicatos quando defendem que isto não são mais do que manobras de intimidação e autoritarismo.
Está bem que a Lei é do tempo do Vasco Gonçalves, e que tem de ser cumprida e o coiso e tal. Está bem que se uniformizem e clarifiquem as normas para evitar que situações como esta se voltem a repetir. Mas expliquem-me lá, como se eu fosse muito burro: os figurantes – pagos ou não – que aparecem nas aparições de Sócrates (isto é o efeito Fátima), sempre dispostos ao aperto de mão e ao beijinho, também podem ser considerados como manifestação ilegal, ou o termo só é aplicável aos que aparecem para protestar?