"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"O mundo mudou", diz a mãe para o pai, agente do tribunal revolucionário de Teerão nas investigações que legitimam as penas de morte aplicadas às mulheres nos "protesto do véu", a propósito das "liberdades" das duas filhas do casal. "Mas não mudou Deus. Nem as suas leis", responde.
O poder sempre teve um problema com o cabelo. Na tropa é rapado à chegada e nunca tem ordem de grande crescimento até à hora da saída. Durante o PREC, quando a autoridade dentro dos quartéis andou pelas horas da amargura, os tropas deixaram crescer abundantes guedelhas e fartas barbas e patilhas, é ver as fotos da época. Reza a história que o botas de Santa Comba mandava ministros e secretários de Estado comprar um chapéu. Os hippies deixaram-no crescer até tamanhos nunca vistos, os punks eriçaram-no e meteram cristas à moicano, e os skinheads, antes da conotação política, rapavam-no como imagem distintiva da classe operária e dos imigrantes jamaicanos à margem do sistema. Rui Barros quando chegou a Turim com um vasculho na cabeça, antes de pisar o relvado, foi mandado à barbearia por Agnelli, o dono do clube, e com isso fez abundantes primeiras páginas em Portugal sobre o exemplo do profissionalismo do futebol italiano por oposição à lendária rebaldaria do tugão. À imagem das mulheres tapadas nos países governados por barbudos, também eles com o cabelo enrolado em trapos, em Portugal nos idos do fascismo a mulher andava na rua com um lenço na cabeça, e se enviuvasse era o lenço para sempre nos meios rurais ou em comunidades do litoral como as piscatórias. Quem tinha o cabelo um dedo por cima da orelha era apodado de guedelhudo, daí o cabelo à foda-se ou crescidinho atrás, característicos dos betos, que sem mais nada para se revoltarem, mantinham a aparência da insurgência dentro da ordem da classe a que pertenciam. É ver nos mais antigos que ainda por aí circulam, Balsemão por exemplo, ou nos mais novos de idade mas com a mesma idade mental, Lobo Xavier, João Almeida e restante betaria do defunto CDS.