"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Um pateta que faz um álbum de rock sinfónico em 1978, já o punk, que tinha morto e enterrado o rock sinfónico, tinha sido cremado. 1978 é, por exemplo, o ano de Give 'Em Enough Rope dos The Clash, Easter de Patti Smith, This Year's Model de Elvis Costello, More Songs About Buildings and Food dos Talking Heads, Blue Valentine de Tom Waits, Darkness on the Edge of Town de Bruce Springsteen, Outlandos d'Amour dos The Police, The Modern Dance dos Pere Ubu, e Germfree Adolescents dos X-Ray Spex, entre outros, mas o pateta arvorasse no direito de perorar sobre reinados na pop...
Ah e coise, fiz um disco "10 mil anos" depois, que ninguém ouviu e ninguém comprou porque se o disco tivesse sido feito "10 mil anos" antes o pessoal tinha comprado um dos Yes, dos Van der Graaf Generator, dos King Crimson, ou mesmo dos Genesis. O quarto melhor disco do género do ano, diz na wiki, a pensar se calhar no quarto de dormir, apesar de no glorioso ano de 1978 só um obscuro canto de cisne Heavy Horses dos Jethro Tull aparecer referido cá para o fim da lista dos best of, na liga dos últimos.
Pertence ao partido político do Bugalho, o partido dos patetas levados ao colo com tempo de antena. Razão tinha o Manuel Machado quando disse "para mim, na vida, um vintém é um vintém, um cretino é um cretino. São valores absolutos".
O sonso, que se queixa do êxodo provocado pelo alojamento local que, a pouco e pouco, vai transformando Lisboa num parque temático, depois de muito esmifrado e apertado por toda a gente, deixa cair que é o arrumador de carros de Madonna, pelas moedas que recebe em troca do serviço prestado, privilégio que não concede aos indígenas que ainda resistem ao êxodo, porque a rainha da pop é bom cartaz, que atrai mais turistas a Lisboa, que fomentam o alojamento local, que pressiona o êxodo. O nacional-parolismo em todo o seu esplendor.
A táctica é velha na pop e no rock – com algumas incursões em outras áreas das artes e das letras – e deve ter surgido genuinamente e por acaso. A Igreja engoliu o isco e a partir daí foi o filão. Estou a lembrar-me da Sinéd O’Connor; por exemplo.
Apesar de já ter dentes, os media vão sempre ao engodo. Quem parece que aprendeu a lição foi a Igreja; farta de dar para os peditórios alheios.