"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Não não vamos governar o país com o apoio do Chega porque não precisamos". E se, com mais ou menos suor a escorrer por todos os poros, precisarmos [precisarem]? Ninguém perguntou. Quase 50 anos passados sobre a revolução de Abril e continuamos a levar com os artistas da semântica. E são todos grandessíssimos democratas, que ninguém ouse questionar isso.
Que pela primeira vez uma linha vermelha foi traçada pelo PSD, com o Chega não conta para soluções de governação, papagueiam até à exaustão os comentadeiros e analistas de serviço nas televisões a propósito da chico-espertice elaborada por Miguel Albuquerque para fugir à questão. Vamos todos fazer de conta que a seguir a "com o Chega não" não havia uma vírgula e continuava "porque é um partido centralista, contra a autonomia". A linha vermelha não foi traçada por o Chega ser albergue de fascistas e nazis, um partido genuinamente anti-democrático a coleccionar deliberações atrás de deliberações do Tribunal Constitucional a invalidarem tudo o que é decidido em congressos e assembleias. Uma linha vermelha foi traçada mas no sentido de estar comida pela traça.
Cada um tem o seu campeonato dentro do campeonato que é espremer resultados eleitorais para conseguir não perder umas eleições nem sequer levar uma abada. Mais a piada que se fez sozinha, o candidato vitalício do PCP na Madeira passar toda uma campanha eleitoral a dizer que tinha chegado a hora da mudança.
O "operário" Raimundo foi à Madeira dizer coisas. A Madeira que, assolada com o regresso de milhares de retornados e descendentes de emigrados a fugirem à fome e à miséria na Venezuela, insiste em não perceber a mensagem do "operário" Raimundo, que a alternativa à governação de 47 anos é a CDU, a CDU do PCP que apoia Maduro na Venezuela, de onde esta gente toda parece não parar de chegar.
Fugido à justiça, acusado de roubo, dois doutoramentos inventados, suborno de ministro em Cabo Verde, a Food and Drug Administration norte-americana em cima da empresa, facturação empolada, financiamento ilegal de partido político, a jogar em dois tabuleiros, o da extrema-direita declarada e o da extrema-direita encapotada no "sentido de Estado" e "arco da governação".
O PSD, que perdeu votos, deputados e uma maioria absoluta de 43 anos, ganhou as eleições porque chegou ao fim em primeiro lugar e vai formar governo;
O PS, que já tinha chegado ao Governo da Região Autónoma ainda antes do dia das eleições que perdeu, ganhou as eleições porque triplicou os número de votos e de deputados;
O CDS, que passou de sete para três deputados e perdeu 8 000 votos, ganhou as eleições porque se alçou ao poder e com três deputados eleitos consegue encaixar 300 'John Antunes' na estrutura do Governo Regional, sem contar com o volume de negócios que virá por arrasto para as empresas amigas e dos amigos;
Rui Rio, o íntegro, o economista da "escola alemã" [Colégio Alemão do Porto], das boas contas, das "contas à moda do Porto" [o que quer que isso signifique], contra o despesismo e o compadrio sócratista, na festa do PSD no Chão da Lagoa "já imaginaram se em vez de um, houvesse mais quatro ou cinco Alberto João por esse país fora?". Sim já imaginámos. Antes o passista e mui liberal Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, tinha aquecido o pagode na primeira parte do concerto interpretando temas como "os socialistas da treta que levaram o país à falência". Sai mais uma rodada de shots de poncha.
Suponhamos, não digo que um cego começasse a ver ou um paralítico a andar que isso são coisas dos evangelhos, mas que uma criança fosse salva do coma por devoção dos pais a Nossa Senhora do Monte no Funchal, era milagre, intervenção divina, motivo para peregrinações várias e promessas diversas, um culto sem fim. Como 13 pessoas morreram e 49 ficaram feridas no largo da igreja numa romaria ao Monte da Sé o mesmo princípio dos milagres já aqui não se aplica, não foi intervenção/ castigo divino, foi um azar do carvalho, Alvarinho. É a hipocrisia e a desonestidade da Igreja Católica a surfar a crendice e a ignorância.
Melhor que o aeroporto do Funchal ter o nome de Cristiano Ró-náldo é a família do Cristiano Ró-náldo, a todas as horas certas nos canais noticiosos do cabo, que sim senhor, que acham muito bem que o aeroporto do Funchal se chame aeroporto Cristiano Ró-náldo.
Com Agosto à porta e com as pessoas a irem de férias com mais dinheiro na carteira, depois de salário mínimo actualizado e feriados repostos, resta-nos Passos Coelho no Chão da Lagoa a espalhar o ódio e a anunciar as bestas do Apocalipse com um sorriso de satisfação a iluminar-lhe as fuças, depois de ter feito a ronda por todas as tascas é, de certeza, um pormenor.
Que as faladas sanções não são referentes a 2015 e ao Governo da direita radical, que teria as metas flexibilizadas e adaptadas à realidade como as teve em 2011, 2012, 2013 e 2014 sob vigência da troika; que as faladas sanções são sobre um Governo que ainda não falhou uma única meta, sob pena de se provar que é possível alcançar o acordado sem empobrecer o país, sem empobrecer as pessoas, sem lhes retirar direitos e garantias, as tais reformas estruturais que estão a ser revertidas; tem medo Passos Coelho que as faladas sanções, se aplicadas, sejam revertidas pelos tribunais, um acto de insubordinação para quem está habituado a baixar a cabeça e obedecer sem questionar e a ver os tribunais como um empecilho.
Se calhar é por ser Agosto e o povo estar todo a banhos mas passaram despercebidas, não nas televisões do pensamento único mas nas redes sociais [gloup], as declarações do delfim de Pedro Passos Coelho nas ilhas adjacentes sobre a "renegociação" das Parcerias Público-Privadas, papagueadas pelo ministro da Economia, António 'soldado disciplinado' Pires de Lima e repetidas ad nauseam pelo querido líder Paulo Portas, em tandem com aquele-que-nunca-fala-verdade, candidato à renovação do mandato de primeiro-ministro,
que nos confirmam que não houve renegociação das PPP's coisíssima nenhuma, simplesmente o Estado vai deixar de fazer o que até então era responsabilidade contratual do privado e que os pneus, suspensões, direcção e chaparia diversa, vítimas das crateras e do mau estado do alcatrão, ficam por conta do cidadão-condutor-contribuinte.
Numa busca rápida pelo Google encontramos éne provérbios com o termo 'mentira'.
Sendo o Governo Regional da Madeira o maior empregador das ilhas, directamente via serviços e administração pública, ou indirectamente por via de concessões várias e das obras públicas adjudicadas a empresas "do regime", e estando o PSD, e as vitórias eleitorais do PSD, dependentes da rede clientelar assente nesta relação promíscua, como é que Miguel Albuquerque vai implementar a sua reforma do Estado sem “exterminar” o partido que dirige?