"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Jorge Roque da Cunha, comissário político vitalício do PSD no sindicato dos médicos, que só vai à luta quando o partido a que pertence é oposição, já a prever os 0% que vai receber caso o camarada Luís Montenegro se alce a primeiro-ministro, aceitou do Governo do Partido Socialista 14,6% dos 35% que pedia de aumento. E não há maior prova da honestidade das propostas do PSD de Luís Montenegro que esta.
Portanto, alguém levar um ordenado decente para casa no final do mês obriga estar 14 horas à disposição da entidade empregadora, pública ou privada. Das 6 às 20 horas, sendo que para entrar às seis tem de se levantar da cama pelo menos uma hora antes para se preparar, higiene pessoal, vestir, etc, e ainda mais algum tempo para quem trabalha longe de casa. E depois sair às oito da noite, pelo menos mais uma hora para entrar na porta da rua às 21 horas, até já acabou o telejornal. E depois faz o quê? Janta e vai para a cama porque está todo partido e no dia seguinte tem de repetir a rotina. Nem televisão, nem saída à noite com a mulher ou os amigos, nem ida ao teatro, ao cinema, a um concerto, e se tiver filhos o crescimento e a educação passam-lhe completamente ao lado.
O Erislandy Lara e o Guillermo Rigondeaux fugiram, o Yiselena Ballar e o Yaimé Pérez fugiram, a Yurisel Laborde fugiu, o Pedro Pichardo fugiu, e o Andy Cruz só não fugiu porque os barbudos o foram sacar de dentro de uma balsa onde se tinha metido a caminho de Miami, mas os médicos vêm como tráfico humano, trabalho forçado e chantagem sobre a família.
Um Governo de fanáticos, ideologicamente cegos e sem a mínima intenção de flexibilização negocial, mete mãos à obra de aplicar à sociedade uma cartilha política que, além de não ter sido sufragada em eleições, foi escondida dos cidadãos pela omissão e pela mentira e, quando determinados sectores da sociedade reagem em defesa do bem comum, ó da guarda que é "por motivos políticos" que exploram o descontentamento da sociedade. Se calhar a sociedade que se sente enganada e usada pela mentira política que não foi a votos. Fazer os outros de estúpidos é isto.
A ideia [porque há uma ideia] não é acabar pura e simplesmente com o Serviço Nacional de Saúde, a ideia é arranjar maneira de os profissionais de saúde não quererem trabalhar no Serviço Nacional de Saúde de forma a acabar com ele.
No final da legislatura o serviço vai ser tão mau, mas tão tão mau [mas tendencialmente gratuito e inscrito na Constituição], que só os "pobrezinhos" vão fazer uso dele. Depois entram as IPSS e as Misericórdias. E a miséria.
Por muito menos colocava o meu professor da Primária o pessoal de castigo a escrever 50 vezes a mesma palavra em cadernos de duas linhas.
Duas coisas que nunca percebi: como é que alguém consegue tirar um curso de Medicina sem saber escrever, e porque é que o curso de Farmácia inclui uma cadeira de Caligrafia, vertente hieróglifos.
(Na imagem caligrafia de Bíblia Latina de 1407, manuscrita na Bélgica por Gerard Brils, para leitura em voz alta num mosteiro e em exibição em Malmesbury Abbey, Wiltshire, Inglaterra.)