"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Aliás muitos vão dizendo, é pá eles se abrirem eu vou meter atestado" [minuto 02:14], diz com a maior das naturalidades o comissário Mário Nogueira. Professores que metem atestado sem estarem doentes era coisa que toda a gente já sabia, a novidade é ter sido dito com o maior dos desplantes na televisão para toda a gente ouvir, desde os que estão em casa em layoff, aos que se viram de um dia para o outro no desemprego ou com o negócio à beira da falência, até aos que para a semana começam já a trabalhar na fábrica, todos os dias com o coração nas mãos. Toda a gente ouviu excepto o bastonário da Ordem dos Médicos, sempre ligeiro a apontar o dedo às falhas do Serviço Nacional de Saúde. Médicos que passam atestado médico a pedido e a quem não está doente, vai na volta a culpa é do Governo e do ministério da Saúde. Como diz o outro, "isto é gozar com quem trabalha".
Procissão Cristas, ministra no Governo da birra irrevogável até subir no rating ministerial e ser nomeado vice-pantomineiro, a atirar à cara de António Costa a ameaça de demissão de José Sócrates a propósito de um PEC qualquer.
Comissário Mário Nogueira, chantageador-mor da República, há mais de 20 anos não faz outra coisa que chantagear governos, professores, pais, encarregados de educação e alunos, a acusar António Costa de chantagem.
Pandora tinha uma Caixa que depois de aberta deixou escapar todos os males do mundo excepto um, a esperança. A esperança de que, como o que foi aprovado não aumenta num cêntimo que seja o encargo para o Orçamento do Estado, ler o dinheiro dos contribuintes, toda esta gente do funcionalismo público e da administração do Estado, que vive numa realidade paralela à dos seus co-cidadãos, venha a ser paga em notas de Monopólio.
O que estes senhores estão a dizer aos pais e encarregados de educação que, durante os anos desgraçados do "ajustamento", desde os idos do 2.o Governo de José Sócrates até aos últimos dias do Governo PSD/ CDS/ Troika, viram as vidas e as carreiras suspensas, conheceram o desemprego, os salários em atraso, a emigração, que perderam apoios sociais na exacta proporção em que eram taxados, impostados e sofriam reduções salariais substantivas, enquanto mantinham os filhos na escola e pagavam explicações, por fora e sem recibo, aos mesmos professores que na escola não lhes chega o tempo nem têm jeito para ensinar e se lastimam em posts no Facebook, em directo da praia e no horário de trabalho, do martírio que é a vida e a carreira docente, e que passados estes 4A 9M 2D que sofreram na pele, como na badge na lapela do Comissário Nogueira e não são exclusivo dos stôres mas uma realidade de todo o sector privado, se calhar com um 6, um 7 ou um 8 antes do A, e que começam agora a ver a sua vida recomeçar onde tinha ficado, o que nos estão a dizer é que afinal a desgraça ainda não acabou porque há uns senhores que, do alto do Olímpio onde se colocam, se acham acima dos sacrifícios passados por todos os portugueses e se sentem no direito de continuar a vidinha que tinham como se nada se tivesse passado, nem troika, nem ajustamento, nem princípio de banca rota, nem nada, o que para os outros foi vida perdida para eles foi apenas um stanby, e prometer e ameaçar um ano desgraçado aos filhos dos contribuintes que lhes pagam o salário.
Enquanto esperamos todos o Presidente, comentador e explicador, explicar e comentar por que cargas de água é que os portugueses, todos, que desde os idos de Sócras até ao fim dos anos da troika e do Governo da direita radical viram as carreiras congeladas e que depois disso não progridem só porque sim, que conheceram o desemprego e a emigração, que tiveram salários em atraso, apoios sociais cortados e sobretaxas em cima do pouco que recebiam, enquanto aguentavam os filhos na escola e na universidade e pagavam por fora explicações, sem recibo para o IRS, aos professores, tadinhos, que trabalham 25 horas por dia que ser professor não é ir só uma mão de horas à escola nem estar ao dia útil e em horário de trabalho na praia a postar fotos no Facebook do quão bom está o mar, vão ter eles de pagar os 9A 4M e 2D na badge ao peito do comissário Nogueira enquanto a vida deles retoma agora como se nada se tivesse passado, como se o hiato não tivesse existido, Rui Rio e Mário Nogueira, a mesma luta, vão explicar como é que a solução boa é a das ilhas, uma vez o dinheiro vai daqui, de "Cuba", para as ilhas, com os resultados que se conhecem que não é por Alberto soba Jardim se ter ido embora que a coisa mudou de figura, de onde é que vem o dinheiro para aqui para aguentar a solução ilhéu.
Se a remodelação abafou o Orçamento do Estado e o Orçamento do Estado já tinha abafado a demissão do ministro e a se amanhã há mais e a generalidade dos analistas e comentadores é unânime na avaliação a Marta Temido como a tentativa de acalmar a contestação e encontrar soluções, a manutenção de Tiago Brandão Rodrigues na Educação significa que a confrontação com a Fenprof é para levar até ao dia das eleições quando, pela primeira vez, começa a ser visível a hostilidade dos transeuntes no passeio, manifestada verbalmente às manifs dos profs que passam na avenida e que começam a perder a opinião pública?
[Imagem "Joseph Beuys, Portrait of the artist" by Robert Lebeck 1978]
Ver o senhor Silva da UGT, que assinou de cruz concertações sociais, sempre em prol da rigidez patronal, a mando do senhor Saraiva da CIP com o beneplácito e o amém da direita radical PSD/ CDS, invocar a "esquerda" e um "Governo de esquerda" e "um Governo PS" para surfar a onda reivindicativa dos professores.
Nem o PCP faz o trabalho que a oposição – PSD e CDS, não sabem fazer; Nem o Bloco de Esquerda faz o trabalho que a oposição – PSD e o CDS, não sabem fazer; Nem na Fenprof e no comissário Nogueira já se pode confiar para esse efeito.
- Um bando de palermas, acoitados debaixo de uma bandeira e de uma sigla política, porque têm uma vaga lembrança de umas bocas ouvidas da boca dos mais velhos, resolve comparar Mário Nogueira da Fenprof a Estaline, demonstrando desta forma a sua ignorância e a sua falta de cultura porque, se soubessem um mínimo dos mínimos sobre a história da Europa do século XX e sobre quem foi o 'Pai dos Povos', nem sequer pensavam duas vezes antes de chamar Estaline a alguém, não chamavam, ponto final. Os infantes da direita radical, escudeiros do estudioso de Salazar, têm dois defeitos: são burros e não querem aprender.
Por falar em "pulhas", ainda sou do tempo dos briosos deputados PSD, na rotunda do Marquês a aplaudir e cumprimentar Mário Nogueira, o líder responsável, na descida da Avenida com um ror de profs e afins atrás de si. Mas, como entre os presentes, não consta ter havido alguma "reacção vagal", já [quase] ninguém se lembra disso.
Verdadeiramente surpreendente, neste Dia da Raça do Ano da Graça de 2014, é o comissário Nogueira não ter estado entre os comendados e medalhados, pelo camarada conivente do Governo na cadeira presidencial, por altos serviços prestados à causa da destruição da escola pública.