...
[Imagem]
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
[Imagem]
À parte os contactos que só ele tem para lhe passarem informação que só ele sabe sobre coisas que só existem a partir do momento em que saem da sua boca para fora para grande espanto do mundo civilizado e que deve ser a explicação plausível para ter lugar cativo na televisão do militante n.º 1 ou noutra qualquer, Nuno Rogeiro começa por informar o tele-espectador de que Borough Market é ao pé da "casa dos horrores" de Londres, está feito o enquadramento, e que é um mercado "subterrâneo", não é bem subterrâneo, é por "baixo da ponte", tivesse antes de ir para estúdio colocado o cursor noutra direcção no street view e Borough Market era um edifício cheio de luz e debaixo do sol [nas imagens].
A seguir a menina entra em directo por telefone com uma portuguesa em Clapham para elucidar os portugueses sobre o ataque terrorista em Borough Market. Tudo bem não fora Clapham ficar a 9 ou 10 km de distância do "mercado subterrâneo". Desde já me disponibilizo para dar à SIC Notícias os contactos de amigos que tenho em Edgware para eventuais ocorrências em Victoria Station.
Entra em directo a partir do estúdio um rapazito com sotaque brasileiro que explica às pessoas em casa como é a tal da London Bridge com imagens da Tower Bridge enquanto traduz um comunicado da Metropolitan Police com rã para Run e Heidi para Hide e mais não ouvi que rebentou tudo a gargalhar à minha volta.
A noite segue a bom ritmo com Nuno Rogeiro a defender que cada cidadão deve utilizar o seu telemóvel como arma no combate ao terrorismo, informando a polícia das movimentações dos jihadis, tipo foram por ali, um cidadão, e outro cidadão foram por acolá, e ainda mais outro que aponta outra direcção, a polícia à nora, um polícia para cada dedo apontado e uma alínea, a) excepto os terroristas, esses não podem usar o seu telemóvel de cidadão para desinformar a polícia.
Estávamos nisto quando chega uma nota da Metropolitan Police a apelar aos cidadãos para não usarem os telemóveis na zona dos ataques e o Rogeiro que sim senhor, muito bem, a polícia precisa de triangular chamadas para localizar as posições e as tocas dos terroristas, é uma técnica não muito conhecida do pagode, e lá foi a teoria do telemóvel cidadão por água abaixo em questão de minutos e sem pestanejar.
Chegado aqui não aguentei mais tamanha carrada de imbecilidades e fui-me deitar.
Fechem os estúdios e deitem a chave ao rio.
E já não é a primeira vez, e provavelmente [e infelizmente] não será a última, que os barbudos fundamentalistas censores do metropolitano da capital da mais velha Democracia da Europa nos brindam com estas decisões:
«Lou Reed and Metallica's 'Lulu' poster banned by London Underground»
Os motins de Salisbury Place em 1391, de Bawdy House em 1668, de Spitalfield em 1769, os Old Price em 1809 e, mais recentemente, os motins de de Cable Street em 1936, de Notting Hill em 1958 ou de Red Lion Square em 1974, todos eles convocados com recurso ao BlackBerry, Twitter e Facebook.
É nas ocasiões que se distinguem os homens com agá grande dos vermes, os democratas dos totalitaristas.
(Na imagem cartaz chinês de propaganda)
Mais [muito mais] perigosos que os velhos fascistas, são os novos fascistas escondidos atrás da retórica anti-capitalista e anti-globalização.
And therefore think him as a serpent's egg
Which hatch'd, would, as his kind grow mischievous;
(Imagem)
Ouvido no autocarro: «Tanta energia desperdiçada a roubar lojas lá em Londres quando podiam estar todos a trabalhar nas agências financeiras».
Toca a apagar postas na bloga, apdeites no tuita e no feiçe buque no gugle mais, e a rasgar páginas de artigos de opinião nos jornais: também há brancos e loiros e ruivos nas pilhagens de Londres.
(Na imagem The 1995 Brixton Riot, cronologia via)
Só para os mais distraídos: at least desde os anos 50 do século passado que, volta e meia e pelas mais variadas razões, acontecem motins nos bairros de Londres e de outras cidades inglesas [façam-se jeitosos e pesquisem que para lições de História está aí o Abrupto na coluna dos links]. Faz parte da dinâmica. Do crescimento. Do choque. Cultural. Civilizacional. Da luta de classes. Do “elevador social” que nunca sai da subcave [à atenção de Paulo Portas]. E dessas coisas todas que é bonito dizer-se nestas alturas e que amanhã já ninguém se lembra.
Podem portanto continuar a levar a vidinha que no pasa nada. Ou, como diria o “outro” "The Revolution Will Not Be Televised" (para grande desgosto dos escribas do 5 Dias).
(*) Panic in the streets of London.
(Na imagem capa de Black Martket dos The Clash com base na foto de Don Letts @ Notting Hill Carnival Riots , 1976
John "Hoppy" Hopkins, fotógrafo britânico, jornalista, investigador e activista político, figura influente no movimento underground britânico na Londres dos anos 60.