"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Não foi um bando de cabeças rapadas, e em tronco nu para mostrar o corpo coberto de tattoos de bulldogs e cruzes de S. Jorge, quem passou o testemunho de London 2012 para Rio 2016, a um mulato varredor de rua de uma calçada portuguesa no chão do Wembley, enquanto iam apalpando as raparigas que apanhavam pela frente e destruindo as esplanadas dos bares e restaurantes, pois não?
Os alemães são racistas, os austríacos ainda mais, os franceses são xenófobos e a Inglaterra é aquele sítio onde há julgamentos, enquanto o Diabo esfrega um olho, por piadas racistas. Muito feio.
No evento que mediatiza, até à potência máxima, a Tocha Olímpica para a aldeia global, invenção de Carl Diem, presidente do Comité Organizador dos Jogos Olímpicos de Berlim nomeado pelo ministro de Hitler para o desporto, Hans von und Tschammer Osten e, posteriormente, secretário para os assuntos internacionais do ministério do Desporto nacional-socialista, um assunto do coração transforma-se num "caso político"? Há aqui qualquer coisa que me escapa…
Ver a bandeira do 'bife' National Health Service ser erguida, com indisfarçável orgulho, para a aldeia global, quando só os mínimos olímpicos da prestação de cuidados atinge, comparativamente com o nosso Serviço Nacional de Saúde, recordista e medalha de ouro. O ministro Paulo Macedo em treinos intensivos para a destruição de um campeão, sob o olhar cúmplice e os apluasos do Presidente Cavaco Silva nas bancadas do Wembley. Ainda não chegámos à América, dizem.
Espectacularidade à parte, que houve, que era isso que o povo queria, da sociedade agrária à revolução industrial, e depois, mind the gap, um salto à Mike Powell no tempo e pop music, pop music, pop music, mais pop music, e outra vez pop music. E um mini. Que bem vistas as coisas também é pop music. Está bem que houve um cheirinho de Pistols, com Pretty Vacant a lembrar uma outra revolução, mas para isso era preciso recordar Thatcher e isto são os Jogos 'apolíticos' Olímpicos e ainda nem passaram 200 anos como nas misérias [d]escritas por Dickens. E também imigração e multiculturalismo, que já não é diferença, é imagem de marca e mainstream, basta fazer Oxford Street a uma qualquer hora do dia. É muito. É muito pouco. Do que a Inglaterra tem para oferecer ao mundo nos alvores do século XXI está o mundo de barriga cheia. O sol põe-se a uma velocidade vertiginosa na capital do Império do outro lado do canal.