"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Terminaram os campeonatos de andebol, basquete, vólei, hóquei e futsal. O rally de Portugal não se realiza. O pontapé na bola vai continuar a partir do sítio onde tinha ficado parado. A seguir o The New York Times vai fazer uma correcção ao artigo e pedir desculpas aos leitores porque afinal não é o Benfica, o futebol em Portugal é que é um Estado dentro do Estado com o[s] Governo[s] refém[éns].
Adenda: Parece que tradicional cumprimento entre capitães de equipa e equipa de arbitragem antes do jogo não vai ser permitido por causa das boas regras de higiene preventiva e do distanciamento social. E as tradicionais molhadas nos livres e nos cantos e a carga de ombro e entrada de carrinho e o beber da mesma garrafa e despejar a água que sobra cabeça abaixo nas interrupções do jogo também? Alguém ainda leva a sério a palhaçada em que se transformou o futebol português
Bandeira do clube visitante a meia haste ou de cabeça para baixo, balneário do clube visitante regado a creolina, luzes apagadas e sistema de rega activado, guardas Abeis nos túneis e Paulinhos Santos a distribuir sarrafada a meio campo? Têm de ser imputadas responsabilidades, têm de rolar cabeças, o Benfica é um cube magnânimo, de dimensão universal e com paredes de vidro, o Benfica é O Clube, o clube do povo e o povo é genuíno não é manhoso. O Benfica não é isto, o Benfica não pode ser isto, o Benfica não pode nivelar por baixo quando o caminho é, sempre foi, elevar a fasquia e não é travestir a instituição de clube de bairro e com truques sicilianos.
Nos anos de ouro do “triunvirato Pintista” (Adriano, Lourenço & da Costa), quando a Federação Portuguesa de Futebol era joguete nas mãos das Associações Distritais de Aveiro, Porto e Braga por via do poder de voto adquirido na base de quantos mais clubes nos principais escalões do pontapé na bola, mais votos nas assembleias-gerais, e que foi a “base de trabalho” dos sucessivos alargamentos de divisão, de forma a que por cada clube da zona Norte que descesse – ou por cada clube da zona Sul que subisse – de divisão, pudessem entrar dois satélites do FC Porto, assim se construindo a tão propalada “hegemonia” no futebol, nunca destasbocas se ouviu uma palavra de indignação.
Se calhar é porque não havia blogues (nem Twitter) …
O partido que forneceu os incompetentes para as presidências da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portuguesa de Futebol Profissional tem lá mais boys em standby à espera do job.
Desde que o senhor Jorge Nuno deu em falar com os mortos os Andrades nunca mais foram ninguém na vida. Agora é esperar por Ratzinger em Portugal e propor a beatificação de Pedroto para ver se as coisas entram nos eixos (lagarto, lagarto!).
Campeão das primeiras páginas e das vendas de jornais na pré-época, e gerando uma maré vermelha do Minho a Timor e Ilhas Adjacentes, o Benfica entra a perder no campeonato.
O Benfica podia viver sem isto? Podia, mas não era a mesma coisa.
(Na imagem a primeira equipa fotografada do Sport Lisboa)
Não consigo perceber os motivos para tanta indignação e revolta. Este futeboleco da treta é o reflexo do país político desde pelo menos os anos de 1977/ 1978.
Veja-se quem esteve e está à frente das Associações de Futebol e da Federação Portuguesa de Futebol, e muito mais tarde da Liga; quem esteve e está à frente dos clubes; quem esteve e está à frente das Câmaras Municipais e simultaneamente acumula funções directivas nos clubes ou transita de uns para outros como quem vai de fim-de-semana ao Algarve. Até os paineleiros, vulgo comentadores, dos programas desportivos.
Entre deputados, ex-deputados e futuros deputados; ex-ministros e ex-secretários de Estado e futuros ministros e futuros secretários de Estado, exactamente os mesmos que gerem os destinos do país desde há 30 anos a esta parte e a que se convencionou chamar de Bloco Central.
Só fica surpreendido com este estudo, quem nunca viu jogos da liga espanhola; dito de outra forma, só quem nunca viu jogos do campeonato português pode ficar surpreendido com este estudo.
Aqueles que das espanholas, a imagem que têm é a das super-produções fashion / cosméticas para o desfile nocturno na Plaza Mayor, no Paseo Marítimo ou nas incursões à Danceteria, são os que ficam surpreendidos com este estudo; dito de outra forma, só quem nunca viu as espanholas na praia e na piscina do hotel pode ficar surpreendido com este estudo.
Já sem surpresa é a reacção de choro. Se exceptuarmos, e esta época, os adeptos do Porto e dos Vitórias – Setúbal e Guimarães – podemos desde já começar a construir os transvazes; aliás uma medida muito espanhola.
O que o estudo não nos diz é se os espanhóis também choram; pelas razões inversas… Ou como dizia “o outro”: “Temos de viver com aquilo que temos”…