"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
«A nossa Justiça tem de ser mais rápida. Precisará de relógio? Não, precisa de cronómetro! Um exemplo de ontem: foi adiado o julgamento em que Carolina Salgado é acusada do crime de "fogo posto" nos escritórios de Pinto da Costa e de Lourenço Pinto. A razão é de Estado: os queixosos não compareceram em tribunal "por causa do jogo" do FC Porto em Kiev.
No entanto, o voo que transportou a comitiva portista para a Ucrânia saiu com 30 minutos de atraso porque Pinto da Costa se esqueceu do passaporte em casa. É aqui que entra o cronómetro. Se a nossa Justiça fosse um bólide, o julgamento tinha-se realizado naquela meia hora de impasse e em pleno aeroporto. É que estavam lá todos. E sem nada que fazer.»
“Aproximou-se a meia-noite e o País dividiu-se segundo as suas classes sociais: ou mandam SMS ou desatam aos tiros. Nos bairros pobres está instituído um modo de celebrar. É à pistola. Mal soam as doze badaladas, o pessoal pega nas armas, chega-se à janela e atira para o ar.
Com a tradicional falta de pontaria portuguesa, houve duas vítimas de balas perdidas. “Isto não é o Faroeste”, veio sentenciar um autarca de Gaia, onde o sangue correu.
Os ricos, os rancheiros, os políticos e o xerife da lei antitabaco passaram a noite no Casino. O xerife de cigarro na boca, para mostrar que a lei é para os outros. Olhem bem para o mapa da Europa. Isto não é o Faroeste? Ai não que não é.”
“Há uma preocupação nacional com aquilo que os estrangeiros dizem de nós. Não deve haver outro povo que dê tamanho valor à opinião dos ‘gringos’. Será, talvez um resquício da antiquíssima grandeza do País, dos tempos das navegações e do império comercial. Já lá vão séculos. E, findo o esplendor, ficou apenas a vaidade de meter, aos de fora, respeito e admiração. Por isso os turistas dizem que os portugueses são ‘gentis’, não sonhando sequer como, entre nativos, as coisas não se passam assim. É a necessidade de impressionar forasteiros para que não falem mal de nós. Porque para dizer mal de nós, estamos cá nós. Ontem, ouvi, na rua, uma senhora a dizer que não aguentava “as notícias sobre a menina inglesa”, pelo dó que lhe causavam, e acrescentar que só via “as notícias dadas pelos ingleses” para ver “o que eles dizem de nós”. Alguém que explique isto, por favor.