"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Leitão Amaro apareceu na televisão para nos dizer, com cara de Leitão Amaro, que com o Governo PS a imigração aumentou de 4% para 15% e que neste momento são já 1.600.000, coisa nunca vista, uma rebaldaria, uma irresponsabilidade socialista a que este Governo pôs termo. Isto mesmo depois dos patrões dizerem que ainda são precisos mais 100 mil para suprir as necessidades. Ufano, a pensar que toda a gente o escuta com ouvidos de eleitor do partido da taberna, Leitão Amaro, que apesar da cara de Leitão Amaro não é burro, remata que com o fim da "manifestação de interesse" houve uma quebra de 59% na entrada de imigrantes em Portugal, agora é que é, ordem na casa, e diz isto a saber que os 59% estão cá, continuam a vir, ficaram em quebra mas aos olhos dos cidadãos e das reportagens que abriam os telejornais com as filas intermináveis nas portas dos serviços para legalização. Não são vistos não existem. Mas existem, agora mais vulneráveis, sem direitos, sem protecção social, às mãos de empregadores sem escrúpulos. Manhosos todos os dias, os empregadores e o Leitão Amaro.
Depois de um governo viabilizado, de um Orçamento do Estado aprovado, de duas moções de censura chumbadas, Leitão Amaro admite que PSD pode não viabilizar um governo minoritário do PS porque "o PS deitou o Governo abaixo", numa moção de confiança-fuga para a frente como forma de Luís Montenegro escapar ao escrutínio de uma comissão parlamentar de inquérito e procurar legitimidade eleitoral para as cada vez mais trafulhices do foro da ética. É o que acontece quando a esquerda se demite de ser esquerda a toque de uma alegada estabilidade política ou do "sentido de Estado". Já tinha acontecido quando o PS meteu Carlos Costa no Banco de Portugal, quando o PS meteu Marcelo num segundo mandato na Presidência, quando o PS saudou a nomeação de Lucília Gago para Procuradora-geral da República, quando o PS meteu Aguiar-Branco como segunda figura do Estado. De repente tudo se resume ao "critério da reciprocidade". Casos que à esquerda são automaticamente corrupção, compadrio, nepotismo e o diabo a quatro, e à direita perseguição política e argumentum ad hominem. Veja-se Luís Montenegro, veja-se Marine Le Pen, o que disseram antes, o que dizem durante e depois.
Luís Montenegro, primeiro-ministro sem saber ler nem escrever, que até há coisa de um ano o único contributo para a cousa pública tinha sido desempenhar o papel de "ponto" de Passos Coelho e, como o profissional que fica dentro de uma caixa na boca do palco e dá as dicas aos actores quando se esquecem das falas, profissionalmente dava as dicas pré-acordadas com o primeiro-ministro para este poder discorrer longamente quão boa e maravilhosa era a sua governação, ao invés da oposição que o confrontava com questões incómodas, continua na boca de palco, escondido no guião pré-estabelecido, captado pela lente do fotojornalista da Agência Lusa Manuel de Almeida. Está politicamente morto e ninguém no partido tem coragem de lhe dizer.
«Bom dia, minha senhora... Tem um minuto? Pertencemos à A Igreja de Todos os Santos do Último Resgate. Já sabe que a economia portuguesa está prestes a colapsar?»