"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Um terrorista-bombista não foi eleito vice-presidente do Parlamento e o taberneiro teve um choque de frente com a realidade e com a democracia, uma deslealdade para com o segundo partido, disse ele, depois de na legislatura anterior toda a sua bancada se ter literalmente cagado para a lealdade e boicotado a eleição do presidente do Parlamento, deputado oriundo da bancada maioritária. E depois foi comovente ver um bronco saído da série interminável produzida pelas jotas partidárias, alçado líder de grupo parlamentar, bem sucedido na vida à pala do cartão do partido, ao telefone com o taberneiro a alinhavarem acertos de contas com o voto privado dos deputados das respectivas bancadas. E ainda mais comovente foi ver a segunda figura da hierarquia do Estado, eleita inter pares, a explicar-se na bancada do partido da taberna no fim do plenário, depois de na anterior legislatura ter sido enxovalho, na eleição e na legislatura, pelos apóstolos do taberneiro.
Alguém devia, não digo avisar, mas ensinar, não o taberneiro, que esse sabe perfeitamente o que diz e não precisa de ensinamentos, mas os alegados jornalistas, que não há "líder da oposição" coisíssima nenhuma, quanto muito há o líder do maior partido na oposição. Isto não é tudo farinha do mesmo saco, mesmo havendo um escritor de livros a metro na apresentação do telejornal da televisão pública que de todas as vezes que se refere à esquerda à esquerda do PS usar "partidos da área socialista". Se não há misturas à esquerda ainda muito menos as há à direita extrema e à extrema direita. Como diria o outro, área socialista é a tua tia, pá!
Dez dias depois da contagem dos votos o segundo partido mais votado nas legislativas reserva uma sala num hotel da capital para celebrar o segundo lugar conquistado dez dias antes e o país mediático pára com directos, discurso do chefe, comentários, aplausos, apartes, aplausos, apupos, comentários, ameaças nas entrelinhas, aplausos, mais comentários e mais apartes e mais ameaças nas entrelinhas e mais aplausos. As pessoas gozavam que o PCP nunca perdia eleições quando o PCP não sabia era ganhar eleições.
Dia 28 de Maio. Belo dia para anunciar a vitória do partido da taberna no círculo da imigração. Ele há coisas do caralho... Pena Gérald Bloncourt já não ser vivo.
E se o partido da taberna limpar os quatro deputados pelo círculo da imigração a animação que vai nas hostes do PSD, da IL, e daquele partido que não existe, o CDS, dos oficiais aos oficiosos com lugar cativo nos media, até aos minions de plantão às redes, é para continuar ou vão finalmente perceber o que está a acontecer? Tenho uma vaga ideia de Martin Niemöller ter escrito qualquer coisa sobre isto...
A RTP foi em reportagem até a Beringel, terra natal da emigrante portuguesa mais famosa de sempre - Linda de Suza, e que votou maioritariamente no partido da taberna por não gostar de... imigrantes. Há por lá muitos, trabalham no campo, têm lojas, e não passam facturas como todo o bom português que se preze, foram rapidamente aculturados. E a RTP que foi em reportagem a Beringel não sabia que Beringel tinha dado Linda de Suza ao mundo, e assim a ignorância do alegado jornalista não pôde desmontar a ignorância do beringelense anónimo que no segredo da cabine de voto é finalmente o racista e o xenófobo que jura a pés juntos não ser, pode livremente transpirar o medo do outro, do diferente, rever-se no que o taberneiro grita nas televisões e que os seus olhos desmentem todos os dias quando sai à rua.
Sei de muito "português[a] de bem" que foi ver Nininho Vaz Maia num Pavilhão Atlântico completamente à pinha e semanas depois estava a fazer a cruz no boletim de voto no quadrado do partido da taberna, queiram ou não queiram os apóstolos do taberneiro. E se calhar este é um bom ponto de partida para perceber o fenómeno ao invés das centenas de análises do blah-blah-blah assentes no "vejamos", no "ramente" [realmente], e no "há liaz", que por estes dias poluem os órgãos de comunicação social. Até porque quando os ciganos forem todos trabalhar, os imigrantes todos para a terra deles, há-de haver sempre o partido da taberna para mandar os portugueses trabalhar.
Vejam e revejam todo o gesticular, o movimento das mãos, o movimento da cabeça conjugado com o semicerrar de olhos, e pensem quem foi o personagem de quem o taberneiro copiou a mímica e treinou frente ao espelho [a partir do minuto 12:50].
Parece que o problema é o PS português poder ficar igual ao PS francês ou ao PS grego, é mas não é. O problema são dois terços de maioria parlamentar divididos entre direita alegadamente democrática, extrema-direita e ilusionistas liberais, e uma série de coisas que podem ser feitas com uma maioria desta dimensão, tais como: rever a Constituição, mexer na lei da Greve, privatizar a Segurança Social, privatizar o Serviço Nacional de Saúde, privatizar a escola pública, mexer na Lei de Imprensa, acabar com o serviço público de rádio e televisão; reverter a lei da interrupção voluntária da gravidez, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, da adopção, nomear juízes para o Tribunal Constitucional, e mais uma série de coisas iguais que já vimos noutras latitudes, como por exemplo na Hungria do camarada Orbán, amigo do peito e em tempos elogiado por alguns dos actuais dirigentes deste PSD. Recorrendo novamente à pop/ rock, como cantava Timbuk 3 nos 80s, "the future's so bright, i gotta wear shades".
Estava David Dinis, director adjunto do jornal do militante n.º 1, na televisão do militante n.º 1 a falar sobre o circo mediático em volta da macacoa dada ao chefe do partido da taberna, a apelar ao sentido de responsabilidade das televisões, e é bruscamente interrompido para uma ida em directo até à porta do hospital público onde o taberneiro estava acamado, para dar continuidade ao folhetim. O uso da televisão ansiosa por ser usada.
"Dos fracos não reza a história" cantavam os Heróis do Mar em Brava Dança dos Heróis, ainda o taberneiro não era nascido, num disco todo ele a evocar a estética mui cara às hordas de energúmenos que se revêem nos 50 xungas com assento parlamentar. Aparentemente deixou de funcionar, o "herói" agora é um piegas, um calimero lamechas, constantemente a apelar ao sentimento e à compaixão.
[Na imagem o homónimo primeiro LP dos Heróis do Mar]
O Serviço Nacional de Saúde tem de passar a ser assumido como um sistema que integra todos os cuidados de saúde instalados no país e, portanto, incluindo a oferta privada
Alegadamente sentiu-se mal ontem, foi para o Hospital de Faro, público. Alegadamente sentiu-se mal hoje, primeiro foi para o Centro de Saúde de Odemira, público, de seguida para o Hospital de Santiago do Cacém, público. Vai fazer cateterismo no hospital de Setúbal, público [actualização].
E de repente Gouveia e Melo invade a campanha eleitoral para anunciar o que toda a gente já sabia. "Falta de noção". "O que é que lhe passou pela cabeça?". "Respeito". "Não podia esperar mais uma semana?". Jornais, rádios, televisões, a unanimidade nos reparos. Serviu para deixarmos todos de ver e ouvir os intermináveis directos com a encenação do taberneiro com tratamento vip no Serviço Nacional de Saúde. Os mesmos que andaram com ele ao colo até ao número 50 não resistiram, é mais forte que eles. Fomos salvos pelo anúncio do almirante, essa é que é essa. E essa é que é essa que o almirante se vai valer desta acefalia dos media.
Em 2021 tentaram matá-lo em Setúbal com uma caixa de pastilhas elásticas, em 2024 foi alvo de atentado com rateres de uma moto em Famalicão, em 2025 caiu varado no palco sem sequer ter dito "Deus me castigue se estou a mentir!". Foi em Tavira, mas foi a 13 de Maio. "Foi Deus que lhe atribuiu a missão de mudar Portugal". Como se escreve nas redes #ChupaMontenegro. Menos sorte teve Bolsonaro, que levou uma facada no estômago, sem sangue, a 6 de Setembro, dia de Santa Begga de Landen, fundadora da Ordem das Beguinas, que significa murmurar, falar pouco, em alusão aos hábitos de prece em voz baixa que mantinham. Nitidamente fora do rosário do taberneiro.