"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
E o que é que a produtividade tem a ver com legislação, perguntamos todos mui espantados? Menos protecção ao trabalho, facilitar e embaratecer o despedimento, menos prestações sociais, no valor a pagar e na duração temporal, o modelo ensaiado pelo Governo da troika, o do "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer", exactamente o oposto da "fórmula IKEA".
Uma legislação laboral que nunca impediu e afastou o investimento estrangeiro, antes pelo contrário; uma legislação laboral que não impediu o nascimento, crescimento e engorda de grandes grupos económicos dentro de portas; uma legislação laboral que não impediu os ricos de ficarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres; uma legislação laboral que até permite ao patrão menos qualificações académicas e laborais que as de quem emprega; uma legislação laboral que continua a fazer com que o pior trabalhador nativo seja o melhor e mais produtivo do mundo na emigração em França, Alemanha, Inglaterra, etc. . A ganância do ser humano é uma coisa sem limites.
E da próxima vez a UGT e o Torres Couto ou o João Proença que estiverem mais à mão assinam, a troco de outra coisa qualquer que não o combate à corrupção ou o feriado do 5 de Outubro, que isso já foi ultrapassado e atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir.
Quando se diz que Portugal tem uma legislação laboral rígida é isto que se que está em causa: o trabalhador rescinde o contrato de trabalho com a entidade patronal por comum acordo e recebe a indemnização prevista na Lei, no mínimo um mês de salário por cada ano de trabalho. Se a proclamada rigidez deixar de existir, é despedido com uma mão à frente e outra atrás, e deve dar graças ao Criador por ter havido um "benemérito" empregador que lhe deu trabalho durante xis meses ou anos. Ponto final.
(Na imagem Dayton, Ohio, circa 1902, Lock and drill department, via National Cash Register Detroit Publishing Company)
E por muito que custe aos sindicatos e, principalmente, por muito que custe aos bons, leia-se os profissionais e cumpridores, no país em que no day after à passagem à condição de “trabalhador efectivo” começa a metamorfose daquele que era, até então, o melhor trabalhador do mundo, com a baixa produtividade, as faltas injustificadas, os atrasos constantes, as saídas de meia hora, de meia em meia hora para café e cigarro, as baixas médicas, era fácil de prever…
Quem boca cama fizer nela se há-de deitar; vox populi.