"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A verdade é que já lá vai meia semana e nem sombras de Hugos Soares ou de Duartes Marques ou de Leitões Amaros ou de Duartes Pachecos ou de Fernandos Negrões [do querido líder não é de esperar porque já lá vai e o Montenegro sabe muito para andar a expor a moleirinha ao sol] ou de Assunções Cristas ou de Nunos Magalhães ou de Nunos Melos ou de Joões Almeidas ou de cecíliasMeireles, cada um por si ou todos por atacado, todos os dias a todas as horas certas nas televisões e nas rádios, secundados por uma troupe de apóstolos, aios e escudeiros, legionários de plantão às "redes", de dedo em riste apontado ao desinvestimento socialista-geringonço na saúde, causa do surto de legionella num hospital privado, do bem-amado grupo Mello. E nem sequer nenhum encartado de jornalista se lembrou ainda de lhes perguntar a que se deve este súbito eclipse.
No telejornal da SIC Notícias de 8 de Novembro, no frente-a-frente com Mariana Mortágua do Bloco de Esquerda, o deputado do PSD António Leitão Amaro, afirma, sem pestanejar e sem se rir, que o anterior Governo [PSD/ CDS] proibiu a legionella por decreto.
Que o Web Summit, de evento que ia colocar Portugal no "topo do mundo tecnológico", de "mudança estrutural fundamental", de grande vitória da "diplomacia económica" de Paulo Portas e de Leonardo Mathias, de Miguel Frasquilho à frente do AICEP, do grande empurrão à hotelaria e turismo, da projecção de Portugal e Lisboa na aldeia global, para histeria sem precedentes num pavilhão em Lisboa, o nacional-parolismo com os socialistas na primeira fila.
Que em 2014 o surto de legionella em Vila Franca de Xira não tinha nada a ver com a revogação pelo Governo PSD/ CDS no ano anterior da Lei da verificação obrigatória da qualidade do ar em edifícios públicos, verdadeira "gordura do Estado", que bastava cumprir as normas, e daí o chumbar do projecto de resolução apresentado pelo Bloco de Esquerda para reintroduzir as normas revogadas, para em 2016 ser importante saber se as normas estão a ser cumpridas, que o ministro da Saúde deve uma palavra aos portugueses, que o Governo socialista ainda não repôs a norma revogada pelo Governo PSD/ CDS e cuja reintrodução proposta pelo Bloco de Esquerda foi chumbada no Parlamento pelas bancadas do PSD e CDS, reintroduzida em 2016 com os votos contra do PSD e do CDS.
As coisas que a gente aprende no Twitter da direita radical, a desonestidade, intelectual e política, ou como a direita radical quando não tem mais nada em que morder morde nos seus.
O ministro do Ambiente, que até percebe da poda e é medalhado e tudo, a sacudir a água do pacote do Governo que eliminou auditorias obrigatórias à qualidade do ar interior, num retrocesso em relação a tudo o que se tinha feito até à data e numa cedência ao lobby do "por cima de toda a folha" em prol da mais-valia do patrão e dos accionistas, e a anunciar uma inspecção à empresa Adubos de Portugal, a decorrer "nas próximas horas" e que servirá para averiguar um "eventual crime ambiental por libertação de microrganismos para o meio ambiente". Quem é que é o criminoso, aqui, no admirável mundo do liberalismo de pacotilha?