"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Foi preciso chegar uma pandemia para a Segurança Social libertar os hospitais dos casos sociais, transferindo acamados para lares, minas da Covid-19, de forma a desocupar camas que fazem falta nos hospitais para atender aos provenientes dos lares, focos da Covid-19. É isto, não é?
O foco de Covid 19 no lar Nossa Senhora do Pranto, em Salto, Montalegre, terá tido origem numa excursão a Fátima. Como diz a direita radical de plantão às "redes", "é o efeito Festa do Avante!".
Entretanto Marques Mendes, na homilia semanal na televisão do militante n.º 1, diz que o PCP vai aprovar o Orçamento do Estado, até porque deve favores ao Governo que facilitou os comunistas com a Festa do Avante! E, caso o voto favorável, ou a abstenção dos comunistas falhe, pode sempre contar com o voto da Igreja Católica e o Orçamento já está no papo. podia ter acrescentado.
Quando nos idos do governo da troika Pedro passos Coelho meteu o camarada PSD Marco António Costa como secretário de Estado para ter o CDS Pedro Mota Soares debaixo de olho no ministério da Solidariedade e da Segurança Social e a principal preocupação do alegado "big mac" eram as "exigências e regras que o Estado impõe hoje que são exageradas e que podem ser de alguma forma diminuídas no sentido de baixar os custos de funcionamento destas instituições" que depois se traduziram num relaxamento e na permissão dada às IPSS e Misericórdias para aumentarem a capacidade de depósito de velhos, por exemplo, lar que com "as exageradas exigências e regras impostas pelo Estado" só podia receber 100 passou a receber 120 ou 130, todos muito aconchegadinhos por causa do frio, o famoso "fazer mais com menos" sempre na boca do chefe pantomineiro do pin, ninguém se preocupou com a degradação das condições nem com o problema que agora são os lares de idosos. Nem a Cavaca dos enfermeiros, nem o auditor bastonário da Ordem dos Médicos, nem o presidente do Sindicato Independente [sic e lol] dos Médicos, ex deputado do PSD, que só convoca greves e protestos da classe quando o partido está na oposição, nem a falta de memória dos jornalistas avençados nem do jornalixo do tugão.
Entre dezenas de lares com dezenas de mortos desde o início da crise Covid 19 a comunicação social foi pegar no de Reguengos.
Com participações na Ordem dos Médicos há anos em lista de espera, entre dezenas de lares com dezenas de mortos a Ordem resolveu fazer auditoria ao de Reguengos com resultados na rua em menos de um foguete.
Depois de toda a gente ter andado décadas a fio aos beijinhos e abraços em campanha eleitoral nos lares toda gente descobriu que existe um problema nos lares, lares incluídos.
Quando és apanhado com as calças na mão e tens o gabinete pejado de assessores e adjuntos abanadores de rabo, nascidos dentro do partido, alguns dentro do próprio aparelho do Estado, cuja única experiência profissional é assessorar e adjuvar quando o partido é poder, que trabalham em cima do joelho em função das indignações no Facebook e no Twitter, os famosos "focus group", e que têm uma vaga ideia de ter lido algures e falado não sei onde que o Obama ganhou a eleição nas redes, by the way, o Trump também e o Ventas vai bem lançado, o resultado só pode ser este.
Primeiro o Estado não devia estar presente em áreas como os lares e centros de dias, não fazia sentido, o 3.º sector, a economia social, quem está no terreno e tem relação de proximidade com as pessoas, coise e tal e o caralho, uns anos depois, quando as Misericódias e IPSS, maioritariamente colonizadas por barões do PSD e CDS, e respectivas famílias, entraram em roda livre, o Estado fracassou porque não investiu em lares e centros de dia, porque o Estado se demitiu de fiscalizar e até vamos fazer de conta que não foi o Governo do pantomineiro do pin, também conhecido por Passos Coelho, que alterou a lei por forma a duplicar a capacidade dos depósitos de velhos, um quarto individual passar a acolher duas pessoas, todos arrumadinhos em cima uns dos outros para se aquecerem no inverno que a conta da electricidade está pelas horas da morte. Um esquema todo ele montado para retirar competências ao Estado, nalguns casos até duplicar competências do Estado, mas que quando corre mal e dá para o torto, alijar responsabilidades e sacudir a água do capote para cima do... Estado. Nada de mais, todos conhecemos o modus operandi dos do "menos Estado" e da "iniciativa privada" e da "sociedade civil". A questão é que a barraca cai em cima de um governo do Partido Socialista, de "socialista" entende-se "de esquerda" e, descontando a parte que lhes toca na colonização das Misericórdias e IPSS, o mui famoso "arco da governação", não se percebe porque insistem em carregar a cruz da direita.
Depósitos de velhos, aka lares de idosos, em Inglaterra e no País de Gales, estão a recomendar aos velhos ali depositados que assinem documento de não-reanimação para evitar que as camas dos hospitais fiquem ocupadas por pessoas com menos hipóteses de sobreviver em caso de infecção pelo novo coronavírus.
"We would therefore like to complete a DNACPR form for you which we can share … which will mean that in the event of a sudden deterioration in your condition because [of] Covid infection or disease progression the emergency services will not be called and resuscitation attempts to restart your heart or breathing will not be attempted"
Naquele jeito peculiar de bajular o poder político, seja qual for o partido no Governo, seja qual seja a sua ideologia, o Diário de Notícias lá continua hoje na sua função de rêmora do ministro da Solidariedade e Segurança Social.
A pergunta aqui deixada ontem a Pedro Mota Soares vale também para João Marcelino: excelentíssimo senhor director, punha o excelentíssimo senhor seu pai, ou a excelentíssima senhora sua mãe, num lar destes, num lar com estas condições?
Tudo ficava muito mais claro se perguntassem ao excelentíssimo senhor ministro, não se o senhor, quando atingisse uma provecta idade, ia para um lar destes, um lar nestas condições [mesmo jurando "pelas alminhas" ou "eu seja ceguinho"], não. Mas se o excelentíssimo senhor ministro punha o excelentíssimo senhor seu pai, ou a excelentíssima senhora sua mãe, num lar destes, num lar com estas condições. A resposta seria reveladora da natureza humana.
"as pessoas (utentes) podem auxiliar-se uns aos outros". Porque se calhar vai haver despedimento de trabalhadores dispensa de colaboradores, ou porque os que estão vão trabalhar mais horas para ganhar menos e não vão dar conta do negócio por ser humanamente impossível, por desmotivação, ou por tudo isso e mais alguma coisa? A notícia não diz…