"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O dia em que José Gomes Ferreira, Helena Garrido, João Duque, Cantiga Esteves, Graça Franco, Tiago Caiado Guerreiro, Ricardo Costa, António Costa – o que se diz jornalista, Camilo Lourenço, Bagão Félix, António Lobo Xavier, Medina Carreira, Teresa Caeiro [sim, ela] Luís Montenegro, Hugo Soares, Cecília Meireles, Duarte Marques, Nuno Magalhães, Teresa Leal Coelho [sim, não é engano] João Almeida, Diogo Feio e que perdoem os que ficaram esquecidos, não foram à televisão do militante n.º 1, nem às outras televisões, com grande alarido e pânico patriótico de responsabilidade e "sentido de Estado", explicar a "forte queda dos juros da dívida portuguesa" e a irresponsabilidade da maioria de esquerda e do Orçamento do Estado para o ano de 2016.
A bisca foi primeiramente lançada no sábado passado pelo José que tem um Programa de Governo, na televisão do militante n.º 1, num programa onde ficámos também a saber que o José também tem um Programa de Revisão Constitucional, adiante, no seguimento do princípio defendido por Cavaco Silva em 2011, e que chegou a fazer escola, de que devíamos todos falar muito baixinho para não acordar os mercados. Hoje, o blog da direita com swag, estica-se e já fala em enviados especiais da City a Lisboa e tudo. Não se via nada assim desde que Wellesley veio dar caça a Junot. Mais subtil, a televisão do militante n.º 1 mete em gordas os «Juros da dívida de Portugal a subir a dois, cinco e dez anos» e em miudinhas «alinhados com os da Grécia, Itália e Espanha», para já, três dos países vítimas colaterais da hipotética maioria de esquerda em Portugal e da irresponsabilidade de António Costa, vulgo o regresso dos comunistas ao Governo de onde haviam sido arredados nos idos do camarada Vasco, agora mais raivosos que nunca em busca de uma revanche há 40 anos recalcada.
Que Duarte Marques, escreva, com mais ou menos, vírgulas, uma carta, a pedir, satisfações a Alexis Tsipras, por causa do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, não surpreende, ninguém. Nem sequer é, supresa, que Duartes Marques, sejam eleitos, já que o sistema eleitoral, português, está construído de modo a permitir, estes, prodígios, da política. Surpresa, é, o detaque que o deputado, Duarte Marques, consegue ter, na comunicação social.
O Tribunal Constitucional, por ora, desapareceu como que por artes mágicas e de Mario Draghi já ninguém se lembra. De tão entretidos que andam a gritar "Portugal acima de tudo" ainda se esquecem da letra de "Deutschland, Deutschland über alles" que tão bem entoavam ainda não há muito tempo. Não ter um pingo de vergonha na cara é isto.
* Não ter um pingo de vergonha na cara é isto [Capítulo I]
Uma semana passada sobre o chumbo grosso do Tribunal Constitucional no Orçamento do Estado para 2014 e da chantagem que se lhe seguiu e do "Vêm aí os mercados! Os investidores em fuga! Os juros a disparar! O rating da República a descer! O caos! Os anos de sacrifícios em vão!" vem o PSD, via Twitter, congratular-se com os "Juros a dois anos em mínimos históricos!", com ponto de exclamação e tudo. Depois de três anos a cantar "Deutschland, Deutschland über alles" agora gritam "Acima de tudo Portugal". Não ter um pingo de vergonha na cara é isto.
Depois de liderar, ou de liderar o Governo, ou de o Governo por si liderado em coligação [que isto é complicado, não vá ferir susceptibilidades do ex n.º 3 irrevogavelmente n.º 2] na luta, gloriosa, pela baixa dos juros das obrigações em toda a periferia da zona euro, Pedro Passos Coelho, ou o governo liderado por Pedro Passos Coelho, ou o governo liderado por Pedro Passos Coelho em coligação, a meias, em vaquinha, com Paulo Portas, vê-se impotente contra a ameaça da extrema-esquerda grega, irresponsável-sem-sentido-de-estado-e-estalinista-trotskista-do-reviralho-e-outras-coisa-terminadas-em-ista, e dos irresponsáveis e mal-agradecidos gregos, que inventaram a Democracia e votam neles. It's an injustice!