"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pablo Hasél, rapper catalão, detido para cumprir pena de nove meses de prisão, mais dois anos e três meses se não pagar as multas a que foi condenado por insultos à coroa, às instituições do Estado e apologia do terrorismo, sendo que o tribunal de recurso reconheceu que os crimes por que foi condenado não constituíam qualquer risco para a ordem pública nem incitavam à prática de quaisquer crimes, na figura do rap que compôs e gravou com Juan Carlos, rei emérito de Espanha, como objecto de crítica, e que goza uma merecida reforma dourada nos Emirados Árabes Unidos, paga com o dinheiro dos escândalos de corrupção em que está envolvido.
É mesmo aqui ao lado. A democracia e a liberdade de expressão nunca são um dado adquirido e o Estado de direito é sempre mais direito para um lado.
E quem explicou não foi o presidente do PP que é CDS, em Espanha e em espanholês, ou portunhol, como queiram, em mais um número circense no exercício do cargo de vice-trampolineiro e com um sorriso cínico de superioridade iluminada a pontuar as frases em modo Twitter, imagem de marca, para comentar o terceiro chumbo do Tribunal Constitucional em três anos de Governo PSD/ CDS-PP, numa frase a meter "socialistas", "dinheiro", "a nosotros y a vosotros". Não. Quem o disse foi o presidente do outro PP, o espanhol, e serve de lição para o PP, o português que é CDS e para o PSD, da mesma família e no mesmo aconchego em Bruxelas e que, por cobardia e dissimulação, deu sumiço ao projecto de revisão constitucional encomendado antes de se alçar ao poder:
O que aqui e aqui foi escrito não tem razão de ser.
Juan Carlos tem todo o direito – aliás tinha o dever! – de mandar calar Hugo Chávez; mais que não fosse por uma questão de respeito e boa educação. Haja alguém que diga a Chávez que aquilo era a cimeira Ibero-Americana e não o seu programa semanal na tv onde fala sem se calar quatro ou mais horas seguidas., e onde se dá ao luxo de insultar e vilipendiar quem quer e lhe apetece.
O Rei de Espanha não é nenhum “ungido pelo Criador”; é o Chefe de Estado de uma democracia parlamentar europeia, legitimado por uma Constituição referendada pelo povo espanhol e que consagrou a monarquia parlamentar como sistema político. Ao contráro da constituição portuguesa. Ponto final. Pelo contrário, quem está em vias de se tornar num monarca absoluto é Chávez, pela via das sucessivas alterações à Constituição venezuelana, a acrescentar ao facto de ter sido eleito numas eleições onde concorreu sozinho.
Como já aqui havia sido escrito, não sou monárquico, nem pouco mais ou menos; mas é por via destas coisas, a que somamos mais esta, que a monarquia, nomeadamente a espanhola, vai conquistando pontos na minha consideração.
Apesar de não ter simpatias monárquicas – à parte a bandeira, mas isso será tema de um futuro post –, gradualmente fui ganhando apreço e consideração por determinadas monarquias europeias, principalmente a espanhola, quando ainda puto, num dia de Fevereiro de 1981 vi quase em directo pela televisão, uma tentativa de golpe militar com o objectivo de restaurar o fascismo, e chefiada pelo homem do tricórnio,Tejero Molina, fracassar por intervenção decisiva do Rei Juan Carlos.
“À crescente contestação da monarquia em Espanha, pelo seu carácter antidemocrático, agravado pelo facto Juan Carlos de ter sido designado e preparado por Franco, alia-se à luta anti-imperialista e de classe…” Vindo destas bandas, já nada me surpreende…
“A coroa, símbolo de permanência e unidade da Pátria, não pode tolerar de forma alguma, acções ou atitudes de pessoas que pretendam interromper pela força, o processo democrático que a Constituição votada pelo Povo espanhol, determinou nesse dia através de Referendo”