"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
SPQR nas camisolas da Roma, Senatus Populusque Romanus, Senado e Povo Romano. Romani di Roma, guardatelo positivamente: Adriano è nato a Siviglia. Ab Urbe condita libri, não e é só carregar 2 500 anos de história na parte da frente da maglia.
[Tinha prometido a mim próprio que nunca mais falava de futebol]
Que os espanhóis eram todos uma cambada de racistas e xenófobos, desde que D. Afonso Henriques faltou ao respeito ao avô, e a batalha de Aljubarrota e 1640 e o diabo. Mourinho foi construir defesas costeiras à frente das balizas lá para a west side, Pepe continua um Torre de Hércules na defesa, Coentrão faz o corredor esquerdo a atacar e a defender e ainda centra para golo, depois de fumar um cigarro, Ronaldo continua a derrubar recordes atrás de recordes e é levado ao colo por 85 mil no Santiago Bernabéu. Jornalismo à séria era alguém pedir a opinião de Mourinho sobre o Real de Ancelotti ser sempre no mínimo chapa 3 em cada jogo, com Casillas na baliza e tudo, ganhar a Guardiola, que deixou de ser ajudado pelos homens de preto, e ir a Munique estragar o ditado de que o futebol é não sei o quê mas que no fim ganha a Alemanha. Podia ser mesmo o Nuno Luz, com ataques de asmas e tudo.
José Mourinho começa a sofrer da síndrome do ditador que vê em todos os que o rodeiam potenciais conspiradores e assassinos. Ainda vai acabar com um provador de água de garrafa ao lado no balneário [se entretanto não acabar com o balneário].
Ser campeão europeu de clubes é condição sine qua non para estar presente no ‘Mundialito’. E é por isso que Guardiola está lá com o Barça e não está Mourinho com o Real. Tudo o que disseres pode ser usado contra ti, que é como quem diz, estás a perder qualidades.
O treinador que nunca constrói uma equipa nem monta um sistema de jogo para se impor ao adversário mas sempre em função do que o adversário joga, do futebol mais feio que alguém alguma vez pudesse imaginar ser possível, e que ganha porque é melhor do mundo e arredores [desde que a bola rola sobre os relvados] e que até adivinha os resultados dos jogos, quando perde é porque o campo estava inclinado ou a relva estava molhada ou o árbitro era caseiro ou o calendário não era propício ou a bola era quadrada, ou tudo junto. Este ano foi um mau ano para a fanfarronice.
José Mourinho, que em Inglaterra jogava de 3 em 3 dias, Carnaval, dia de Natal e dia de Ano Novo incluídos, queixa-se em Espanha de que o calendário das competições é apertado. E nada disto é surpreendente. Surpreendente é ao fim de tantos anos ainda haver quem engula o anzol das mind games de José ‘O Melhor do Mundo e Arredores’ Mourinho.
Mourinho no fundo é um empresário português: não investe, não arrisca, não aposta na formação, vive à sombra do Estado, para o caso o clube. Se o Estado, para o caso o clube, fecha a torneira e lhe corta os subsídios e os apoios, para o caso, não lhe dá os jogadores, faz birra, amua e culpa a especulação, para o caso o árbitro, e a conjuntura externa, para o caso os outros clubes, que facilitam a vida ao adversário directo.
Quando não há cão nem gato, leia-se agente político e/ ou económico, que mesmo não percebendo nada de futebol, e quiçá de economia e política, não venha encher a boca - porque é popular e como é popular lhe dá jeito - com a liderança e o sucesso e o exemplo de Mourinho, a lição de Mourinho, em directo para a plateia global, é dada em português e não em portunhol ou em inglês das docas.
(Na imagem a primeira página do trissemanário O Setubalense onde são enaltecidos os “grandes feitos” de Francisco Franco durante a Guerra Civil espanhola)
Que o Real de Madrid vai ganhar tudo e mais alguma coisa na próxima época, acho que restam poucas dúvidas. E que vai jogar feio como breu e apresentar o futebol mais aborrecido e entediante de toda a sua história também poucas dúvidas devem restar. Eu continuo a gostar de jazz. E para mal dos meus pecados até tenho uma simpatia pelo Real…
José Mourinho não gosta de jazz. Não gosta nem percebe a linguagem.
E apesar dos objectivos atingidos e da satisfação dos accionistas com a administração, uma imeeeeensa minoria de ouvintes continua alheada das RFM’s deste mundo. O resto é conversa de "empresário".